Carro popular acabou?

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, diz que legislação e exigências ambientais estão entre os fatores que contribuem para o encarecimento do automóvel

O brasileiro que planeja comprar um carro com um preço mais acessível vai precisar mudar de ideia ou considerar a opção de pagar mais para adquirir um automóvel. A recomendação foi feita indiretamente na segunda-feira (8) pelo presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes.

“O carro que nós temos que vender hoje não é o mesmo carro da década de 1980. Essa figura do ‘carro popular’ não existe mais”, disse Moraes a jornalistas em coletiva virtual da entidade. Clique aqui para assistir.

O presidente da Anfavea explicou que, entre os motivos para a constatação, estão a legislação e as exigências ambientais. “Temos muitas tecnologias que são estabelecidas no regulatório, como segurança, metas de emissões, redução no consumo. Ou seja, metas de eficiência energética”, comentou. “Estamos caminhando para esta fase da descarbonização, portanto a eletrificação ou veículos híbridos se tornaram realidade. Então não dá mais para imaginar que você vai ter um carro tão simples”, acrescentou.

Luiz Carlos Moraes ainda apontou que “muitas das tecnologias que estão embutidas no carro são demanda da sociedade” e que a indústria nacional tem seguido “padrões da Europa e Estados Unidos”. “Isso tem impacto na configuração do veículo e veio para ficar”, reforçou.

Um levantamento da tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) mostra que os preços dos dez carros mais baratos à venda no Brasil em novembro de 2021 estavam na faixa de R$ 44 mil a pouco mais de R$ 56 mil

A relação considera veículos disponíveis nas concessionárias, ainda quem tenham saído de linha nas fábricas. Na tabela, também é possível acompanhar mês a mês a valorização – ou encarecimento – dos automóveis. O Fiat Mobi Easy 1.0 (Flex), por exemplo, era negociado a R$ 38.191,00 em janeiro. Hoje, a versão 0 km sai por R$ 48.340,00.

A elevação do preço é explicada pela redução da produção das montadoras. Enfrentando uma falta global de peças, ainda reflexo da pandemia de covid-19, que rompeu as cadeis produtivas, muitas suspenderam a fabricação de automóveis no Brasil. Assim, os veículos que estão prontos para sair rodando têm o preço puxado para cima pelos revendedores.

Adeus ao Gol

O presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si, afirmou na sexta-feira (5) que a empresa vai aposentar o Gol no Brasil. O carro, que foi lançado em 1980 como uma espécie de sucessor do Fusca, continuará a ser produzido em 2022. Mas, aos poucos, será substituído pela família de novos carros da marca.

Mais recentemente, o Gol começou a sofrer a concorrência de outros modelos da própria Volkswagen e de marcas rivais, principalmente os chineses. Os preços do Gol, que oscilam hoje entre R$ 65 mil e mais de R$ 80 mil, também afastaram do carro o que no passado seria o consumidor dos carros populares.

Segundo Di Si , a renovação de produtos também é necessária devido à mudança na legislação de segurança veicular. O Brasil está prestes a entrar na fase da legislação que exigirá que todos os veículos sejam equipados com o controle de estabilidade. Trata-se de um sistema, com sensores, que ajuda o motorista a evitar derrapadas quando entra em velocidade muito alta numa curva. O chamado ESP ou ESC faz com que o carro volte à trajetória correta. Com isso, o Gol vai se tornar item de colecionador.