Primavera e Copom: as mudanças de temperatura e sua carteira

O que o Equinócio, que marca o início da Primavera, e a última decisão do Comitê de Política Monetária têm em comum?

No dia 22 de setembro acontece o equinócio da Primavera no hemisfério Sul. Esse é um entre dois dias, no ano, em que a duração do dia e da noite são exatamente a mesma. No dia anterior, 21 de setembro, aconteceu a 249ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Essa foi a única vez em 2022 em que a taxa Selic permaneceu sem alteração.

Há algo em comum aos dois eventos: ambos marcam um final de ciclo.

Acaba o inverno, onde o frio reina e as noites são maiores que os dias. Acaba também a alta dos juros, que indica dificuldade em conter a inflação galopante e reflete em baixo crescimento econômico à frente.
Além dos juros, há um ciclo ainda maior, o econômico, que também pode ser dividido em quatro momentos, assim como as estações do ano:

O inverno da Depressão econômica, quando as economias estagnam, países encolhem, a inflação explode e o desemprego aumenta. A primavera da Expansão, quando a economia começa a apresentar uma recuperação. O Boom econômico do verão, quando otimismo reina e tudo parece brilhante no futuro. E o outono da Recessão, quando o crescimento começa a cair, as expectativas são ajustadas para baixo e só se vê o inverno à frente.

Os ciclos econômicos são mais longos e imprevisíveis do que as estações do ano, e estão sujeitos a influências de toda a sorte, como as políticas (mudanças de governo); as diplomáticas (guerra da Ucrânia); as econômicas (reuniões do Copom), entre outros.

Portanto, não haverá, no calendário, o equinócio da recessão econômica nem a data exata da transição entre um ciclo de expansão otimista para uma euforia insustentável que vai levar à próxima crise.
É por isso que o mercado fica tão atento aos sinais dos indicadores, dos preços dos ativos e dos agentes de mercado.

A atuação do Banco Central sobre a taxa de juros, por exemplo, é uma forma de tentar suavizar os ciclos, principalmente os recessivos, e evitar que haja um descontrole que possa desembocar em uma depressão econômica profunda.

A manutenção da taxa Selic em 13,75% dá indícios de que o Banco Central entende que o atual patamar dos juros é adequado para direcionar a inflação novamente para a meta nos próximos meses.
Assim, o mercado passará a focar mais na próxima discussão relevante, que é: quando os juros começarão a cair?

Esse momento de encerramento do ciclo de alta também sinaliza a próxima mudança na dinâmica dos investimentos. A janela de oportunidade para investir em Prefixados, por exemplo, deve começar a se fechar a partir de agora.

O preço dos títulos Prefixados reflete as perspectivas do mercado para o futuro da taxa Selic. Uma vez que se percebe um possível final do ciclo de altas, é provável que as taxas comecem a cair, conforme o mercado comece a desenhar com mais clareza como será o movimento de queda da taxa Selic.
Até o momento, a perspectiva da equipe Econômica do Itaú Unibanco é que o Copom comece a reduzir a Selic no terceiro trimestre do ano que vem, encerrando 2023 em 11,0% a.a.

Mas, como o mercado verá a taxa de juros para os anos à frente?

Com esse horizonte mais longo em vista, pode se tornar menos frequente encontrar taxas como os atuais 11,5% do Tesouro Prefixado 2029 – conforme o mercado for antecipando a possibilidade de juros ainda mais baixos no futuro.

Daqui há algum tempo, quem tiver investido nos patamares atuais garantirá retornos que só serão vistos novamente num possível próximo ciclo de alta dos juros.

Mas os ciclos econômicos diferem também entre os países.

No mesmo dia da decisão do Copom, o FED (Banco Central americano) aumentou sua taxa de juros em 0,75 ponto percentual, subindo para o intervalo de 3% a 3,25% a.a. As sinalizações iniciais indicam que os juros nos Estados Unidos poderiam chegar até perto de 4% a 4,5% no fim do ano – e, em um ambiente globalizado como o que vivemos, é certo que essas perspectivas também afetarão a dinâmica local.
Existe toda uma gama de previsões e perspectivas sobre o futuro da economia mundial, algumas bastante pessimistas.

Quando a economia começa a entrar em um ciclo recessivo, é natural que as carteiras migrem para ativos mais seguros, como os títulos de renda fixa (principalmente os públicos), dólar, ouro, ações com foco em valor, em vez de crescimento (preferência por empresas sólidas, estáveis e estabelecidas no mercado em detrimento de startups, modelos disruptivos ou companhias em fase de tração).

O segredo para lidar com tantas variações de temperatura é a boa e velha diversificação. Mesmo que exista uma perspectiva dominante, poucos eventos podem mudar tudo a qualquer momento.
Também é assim com as estações do ano: por mais que nosso verão seja radiante e ensolarado, ainda estamos sujeitos a influências externas. Volta e meia aparece um Papai Noel importado do exterior vestindo casaco, capuz e botas, mesmo em um belo dia de calor.

Então, antes de sair, pegue seu casaco e diversifique sua carteira.

Por Gabriel Padovesi, CFP e colunista íon. Artigo originalmente publicado na coluna ‘Sinapses’, no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.