Bolívia reduz envio de gás para o Brasil e custo pode subir

Produção boliviana tem sido direcionada para atender uma demanda maior da Argentina

A Petrobras pretende aplicar penalidades à boliviana YPFB por reduzir o fornecimento de gás natural pelo país vizinho à empresa, direcionando parte do insumo para a Argentina. Bolívia e Argentina acertaram em abril acordo para entrega de 14 milhões de m³/dia durante o inverno, podendo chegar a até 18 milhões de m³/dia entre maio e setembro.

A companhia reiterou que está tomando as providências cabíveis para o cumprimento, pela boliviana YPFB, do contrato de fornecimento de gás natural. Em comunicado divulgado na noite de terça-feira, a petroleira informou que o contrato firmado “prevê consequências ao fornecedor em caso de falha de fornecimento, as quais serão aplicadas pela Petrobras à YPFB.

A empresa recordou que em 2020, como parte do processo de abertura do mercado de gás, firmou com a YPFB um aditivo contratual ao contrato assinado em 1996 com a boliviana, em que reduziu o fornecimento de 30 milhões de m³/dia para 20 milhões de m³/dia.

“Em 2021 e no 1º trimestre de 2022, a Petrobras recebeu em média os 20 milhões de m³/dia de gás natural, objeto do contrato com a YPFB”, salientou, acrescentando que desde 1º de maio a empresa recebeu um volume médio de 14 milhões de m³/dia.

No dia 10 de abril, prossegue, a YPFB divulgou compromisso de venda de volumes adicionais de gás para a Argentina durante o inverno, de cerca de 4 milhões de m³/dia, a um preço mais elevado. Dias depois, a boliviana informou à Petrobras que reduziria a partir de maio de forma unilateral as entregas de gás natural em 4 milhões de m³/dia.

“Após tomar conhecimento da redução informada pela YPFB, a Petrobras deu ciência às instâncias governamentais cabíveis, bem como informou as medidas adotadas para assegurar o fornecimento aos seus clientes”, disse a companhia.

Agentes do setor avaliam que o impacto imediato da medida será aumento de preços do gás natural no mercado interno, pois a Petrobras teria que substituir o insumo negociado com os bolivianos por meio de contrato de longo prazo por um produto importado, por um preço de curto prazo – atualmente pressionado por causa do cenário internacional.

A própria Petrobras reconhece a situação: em resposta a questionamentos pelo Valor, antes da divulgação do comunicado, a empresa afirmou que “tal redução da ordem de 30% não estava prevista e implica a necessidade de importação de volumes adicionais de gás natural liquefeito para atendimento aos compromissos de fornecimento da Petrobras”.

A informação sobre a redução do volume de gás enviado pela Bolívia foi revelada pela agência Reuters no fim de semana.