Greve de caminhoneiros, PEC dos precatórios e redução de estímulos nos EUA podem mexer com investimentos na semana

Preocupação com cenário econômico e político tem aumentado aplicações na renda fixa, enquanto a Bolsa sofre

A primeira semana de novembro começa tensa no país.

Alguns líderes de caminhoneiros autônomos marcaram uma greve geral para a segunda-feira (1º.) em protesto contra o alto preço do diesel. O combustível acumula reajuste de 65,3% nas refinarias neste ano.

Na última grande paralisação, em 2018, o abastecimento de produtos essenciais como alimentos e combustíveis ficou prejudicado em muitas localidades. Também existe o medo de que, para tentar apaziguar os ânimos, o governo Jair Bolsonaro decida fazer algum tipo de intervenção na Petrobras para baixar o diesel na marra. Nesse caso, a ação da petroleira, que já vem sofrendo com as sinalizações de Bolsonaro de que o governo está descontente com a estratégia de preços da empresa, pode continuar se desvalorizando. A Justiça já proibiu os caminhoneiros de fechar estradas em vários Estados e há líderes regionais que disseram que não vão participar. Então, ainda está difícil prever o resultado da greve de amanhã.

Do lado político, o evento mais importante é a tentativa de votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 23/2021, que ficou conhecida como PEC dos precatórios, no plenário da Câmara dos Deputados. Essa lei permite que o governo faça o parcelamento dos precatórios que deve pagar em determinado ano. Antes, a quitação deveria ser feita à vista. Também muda o fator de correção do teto de gastos. O texto já foi aprovado na comissão especial da Câmara, mas precisa passar pelo plenário das duas casas do Congresso, com voto a favor de 3/5 dos legisladores. A expectativa é de que seja submetida a votação na quarta-feira (3). Se aprovada, a PEC liberaria R$ 91,6 bilhões do orçamento de 2022, que poderiam ser usados para pagar parte do novo benefício de distribuição de renda, o Auxílio Brasil, estimado em R$ 400 mensais.

A discussão sobre o financiamento do Auxílio Brasil azedou o humor dos investidores na semana passada. O governo Bolsonaro vem demonstrando intenção de desobedecer às regras que o impedem de gastar demais (o teto de gastos), com vistas à eleição do ano que vem. Essa atitude prejudica a credibilidade do país, alimentando o medo de que o Brasil não cumpra os seus compromissos.

Por que importa?

Em momentos de nervosismo e incerteza, a reação instintiva dos investidores é sair de aplicações tidas como mais arriscadas – por exemplo, a Bolsa de Valores – e buscar alternativas mais seguras – títulos de renda fixa, dólar e ouro.

Como afeta os investimentos?

Nesse cenário, a Bolsa de Valores pode seguir em baixa e os juros do CDB e do CDI, subindo.

Eventos que podem mexer com seus investimentos

Segunda-feira, 1/11

8h25: Relatório Focus
Na mais abrangente pesquisa de expectativas para os principais indicadores econômicos brasileiros, feita pelo Banco Central, há 29 semanas os analistas vêm aumentando as projeções para a inflação em 2021. O último levantamento trouxe uma previsão para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ao final deste ano de 8,96% – praticamente o dobro do verificado em 2020, 4,52%. Já a projeção para o crescimento do país está caindo: a estimativa de alta do PIB (Produto Interno Bruto) ficou em 4,97% na pesquisa divulgada na semana passada. Para a Selic, a taxa básica de juros da economia, ficou em 8,75% ao ano, o que implicaria uma elevação de 1 ponto percentual na reunião de dezembro do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). Assim, os investimentos em renda fixa acabam atraindo mais recursos e a Bolsa, perdendo.

Balanços trimestrais: Hering e Locamerica


Terça-feira, 2/11 – Feriado de Finados

• O mercado financeiro fica fechado.

• Balanços trimestrais: Portobello


Quarta-feira, 3/11

8h: Ata do Copom
O Copom divulga a ata de sua última reunião, na semana passada, em que decidiu aumentar a Selic em 1 ponto percentual, para 7,75% ao ano, e sinalizou mais uma elevação de 1 ponto em dezembro. Os investidores querem saber mais detalhes de como o BC está vendo as perspectivas para a economia a fim de se posicionar.

Fim dos estímulos nos EUA
Nos Estados Unidos, o Comitê de Mercado do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) se reúne. Existe uma aposta de que serão anunciadas as diretrizes do programa de redução de compra de ativos (chamado, em inglês, de tapering). A compra, que há 19 meses vem injetando dinheiro na economia americana, atualmente está em US$ 120 bilhões por mês e deve começar sendo cortada em US$ 15 bilhões. Desde a crise financeira mundial de 2008, o Fed vem usando a estratégia de adquirir títulos públicos em poder de instituições financeiras, dando-lhes dinheiro a ser liberado para empresas e consumidores. Durante a pandemia de covid-19, tal expediente foi reforçado, mas agora as autoridades americanas acham que é possível começar a reduzir esse estímulo. Como significativa parte desses recursos foram destinados ao investimento no mercado financeiro, inclusive em países como o Brasil, a retirada pode levar a quedas na Bolsa e mais aumento da cotação do dólar ante o real.

Balanços trimestrais: Itaú, CSN, PetroRio, Ultrapar, Arezzo, Pão de Açúcar, Cielo, AES Energia, Pague Menos, Iochpe-Maxion, Ultrapar

Quinta-feira, 4/11

9h: Produção industrial brasileira
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga os dados relativos à produção industrial brasileira em setembro. Em agosto, houve uma queda de 0,7% na comparação com o mesmo mês de 2020, e, para setembro, as projeções dos economistas variam de crescimento zero a queda de 1,5%. O setor manufatureiro do país vem sofrendo com a falta de matérias-primas, ainda um efeito da crise da pandemia. A baixa produção do setor atrapalha a retomada da economia.

Balanços trimestrais: Alper, Bradesco, Eneva, Banco Pan, Eneva, BR Properties, JHSF, Banco ABC Brasil, Brasilagro, São Carlos, Burger King, Tenda, Tegma, CSU Cardsystem

Sexta-feira, 5/11

Produção e vendas de veículos
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulga os dados de produção e venda de veículos em outubro. A falta de chips interrompeu a fabricação de muitos modelos de carros, o que tem elevado os preços dos novos e também dos usados.

Balanços trimestrais: Embraer e M. Dias Branco

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