Guerra e aperto monetário derrubam confiança da construção em março

Setor avalia que aceleração nos preços dos materiais pode comprometer a demanda para os próximos meses

O Índice de Confiança da Construção (ICST) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) caiu 0,8 ponto em março, para 92,9 pontos. A queda do mês praticamente anulou toda a alta de fevereiro. Em médias móveis trimestrais, o índice voltou a recuar desta vez, 1,3 ponto, o que configurou a terceira redução consecutiva.

“Não são tempos fáceis: depois das sucessivas ondas da Covid, a guerra na Ucrânia reacendeu o temor de aceleração nos preços dos materiais, que associada à alta os juros pode comprometer ainda mais a demanda para os próximos meses. Assim, a queda nas expectativas referentes à evolução da demanda e dos negócios foi decisiva para abalar a confiança setorial em março. No entanto, vale destacar que ao final do primeiro trimestre, a confiança indica um pessimismo moderado e se encontra em patamar melhor do que estava ao final do primeiro trimestre de 2021. Outro destaque é o avanço da atividade corrente, que havia dado mostras de desaceleração e voltou a crescer: a percepção dominante é de que a retomada, que reflete o ciclo recente de negócios está em patamar bem superior ao que estava no ano passado”, observou Ana Maria Castelo, Coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE.

A queda do ICST, neste mês, resultou exclusivamente da piora das expectativas em relação aos próximos meses. O Índice de Expectativas (IE-CST) caiu 3,8 pontos, para 93,9 pontos, menor nível desde maio de 2021 (89,0 pontos). Esse resultado se deve a piora das perspectivas sobre demanda cujo indicador recuou 3,2 pontos, para 97,9 pontos. Para os próximos seis meses, o indicador que mede a tendência dos negócios caiu 4,4 pontos, para 89,8 pontos, menor nível desde abril de 2021 (87,4 pontos).

Por sua vez, o Índice de Situação Atual (ISA-CST) subiu 2,1 pontos, para 92,0 pontos, a primeira alta neste ano. O resultado do ISA-CST foi influenciada exclusivamente pelo indicador que avalia a carteira de contratos, que subiu 4,4 pontos, para 94,4 pontos, maior patamar desde janeiro de 2014 (96,2 pontos). Já o indicador que mede a situação atual dos negócios se manteve estável ao variar – 0,1 ponto, para 89,8 pontos.

O Nível de Utilização da Capacidade (NUCI) da Construção melhorou pelo segundo mês crescendo 0,8 ponto percentual (p.p.), para 76,0%. O Nuci de Mão de Obra e Nuci de Máquinas e Equipamento contribuíram positivamente, com variações de 0,8 e 1,3 p.p., para 77,4% e 70,5%.

Melhora generalizada

Por ser um setor de ciclo longos, a produção não começa imediatamente após a realização do negócio, seja ele uma venda no mercado imobiliário ou o fechamento de uma concessão. Há um tempo para se traduzir em atividade. Assim, a despeito do cenário mais negativo para os novos negócios, a atividade está em melhor posição do que estava no ano passado. “Pode-se notar que essa percepção é generalizada entre os principais segmentos setoriais, o que deve contribuir para um resultado positivo da construção em 2022, observou Ana Castelo.