Análise: Governo e centrão apostam que nova direção da Petrobras está alinhada a Bolsonaro

Planalto e Congresso esperam que novo presidente apresente solução transitória para conter reajustes de combustíveis, diz Fábio Zambeli

A posse de Caio Paes de Andrade na presidência da Petrobras levou otimismo ao Planalto e à cúpula do Congresso Nacional, que esperam do novo comando da empresa uma solução transitória para estabilizar os preços dos combustíveis ao menos até outubro.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e os representantes do centrão acreditam que Andrade, após conturbado processo interno de validação do seu nome, terá respaldo institucional para driblar as pressões pela manutenção da política de paridade internacional, que hoje dita os valores praticados no país para o diesel e a gasolina.

O presidente e os congressistas que lideram sua base de apoio enxergam espaço para manobras internas que posterguem novos aumentos, abrindo margem para um debate nas instâncias de governança da estatal sobre a manutenção do PPI em médio prazo.

Como a preocupação desses atores políticos tem data de validade, ou seja, o primeiro turno das eleições, caberá a Andrade domar conselheiros e diretores por um período estimado em três meses.

Gestão de crise

O respaldo a Andrade veio de diversas frentes. Integrantes da ala ideológica do Planalto exaltam os feitos do ex-secretário de Paulo Guedes à frente do chamado “governo digital”.

Os filhos do presidente, sobretudo o deputado Eduardo e o senador Flávio Bolsonaro, fizeram questão de explicitar em público amplo apoio à nova presidência da companhia.

No QG de campanha bolsonarista, o entendimento é o de que o pacote de estímulos econômicos em debate no Legislativo, associado a uma estabilização nos preços dos combustíveis, podem melhorar o humor do eleitorado com a candidatura à reeleição do presidente, evitando ao menos um triunfo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no primeiro turno.

Já expoentes do centrão, como Arthur Lira (PP-AL), disseram a interlocutores que confiam na capacidade de Andrade “administrar o cenário”, cedendo aos apelos da classe política, mas sem deixar que se caracterize uma “intervenção” na política de preços, o que poderia gerar instabilidade no mercado e entre os investidores.

“A demanda é que exista equilíbrio e sensibilidade política. O que ele [Andrade] tem transmitido para a gente é que haverá essa disposição”, afirma ao JOTA uma fonte ligada a Lira.

O discurso adotado pelo presidente da Câmara combina com o adotado pelo Planalto. Bolsonaro cobra da gestão de Andrade uma “nova dinâmica” na Petrobras, evocando o “papel social” da empresa e atacando os lucros distribuídos aos acionistas minoritários, sem detalhar o que pretende.

Nada indica, contudo, que a perspectiva política mais construtiva acerca do novo comando da companhia vá desmobilizar líderes influentes no Congresso e no Executivo quanto à proposta de mudança na Lei das Estatais – demanda convergente entre parlamentares aliados e oposicionistas.

O objetivo desse grupo está menos ligado às pressões de urgência do governo para a crise dos combustíveis e mais relacionado às aspirações da classe política nas empresas no próximo quadriênio.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)