Quem é Nelma Kodama, a ‘dama dos doleiros’?

Doleira foi presa por agentes da Polícia Federal em um hotel de luxo em Portugal, por suspeita de lavar dinheiro para o tráfico internacional de drogas

Alvo da Operação Descobrimento, deflagrada nesta terça para combater o tráfico internacional de drogas, a doleira Nelma Kodama, que virou delatora na Lava-Jato, foi presa por agentes da Polícia Federal (PF) em um hotel de luxo em Portugal. Ela foi detida ontem, em Lisboa, no hotel Four Seasons, uma das redes mais luxuosas e caras do mundo. O valor da diária do local é de cerca de R$ 3,3 mil.

Nelma ficou conhecida nacionalmente quando foi presa na Lava-Jato, em 2014. Ela era ex-namorada do principal doleiro da operação, Alberto Youssef. Em 2018, ela chegou a ser alvo de uma investigação por receptação de joias roubadas ao aparecer numa foto com brincos, um anel e pingente de rubis, avaliados em R$ 150 mil. Nessa ação, ela foi alvo de um mandado de prisão preventiva.

A doleira mantém o hábito de ostentar marcas de luxo. Dois dias antes da operação que culminou na sua prisão ontem, em Lisboa, Nelma postou em suas redes uma foto com um chapéu da marca Christian Dior, avaliado em mais de R$ 2 mil. Com a foto, publicou a a mensagem: “Feliz Dior Páscoa”.

A PF suspeita que a doleira operava o esquema de lavagem de dinheiro para o tráfico das drogas. As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador para abastecimento. Após ser inspecionado, foram encontrados cerca de 595 quilos de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.

Amor precoce por dólares

Nelma tem 55 anos, nasceu na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo, e é descendente de japoneses e italianos. Segundo a revista Veja, ela conta que, quando completou 17 anos, fez um intercâmbio nos Estados Unidos e passou a “amar as notas de dólar”.

Filha de uma dentista e um administrador de empresas, formou-se em odontologia e especializou-se em endodontia (especialidade da odontologia que estuda a polpa dentária, seus canais e tecidos, além das doenças que os afligem).

Nelma  chegou a São Paulo aos 27 anos e, segundo Veja, 700 dólares na bolsa. Na capital, alimentava o sonho de ficar rica. Logo viu que o atendimento em consultórios da periferia, sua atividade inicial na cidade, não a levaria aonde queria chegar.

A carreira de doleira começou por intermédio do ex-­noivo, sócio de uma agência de câmbio e turismo em Santo André.  No início de 2000, receoso de trombadas com a Justiça, o noivo foi-se embora para Cuiabá, largando os negócios e Nelma. A então dentista percebeu que a agência poderia ser sua oportunidade de melhorar de vida.

Nelma  assumiu o negócio, montou uma quadrilha e passou a operar uma formidável engenharia de remessas ilegais de dinheiro para o exterior. No auge da atividade, ela e seu time chegaram a movimentar US$ 120 milhões por ano. Para lidar com dinheiro ilegal, Nelma abria e fechava empresas no Brasil e no exterior. Com a atividade, ficou rica. Mas em pouco tempo, seu nome também ganhou as páginas policiais para onde voltou a figurar ontem, depois de ser presa no hotel Four Seasons de Lisboa.