Como os problemas climáticos têm deixado seu café da manhã 9,15% mais caro

Café da manhã ficou quase 10% mais caro, enquanto a inflação do prato feito disparou 16,84% no acumulado em 12 meses
Pontos-chave:
  • Escassez hídrica ao longo de 2021 afetou as plantações de café, cana-de-açúcar, milho e até a produção de leite e derivados
  • Os extremos climáticos com a chegada do verão podem prejudicar o plantio e a colheita de hortaliças e frutas

A inflação dos alimentos tem pesado fortemente no bolso dos brasileiros nos últimos tempos. Buscar alternativas mais baratas nas gôndolas dos supermercados não é uma estratégia válida, já que a sensação é de que os preços de tudo subiram.

Um levantamento do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) constatou que, nos últimos 12 meses, a média da variação dos itens do café da manhã foi de 9,15%. Já a inflação do prato feito disparou 16,84% no mesmo período.

A pesquisa, feita com base em dados do IPC-DI/FGV de novembro, mostrou que o preço do café em pó saltou 36,67%, seguido pela margarina (23,89%), ovos (20,05%), mortadela (19,57%), presunto (13,67%) e queijo muçarela (10,36%). O leite longa vida foi o que apresentou a menor variação, subindo 1,64%. Já o tradicional PF ficou mais caro puxado principalmente pelo aumento do frango em pedaços (30,91%), pelo tomate (27,93%), pela batata inglesa (20,96%) e pelas carnes bovinas (18,68%).

A pressão dos preços é explicada pelo aumento da demanda global, em razão da recuperação econômica dos efeitos da pandemia, e dos valores elevados das commodities no mercado internacional. Há ainda um terceiro componente interno com influência significativa nos preços: o clima.

“Os custos de produção ficaram muito pressionados e ajudaram a disseminar a inflação ao longo do ano. Com os problemas climáticos penalizando a agropecuária e as commodities energéticas pressionando insumos e custos logísticos, o resultado final na mesa do brasileiro foi devastador”, afirmou o economista Matheus Peçanha, pesquisador do FGV IBRE.

O cenário de escassez hídrica observado no Brasil ao longo de 2021 contribuiu para jogar ainda mais para cima os preços aos consumidores. A produção de café, por exemplo, foi afetada por uma geada no inverno e um período prolongado de seca. A falta de chuvas, combinada com as queimadas, prejudicou plantações de cana-de-açúcar, milho e até a produção de leite e derivados.

Para 2022, a princípio, o problema das chuvas parece ter amenizado com a melhora dos reservatórios, mas isso não significa necessariamente preços menores nos próximos meses. “A tendência é de estabilidade em um patamar elevado dos produtos da cesta básica”, avalia o professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, especialista em inflação. “Não teremos aumentos da mesma intensidade que verificamos anteriormente, mas os alimentos continuarão pesando no bolso”, acrescenta.

As situações climáticas extremas, no entanto, colocam um grau de incertezas em relação ao movimento dos preços, principalmente com a chegada do verão. O professor cita os temporais e alagamentos que costumam ser mais frequentes e intensos nesta época. “O excesso de chuvas e os extremos climáticos podem prejudicar o plantio e a colheita de hortaliças e frutas. Por isso pode ser que haja mais volatilidade. Sendo que um preço que sobe muito pode demorar um tempo para voltar ao nível anterior”, completa Cunha.