Inflação de janeiro reforça expectativa do mercado de Selic mais alta

As instituições financeiras já projetam uma taxa básica de juros acima de 12% ao ano
Pontos-chave:
  • O IPCA deve seguir pressionado nos próximos meses e caminha para fechar 2022 novamente acima da meta estabelecida pelo BC
  • Alimentos voltam a ser preocupação, com preços elevados no atacado e quebras de safras relevantes

Se a ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) abriu caminho, o resultado de janeiro do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) corrobora a percepção do mercado financeiro de que a taxa Selic pode subir ainda mais e ficar acima de 12% ao ano no encerramento do atual ciclo de aperto monetário. O IPCA desacelerou de 0,73% em dezembro para 0,54% em janeiro, a maior taxa para o mês desde 2016 (1,27%), mas dentro do que era esperado pelas instituições financeiras.

A avaliação de especialistas é que a inflação deve seguir pressionada nos próximos meses e caminha para fechar 2022 novamente acima da meta estabelecida pelo BC, de 3,5% – com o teto em 5%. “O IPCA vinha surpreendendo para cima e dessa vez veio em linha com a expectativa do mercado. A percepção é de que a inflação talvez tenha entrado em um rumo moderado, mas ela ainda preocupa, já que deve ficar entre 5,5% e 6% no final do ano”, observa Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “O resultado mostra ainda uma inflação persistente e isso vai continuar em fevereiro e março, com o índice acumulado em 12 meses acima de 10%. No meio do ano ainda teremos uma inflação na faixa de 8%”, diz Gustavo Arruda, diretor de pesquisas pra América Latina do banco BNP Paribas.

No radar, dois fatores podem pressionar o IPCA com mais força nos próximos levantamentos, principalmente vindo de commodities. “O petróleo é um risco de curto prazo, mas alimentos voltam a ser preocupação. Observamos dificuldades em algumas safras, como soja, arroz e feijão. E a questão climática ainda pode afetar bastante os preços ao longo do ano”, aponta Vale. “Olhando a tendência, a inflação continua caminhando para uma direção muito ruim. Seja pelos preços importados, de commodities e preços industriais, seja pela dinâmica de serviços. Pelo lado da alimentação, os preços no atacado estão muito fortes e logo vão impactar o varejo”, ressalta, Arruda.

Diante de um cenário de inflação em um patamar elevado e acima do teto da meta, ganha força a expectativa de uma Selic mais alta. “O Banco Central vai ter que continuar atento. Ele sinalizou que vai subir os juros de forma moderada, mas serão altas. Significa que ele não vê a Selic terminando em 11,75% ao ano, mas provavelmente a taxa indo para acima de 12% ao ano”, destaca o economista-chefe. “A gente acha que a taxa de juros vai até 12,25% ao ano e fica assim até o final do primeiro ou começo do segundo trimestre de 2023. Só depois começa a cair e bem lentamente. Temos 9,25% de Selic no ano que vem”, completa o diretor do BNP Paribas.