Alta de juros nos EUA não deve provocar saída de capital estrangeiro do Brasil

Segundo economistas, dólar deve seguir em baixa ante o real com a entrada de investimento externo no país

De acordo com analistas, a alta de juros nos Estados Unidos anunciada nesta quarta-feira (16) não deve ter um efeito imediato no Brasil, sendo compensada pela alta na Selic.

A elevação de 0,25 ponto percentual na taxa americana, para 0,25% e 0,5%, já era esperada pelo mercado, ao contrário da sinalização dos próximos aumentos.

Novas projeções do Fed (banco central americano) indicam que os juros devem subir para pelo menos 1,875% até o final deste ano e para cerca de 2,75% até o fim de 2023 e mantenha as taxas neste nível em 2024. Isso implica um total de sete aumentos de 0,25 ponto percentual neste ano e outros três ou quatro no próximo ano. Trata-se do ritmo muito mais rápido do que as autoridades haviam projetado em dezembro.

A maior preocupação do Fed é a inflação, que segue elevada no mundo todo, sendo ainda mais pressionada pela guerra na Ucrânia e o consequente aumento nos preços das commodities.

O Banco Central brasileiro compartilha desta preocupação. Nesta quarta o Copom (Comitê de Política Monetária) aumentou a Selic em 1 ponto percentual, para 11,75% ao ano e antevê outro ajuste da mesma magnitude na próxima reunião.

“A guerra demanda postura mais cautelosa dos BCs. O contexto é de excessivas incertezas, mas, por enquanto, essa alta de juros não nos afeta, não teremos mudança de fluxo de capital estrangeiro”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

De acordo com Vieira, investimento externo deve continuar vindo para o Brasil em função do grande diferencial de juros. Como o juro nos EUA segue baixo, mesmo com os aumentos previstos, e o brasileiro tende a superar os 12%, compensa trazer o dinheiro para cá, por mais que o risco seja maior.

“Desde março do ano passado, o BC sobe juros no Brasil. Em termos de aperto monetário, estamos muito na frente. Ainda temos um espaço muito grande [entre os juros brasileiros e americanos]”, diz Felipe Rodrigo de Oliveira, economista da MAG Investimentos.

Além disso, Oliveira destaca que o Brasil se beneficia com a alta das commodities em termos de investimento, já que exportamos matérias-primas, atraindo capital externo para essas empresas em época de preços elevados.

“E a Rússia e a Turquia estão com problemas, o que rebalanceia o fluxo de emergentes e o Brasil ganha mais investimentos apesar dos nossos problemas internos. Em termos relativos, somos um bom emergente, temos estabilidade, e estamos baratos”, diz Oliveira.

Dado o cenário favorável, o real deve continuar se fortalecendo ante o dólar. O economista vê a moeda sob pressão na época das eleições, elevando o câmbio a R$ 5,40 ou R$ 5,30, “mas antes estávamos com perspectiva de dólar a R$ 5,80 na época da eleição”.

(Com Valor Econômico)