Análise: Semana foi dura para Bolsonaro com assassinatos na Amazônia e aumento dos combustíveis

Presidente também aumentou o tom contra o STF, diz Fábio Zambeli, analista do JOTA

O governo e o Congresso avançaram na aprovação do pacote de medidas para tentar reduzir o preço dos combustíveis. A limitação da cobrança do ICMS pelos estados passou com folga no Senado e na Câmara. Falta agora a PEC que prevê compensação federal para zerar os impostos sobre o diesel e a gasolina.

O presidente Bolsonaro esperava que as medidas, em conjunto, pudessem representar uma redução de até dois reais no valor dos combustíveis nas bombas, o que seria uma vitória importante do governo.
O problema é que a Petrobras resolveu anunciar novo reajuste, já que o dólar e o preço internacional do petróleo seguem em alta. Isso quase anula o esforço concentrado feito pelo Executivo e pelo Legislativo nas últimas semanas para atenuar o peso no bolso do consumidor. E gerou uma reação dura do presidente e do centrão, que agora discute novas soluções de curto prazo, algumas delas bastante heterodoxas.

Em paralelo, Bolsonaro segue em franco combate com o Tribunal Superior Eleitoral, aumentando a cada semana o tom contra os ministros da corte, sobretudo Edson Fachin e Alexandre de Moraes. O presidente relaciona ambos ao PT e tenta colocá-los sob suspeição para conduzir o processo eleitoral. É bom lembrar que Moraes foi eleito nesta semana para assumir o comando do TSE a partir de agosto.

O centrão está se empenhando para emplacar a ex-ministra Tereza Cristina na vaga que hoje seria ocupada pelo general Walter Braga Netto como candidata a vice na chapa de Bolsonaro. Os ministros políticos preferem uma mulher e que represente melhor o bloco de partidos que apoia o governo em detrimento de um militar, sobretudo agora que uma parcela das Forças Armadas entrou em choque com o Judiciário.

E a imagem do governo no exterior, que já vinha sofrendo desgaste, ficou ainda pior com o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira durante uma expedição na Amazônia. O episódio reforçou a percepção global de que os defensores das terras indígenas e do meio ambiente estão em apuros no país.

Já na campanha de Lula o assunto é a revisão do programa de governo apresentado pela equipe do petista. A principal preocupação é com o tratamento dado à reforma trabalhista –o texto inicial do plano falava em ‘revogação’ da reforma, aprovada no governo Temer, mas agora a ideia do ex-presidente é suavizar esse documento, usando o termo ‘revisão’, evitando uma ideia de enfrentamento aos empresários. Também ganhou força no núcleo da campanha do PT a ideia de indicar um nome com perfil político para o Ministério da Economia, caso Lula seja eleito.

O entendimento de Lula, que retomou suas agendas em Minas e no Nordeste após uma semana confinado por causa da Covid, é o de que a função exigirá ampla interlocução com o Congresso já em 2023. Esse desenho deixaria os técnicos em posições executivas na área econômica.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)