Bolsas americanas fecham em forte alta após Fed descartar escalada agressiva de juros

Índice acionário S&P 500 subiu 2,99%, maior alta em um dia desde 2020

Os três principais índices acionários de Wall Street encerraram o dia com ganhos consistentes, depois de uma sessão marcada pela divulgação da orientação de política monetária do Federal Reserve (Fed) e de comentários de seu presidente, Jerome Powell, sobre como a autoridade monetária deve se posicionar daqui para frente. O dólar no exterior seguiu bastante penalizado, assim como os rendimentos dos títulos do Tesouro.

Após a apresentação da decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), os índices ficaram instáveis, tendo os três despencado para território negativo, com o Nasdaq registrando a maior perda. Depois, com a fala de Powell à imprensa, todos retomaram e fecharam em alta. No fim da sessão, o índice Dow Jones terminou com ganhos de 2,81%, a 34.061,06 pontos, enquanto o S&P 500 subiu 2,99%, a 4.300,17 pontos, e o Nasdaq cresceu 3,19%, a 12.964,86 pontos.

Entre os índices setoriais, o melhor desempenho ficou com o segmento de energia, com crescimento de 4,11%. O segmento é beneficiado pelo avanço dos preços do petróleo, que na sessão desta quarta-feira fecharam com ganhos superiores a 4,5% tanto no contrato WTI (junho) quanto no Brent (julho). As ações da Exxon Mobil subiram 3,98%, enquanto as da Chevron cresceram 3,14%.

Já os segmentos imobiliário, de tecnologia da informação e de consumo discricionário tiveram uma reação negativa após a divulgação dos dados, com os três setores caindo para terreno vermelho, mas depois revertendo as perdas. Tais áreas foram muito beneficiadas com o aumento da liquidez e os programas de compras de títulos pelo banco central americano. Com o anúncio do enxugamento do balanço patrimonial do Fed, os setores devem ser também os mais penalizados.

Na decisão de hoje, o Fomc votou por unanimidade em acelerar a elevação dos juros, subindo as taxas em 0,50 ponto percentual, para o intervalo de 0,75% e 1%. Já em relação ao enxugamento do balanço patrimonial, o comitê decidiu iniciar o chamado “quantitative tightening” (QT) em 1º de junho. Para os títulos do Tesouro americano (Treasury) o teto inicial será de US$ 30 bilhões mensais, e depois de três meses o teto subirá para US$ 60 bilhões. Já os títulos hipotecários (MBS) devem ter teto inicial de US$ 17,5 bilhões nos primeiros três meses e depois subir para US$ 35,5 bilhões.

Depois da divulgação da decisão, em entrevista à imprensa (a primeira presencial, desde o início da pandemia), o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que não está sendo considerado ativamente um aumento de 0,75 ponto percentual nas taxas de juros, como foi cogitado pelo dirigente do Fed de St. Louis, James Bullard. Esse movimento deu alívio ao investidor. Ontem, o mercado precificava uma chance de 90% um aumento nesse patamar no encontro de junho, segundo o CME Group, com base nos Fed funds.

Para Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, ao descartar um aumento nesse patamar na reunião de junho, Powell “transmitiu que nos próximos encontros a alta deve ser de 0,5 ponto percentual, trazendo o Fed funds para 2,5% e 3% ao longo deste ano”. Na avaliação de Lima, o presidente do Fed também mencionou todos os impasses globais atuais para indicar que pode mudar sua postura. “Powell mostrou que está atento à inflação, deixando no condicional, que se o cenário mudar, pode ser mais agressivo.”

Para Bernd Weidensteiner, economista sênior do Commerzbank, é possível ler nas entrelinhas que, se necessário, também haverá o risco de uma recessão. “Em outras palavras, caso surja a necessidade, Powell ‘faria o Volcker’.” Paul Volcker controlou a inflação alta no início dos anos 1980, quando o Fed iniciou uma recessão dolorosa com altas fortes nas taxas de juros.

Entre as ações hoje, as da empresa de app de transporte Lyft caíram 29,921% após a empresa relatar que teve que aumentar seus custos para atrair novos motoristas. Na outra ponta, as ações da Starbucks subiram 9,83% depois que a rede de café divulgar resultados que superaram as estimativas de analistas, com lucro de US$ 674,5 milhões no primeiro trimestre deste ano.