Greve no Banco Central pode interromper Pix? Servidores dizem que sim

A categoria reivindica reajuste de 27%, além de reestruturação das carreiras

O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central do Brasil (Sinal) afirmou que a reunião com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre reajuste e reestruturação de carreira da categoria foi “um fiasco”. O encontro foi realizado ontem por videoconferência.

“Houve uma reunião virtual com o Presidente do BC, Roberto Campos Neto, em 29/3, terça, às 16h. Mas foi um fiasco: nenhuma proposta oficial foi feita. Até agora não foi marcada uma outra reunião com RCNeto ou com algum ministro do Governo Bolsonaro, mas o sindicato reiterou a cobrança da reunião com o Presidente da República para tentar achar uma solução negociada”, disse a entidade em nota.

A categoria reivindica reajuste de 27%, além de reestruturação das carreiras do BC, que não tem impacto financeiro ao governo. A medida exigiria nível superior para o cargo de técnico, que hoje é de nível médio, e alteraria a nomenclatura de analista para auditor, por exemplo.

Na segunda-feira, os servidores anunciaram greve por tempo indeterminado a partir de 1º de abril. Eles realizam desde 17 de março paralisações diárias das 14h às 18h e operação-padrão, também conhecida como operação-tartaruga, em que as equipes realizam os trabalhos de forma mais lenta.

De acordo com o sindicato, a greve deve se intensificar caso seja concedido reajuste apenas para policiais e pode interromper total ou parcialmente o Pix.

“Há um alto risco de ser publicada, até 2/4/2022, a Medida Provisória com o reajuste dos Policiais Federais. Se os Técnicos e Analistas do BC não estiverem nessa Medida Provisória, a greve será ainda mais forte e poderá interromper, total ou parcialmente, o PIX, a distribuição de moedas e cédulas, a divulgação do boletim Focus e de diversas Taxas, o funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), a mesa de operações do Demab e outras atividades”, informou a entidade.

O presidente do Sinal, Fabio Faiad, afirmou que a mobilização respeitará a lei, que determina a preservação de serviços essenciais, mas ressaltou que o sistema de pagamentos instantâneos e outras atividades do BC não estão dentro do escopo e podem sofrer paralisações parciais e totais.

A categoria organizou ainda uma entrega conjunta de cargos de chefia. Até agora, segundo o sindicato, 500 comissões foram abandonadas e a entidade espera chegar a 700 na próxima semana. Ao todo, são 1.000 comissões, 50% gerenciais e 50% de assessoramento.

“A assembleia foi virtual (na plataforma Zoom) e teve a participação de 1300 servidores da ativa (de um total de 3400), dos quais 90% votaram a favor da greve. Todos os trâmites legais (publicação prévia de Edital da assembleia, quórum, aviso prévio ao BC etc.) foram cumpridos”, informou o Sinal.

Os servidores começaram a se mobilizar após o Congresso aprovar previsão de reposição apenas para policiais federais no Orçamento de 2022, com apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas o movimento ganhou força em meio à insatisfação também com a postura do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que, segundo servidores, não tem levado as demandas dos trabalhadores ao Executivo e ao Congresso.