‘Este é um momento de extrema cautela para o investidor de cripto’, diz Bruno Milanello do Mercado Bitcoin

Bitcoin passa por uma de suas piores fases nos últimos anos. Entenda por que nesta entrevista

O bitcoin teve mais um dia de queda nesta terça-feira (14) ainda repercutindo os temores em torno da política monetária dos Estados Unidos e diante do colapso da Celsius. Atualmente, de acordo com a Coingecko, o valor de mercado de todas as criptomoedas somadas está em torno de US$ 981 bilhões, redução de 67% ante a máxima histórica atingida em novembro do ano passado.

Para piorar, na segunda-feira (13) a plataforma de empréstimo de criptomoedas, Celsius, interrompeu saques e transferências devido a “condições extremas”, levando os investidores a se preocuparem com uma possível insolvência da empresa.

Vale lembrar que em novembro do ano passado, na máxima histórica, a soma do valor de mercado de todas as criptomoedas chegou a superar a marca de US$ 3 trilhões. Desde então, o bitcoin perdeu 66% do seu valor e o ethereum desabou quase 75%.

Qual o motivo da queda tão abrupta? O que esperar daqui para frente? O que pode acontecer com as corretoras de criptomoedas caso os preços se mantenham baixos?

Para responder a estas perguntas, a Inteligência Financeira entrevistou Bruno Milanello, executivo de Novos Negócios do Mercado Bitcoin (MB).

Confira trechos editados da entrevista, cuja íntegra você confere no vídeo.

O que explica a venda generalizada (“sell-off”) dos criptoativos desde o final de semana?

Desde 2017, quando tivemos a entrada de investidores institucionais no mercado de criptoativos, a gente percebeu que essa classe de ativos passou a integrar as finanças mundiais. Então, não é mais uma classe se ativos isolada, blindada. E, portanto, está sujeita às intempéries que acontecem na economia global.

Estamos vendo no mercado de ações que as bolsas no mundo todo seguem pressionadas pela inflação e a expectativa de aumento de juros. De que forma isto afeta o mercado Cripto?

Como estamos em uma economia bastante integrada, e as criptos fazem parte das finanças mundiais, todo evento [econômico] afeta em maior ou menor grau as várias classes de ativos.

As criptomoedas são cada vez mais vistas como ativos de risco. Com o investidor buscando por segurança, você avalia que o ambiente está desfavorável para cripto?

Vale a pena fazer uma distinção e separar os investidores de varejo dos profissionais. Os profissionais têm mais informações e insumos para fazer uma alocação de recursos. Eles olham diversas variáveis, se comparado ao investir individual. Para o investidor de varejo, este é um momento de extrema cautela. Há diversas técnicas de análise para evitar a volatilidade do mercado.  

Com a queda acelerada nos preços das criptomoedas, a capitalização de mercado chegou a ficar abaixo de US$ 1 trilhão. Em novembro do ano passado, na máxima histórica, o valor de mercado de todas as criptomoedas chegou a superar a marca de US$ 3 trilhões. O que esperar dos preços dos criptoativos?

Essa é uma métrica bem bacana de olhar, a capitalização de mercado. Hoje temos mais de 19 mil criptoativos conhecidos. Sem falar nos projetos que são tão pequenos que não temos sequer os registros de fato para poder acompanhar. Não há espaço para tantos projetos (criptoativos). É natural que neste momento em que várias variáveis estão impactando os ativos, como a inflação e os juros, haja um ajuste neste mercado, onde os projetos mais significativos é que vão permanecer. Há também alguns fatores técnicos que afeta o mundos das criptos. Estamos no meio de um ciclo de halving, que na prática significa que estamos no momento mais baixo [da curva de preços para esta classe de ativos].

Desde novembro de 2021, o bitcoin perdeu 66% do seu valor e o ethereum desabou quase 75%. Para o investidor de perfil mais arrojado, este é um momento bom para a compra? Por quê?

Não é o momento de tentar adivinhar onde está a baixa do mercado. Eu acho que a cautela deve permanecer.

A segunda-feira também foi marcada pelo colapso de algumas plataformas de empréstimos de criptomoedas. A que sinais o investidor de criptomoedas deve atentar para identificar de que a plataforma que usa não vai bem?

O investimento em criptoativos não é diferente de nenhum outro investimento. Eu destaco alguns [sinais] que acho importantes. O primeiro é como a empresa (corretora) lida quando tem problemas? Como ela vai a público quando se vê diante de um problema? Seus executivos estão disponíveis? Os problemas são endereçados de forma rápida ou não? Fora isso é importante ver o número de usuários que está empresa tem. Qual o volume que ela transaciona. Quais são os custos que ela prática? Eu não acho que o mundo de criptos seja diferente do de outras classes de ativos. O que ele tem (o mundo de criptos) é uma dinâmica muito mais acelerada. É um mercado que opera 24h, que não fecha nunca. E isso exige cuidado.

Há chance de assistirmos a uma consolidação, onda de compras, das plataformas maiores de cripto comprando as menores?

É possível sim. Quando temos estes estresses de mercado há uma consolidação do ecossistema, onde as empresas com maior solidez, mais experiência e mais bem preparadas para lidar com este ambiente (adverso), acabam comprando as menores. É possível que aconteça.

Há risco de insolvência das plataformas cripto?

Eu diria que não. É muito importante, neste momento tão conturbado, que o investidor faça a lição de casa e haja com cautela e planeje com cuidado seus investimentos.