IF HOJE: Medo de descontrole na economia derruba (ainda mais) a Bolsa

Quatro secretários deixaram o ministério da Economia na noite de quinta (21) em meio à polêmica do Auxílio Brasil. Foto: Agência Brasil

A decisão do governo Jair Bolsonaro de ignorar o teto de gastos para implementar o Auxílio Brasil mirando na eleição de 2022 assusta o mercado financeiro brasileiro. Com medo de um descontrole na economia, muitos investidores venderam suas ações de empresas na Bolsa de Valores nos últimos dias – o que vem derrubando os preços – e preferindo deixar o dinheiro parado na conta para correr menos riscos. Outros têm comprado dólares, o que explica a disparada da cotação da moeda americana.

O movimento continua nesta sexta-feira (22). As vésperas de final de semana costumam mesmo ser de um pouco mais de cautela, porque, se sair alguma notícia de impacto no sábado ou no domingo, quando o mercado está fechado, não vai ser possível mexer nas aplicações. Desta vez, o cuidado está sendo redobrado.

Às 11h, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, recuava 2%, para 105.504 pontos. O dólar comercial ganhava 0,39%, vendido a R$ 5,689, e o turismo tinha valorização de 0,5%, a R$ 5,87.

Desde o início da semana, as discussões sobre a fonte de financiamento do Auxílio vêm elevando a tensão. Mas a saída de quatro integrantes da equipe de Paulo Guedes na quinta-feira (21) ligou a luz vermelha no mercado. Secretários do Tesouro Nacional deixaram o ministério da Economia na noite de quinta (21) alegando razões pessoais. As baixas já eram previstas dado o caminho que a discussão sobre o benefício tomou nos últimos dias.

Para financiar a parcela mínima de R$ 400 do Auxílio Brasil, o governo inseriu na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios —que adia o pagamento de dívidas do governo que resultam de decisões judiciais definitivas— alterações na forma como o teto de gastos é corrigido pela inflação. Atualmente, o teto é corrigido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de julho a junho. A mudança faria com que a correção fosse feita de janeiro a dezembro, o que daria ao Orçamento de 2022 um adicional de mais de R$ 39 bilhões. Aprovada em votação na quinta _a noite (21), a PEC deve adicionar, ao todo (com a mudança nos precatórios e na correção do teto), R$ 83 bilhões no Orçamento de 2022, diz o relator da proposta, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB).

A manobra fiscal foi alvo de críticas de especialistas em contas públicas e chamada de contabilidade criativa. Por mais que o governo não fure o teto no final das contas, os gastos da União vão subir e era justamente isso que o teto de gastos visava barrar.

Por que importa?

O aumento de gastos por parte do governo em uma velocidade maior que o aumento da arrecadação deteriora a imagem do país perante investidores, pois passa uma mensagem de gastos desenfreados e falta de compromisso em pagar as contas. Tal cenário pode afugentar investimentos, aumentar o custo de dívida, desvalorizar o real e demais ativos brasileiros e desacelerar a economia.

Como afeta seus investimentos?

A baixa na equipe de Guedes, que era apreciada por boa parte do mercado financeiro, deve movimentar os ativos brasileiros nesta sexta. Se espera uma nova sessão de forte queda da Bolsa de Valores e de alta do dólar. Os juros futuros também devem se valorizar, o que beneficia ativos de renda fixa.

Fique por dentro

Waiver day

Após Guedes dizer, na quarta (20), que o governo estuda pedir um “waiver”, espécie de licença fiscal para gastar o que não se pode, o pregão desta quinta (21) foi apelidado de “waiver day”. O dia foi marcado por uma forte queda de 2,75% do Ibovespa, a 107.735 pontos, patamar mais baixo do índice desde novembro de 2020.

O dólar comercial teve alta de 1,92%, a R$ 5,667. O dólar turismo está a R$ 5,827. Segundo analistas, o real voltou a ser a moeda emergente mais desvalorizada.

Auxílio caminhoneiro

Na quinta, o presidente Jair Bolsonaro disse que irá implantar um auxílio a cerca de 750 mil caminhoneiros para balancear a alta do diesel. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, a ajuda seria de R$ 400 mensais até o fim de 2022. Os recursos para o projeto viriam da manobra fiscal da PEC dos Precatórios.