Copom sinaliza juros mais altos até 2023

Ata do Copom reforçou a preocupação do Banco Central com a persistência da inflação

Ao sinalizar que irá subir a Selic em mais 1,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano, na primeira reunião de 2022, o Copom (Comitê de Política Monetário do Banco Central) reiterou a preocupação “de assegurar a estabilidade de preços”. Na ata divulgada nesta terça-feira (14), o colegiado indicou que o ciclo de aperto monetário deve continuar nos encontros seguintes e citou como argumento o “risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos”.

“O Banco Central está vendo a inflação acima da meta em 2022 mesmo em um cenário quando eleva os juros a 11,75% ao ano”, comenta o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC. “Os números do mercado também estão descolados da meta de 3,25% para o ano que vem. Então é para ficar preocupado. Passar dois anos com a inflação estourando a meta aumenta a descrença na autoridade monetária”, acrescenta.

Na avaliação de Schwartsman, a política monetária vai avançar em território contracionista até as reuniões do Copom de maio ou junho, com a Selic podendo chegar a 12,50% ao ano. “2022 está perdido. Não tem como desinflacionar nesse ritmo (de 10% para 3,25%) em um ano”, afirma o economista. “A briga do BC é por 2023. Então ele vai usar para política monetária para terminar o próximo ano em um processo de normalização”.

Em relatório, o Itaú Unibanco aponta que a perspectiva é que os juros básicos da economia permaneçam em um patamar elevado por mais tempo. “A ata do Copom indica que as autoridades planejam aumentar a taxa Selic para a casa dos 12%, se não além, e manter a taxa básica em patamar contracionista por um período prolongado”, observa o banco.

“Isso claramente contraria as expectativas de que o Copom possa realizar cortes de juros já no final de 2022”, prossegue. “Por enquanto, esperamos que as autoridades encerrem o ciclo de alta em março, com a Selic em 11,75% ao ano, mas os riscos vão na direção de juros mais elevados”, completa o comentário assinado pelo economista-chefe, Mario Mesquita.