Recessão: Entenda os motivos que podem levar a uma freada mundial da economia

Temor com recessão cresce após aperto monetário sincronizado para controlar inflação alta

Nesta última semana, as principais bolsas do mundo terminaram suas operações com perdas acumuladas. O motivo: medo de uma recessão global. A preocupação com a desaceleração econômica já vinha crescendo desde que os principais bancos centrais, no começo do ano, deram os primeiros sinais de um aperto monetário sincronizado, com aumento nas taxas de juros e cortes em programas de aumento de liquidez. Ao passar dos meses, o temor por uma desaceleração foi dando espaço para uma possível recessão.

Inflação

Essa mudança de perspectiva acompanhou o aquecimento da elevação de preços. Mês após mês, indicadores de inflação mostraram aceleração nos avanços dos valores dos produtos e serviços, dificultando a projeção de um pico e de uma futura queda. Diante disso, os bancos centrais precisaram mudar o tom para sair da posição “atrás da curva”, quando estão atrasados em relação ao aumento de juros no combate à inflação.

Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA)

Um dos primeiros sinais veio em abril, quando o Federal Reserve (Fed, ou o banco central americano) resolveu acelerar seu aperto monetário e aumentou as taxas de juros em 0,5 ponto percentual, além de indicar que daria início ao enxugamento de seu balanço patrimonial no início do mês seguinte.

Ainda no começo daquele mês, quando já se previa uma alta mais forte dos juros pelo Fed, o banco alemão Deutsche Bank deu o primeiro passo ao desenhar um quadro de recessão para a economia americana. Na projeção feita à época, o banco estimava um cenário de retração no segundo trimestre de 2023.

BCE

Enquanto o Fed se preparava para juros mais altos, no outro lado do Atlântico, o Banco Central Europeu (BCE), que adotava um tom cauteloso sobre o aumento das taxas, deu sinal de que iria tirar os juros de depósito do território negativo (hoje em -0,5%). Isso também foi resposta à inflação superaquecida, com o índice de preços ao consumidor atingindo seu maior pico desde a criação da moeda única na zona do euro.

Estagflação

Com a inflação avançando de forma generalizada, primeiro se formou um coro sobre o risco da estagflação, crescimento de baixo ritmo associado à inflação alta. O Banco Mundial chegou a mencionar isso em relatório divulgado no início de junho. Depois que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do mês de maio dos EUA foi divulgado e as expectativas de inflação de longo prazo (medidas pela Universidade de Michigan) cresceram, o desenho pela recessão começou a ganhar mais contornos.

Aceleração do ritmo de aperto

O ápice foi atingido na semana passada, quando o Fed deu mais uma acelerada no seu aperto monetário, na quarta-feira, elevando as taxas em ritmo de 0,75 ponto percentual – algo que não fazia desde 1994. Depois disso, o Banco da Inglaterra (BoE) deu mais um passo em seu aperto monetário e o Banco Nacional Suíço (SNB) surpreendeu e aumentou as suas taxas de juros em 0,5 ponto, para -0,25% (primeira alta desde 2007). Vale lembrar que o BCE, uma semana antes, havia deixado claro que encerrará em 1º de julho seu programa de compra de títulos e no encontro do mesmo mês fará aumento nas taxas de juros, no primeiro aumento desde 2011.

Projeções

Cresceu com isso o número de bancos e casas de análises que passaram a ver recessão nas economias americana e europeia. No caso dos EUA, o banco J.P. Morgan, em relatório de projeções feita no meio do ano, disse que seu modelo de dados estima 35% de chance de recessão nos EUA nos próximos 12 meses. Também o banco suíço UBS afirmou que “com a sequência de dados fracos da semana passada sobre habitação, produção industrial e bens de capital, a probabilidade [de recessão nos EUA] aumentou ainda mais, para 69%.”

Por Arthur Cagliari, Valor Econômico, de São Paulo.