Agenda ESG ganha impulso em 2022

Para cumprir a meta de aquecimento global, será necessária a colaboração entre diversas entidades da sociedade. Entenda o porquê

Os últimos dois anos serão lembrados pela maior crise sanitária já enfrentada pelo planeta, com impactos sociais, econômicos e psicológicos que atingiram todas as nações. No momento em que essa crise começa a dar sinais de abrandamento, 2022 chega para desafiar a estabilidade global com o maior conflito armado em solo europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

É nesse contexto de pandemia e guerra que outro importante evento se manifesta: o entendimento definitivo das pessoas, organizações e governos quanto à urgência de união e esforço conjunto em torno dos temas ambientais, sociais e climáticos, essenciais para a manutenção da vida na Terra, do nosso sistema político-econômico e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

As discussões globais que ocorreram ao longo de 2021 e passaram a permear o debate público ajudaram a materializar temas fundamentais dentro do que chamamos de agenda ESG, sigla em inglês que se popularizou por definir as práticas de pessoas e organizações nas áreas de meio ambiente, sociedade e governança.

Em novembro passado, por exemplo, líderes do mundo todo se uniram na COP-26 para discutir a coordenação de ações entre países para diminuição das emissões de gases de efeito estufa, que, segundo dados científicos, são nosso principal desafio para a mudança climática. Agora, no Fórum Econômico Mundial, esses mesmos líderes expressaram posicionamentos firmes em defesa da democracia e do avanço dos acordos globais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Para cumprir a meta de contenção no aumento médio da temperatura em até 1,5º C nos próximos anos, será necessária a colaboração entre diversas entidades da sociedade, incluindo o sistema financeiro, cujo papel de relevante direcionador de recursos cria enorme responsabilidade na transição climática da economia.

Cientes dessa responsabilidade, cerca de 110 instituições financeiras de 40 países e aproximadamente US$ 70 trilhões em ativos, entre elas o Itaú Unibanco, se comprometeram a zerar as emissões de carbono de suas carteiras até 2050. Com a assinatura do compromisso Net-Zero Banking Alliance (NZBA), acordo mundial liderado pela ONU, a responsabilidade climática entra definitivamente no core business do sistema financeiro, deixando de ser assunto de ONGs ou áreas específicas dentro das organizações.

A mensagem é clara: bancos por todo o mundo estarão cada vez mais alinhados com as demandas da sociedade e o impacto climático de suas decisões de financiamentos e investimentos, sendo a governança a base para a boa execução dessa tarefa. No Brasil, o Banco Central lidera uma agenda robusta voltada à sustentabilidade, de modo a reforçar ainda mais o papel dos bancos nessa agenda. Na esteira desse movimento global, os três maiores bancos privados do país – Itaú Unibanco, Bradesco e Santander – criaram em 2020 o Plano Amazônia, ação conjunta que já está atuando para a preservação da floresta e o desenvolvimento sustentável da região.

Adicionalmente, as questões sociais, em especial o apoio e fomento à diversidade, como ações afirmativas para mulheres em cargos de liderança e desenvolvimento de carreira de pessoas negras, assim como o engajamento em causas emergenciais, são algumas das pautas em que vimos evolução na atuação das organizações, que têm se mostrado muito mais sensíveis às demandas da sociedade.

A diversidade de gênero, causa na qual tenho especial envolvimento por conta da minha atuação na WILL – Women in Leadership in Latin America, é um dos principais desafios que vejo não apenas para as empresas, mas para o país. O relatório “As Estatísticas de Gênero – Indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgado ano passado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mostra que as mulheres ocupam 37,4% dos cargos gerenciais e recebem 77,7% do rendimento dos homens.

Na esfera política, no entanto, o cenário é ainda pior. O mesmo instituto mostra que, em 2020, as mulheres eram apenas 14,8% entre os deputados federais, a menor proporção da América do Sul, e a 142ª posição de um ranking com dados de 190 países. Entre os vereadores eleitos, 16% eram mulheres. A representatividade feminina está relacionada a questões estruturais no Brasil e, por isso, acredito que proporcionar uma maior participação feminina em posições de liderança na iniciativa privada é fundamental para revertermos esse quadro em toda a nossa sociedade.

Nesse sentido, vejo um número cada vez maior de empresas implementando ações intencionais e afirmativas que garantam maior contratação de mulheres, o desenvolvimento de suas carreiras e a readequação das jornadas de trabalho, a fim de conciliar os diversos papéis que a mulher ocupa na sociedade. Posso citar como exemplo o próprio mercado financeiro, que historicamente é visto como um ambiente mais masculino, e hoje lidera algumas das ações mais relevantes quando o assunto é diversidade de gênero.

O investimento social privado é outra frente que tende a dar passos largos nos próximos anos. A pandemia despertou forte sentimento de solidariedade na sociedade, que gerou um novo olhar das empresas para a responsabilidade social e cidadania corporativa. Segundo dados do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, o total das 10 empresas que lideram o ranking nacional de doações em 2020 foi de R$ 5,4 bilhões. Trata-se de um valor significativo, mas se considerarmos que estudos similares apontam para um investimento corporativo total de R$ 6,9 bilhões no Brasil, fica claro que ainda há uma concentração grande dos investimentos por poucas instituições.

Muitos são os desafios sociais no Brasil, e, de acordo com o último Censo do GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas, a educação continua sendo o principal tema de atuação do investimento social privado no país, seguido por combate à pobreza e a fome e empreendedorismo e geração de renda. Milhões de brasileiras e brasileiros ainda passam por necessidades extremas em uma realidade de poucas oportunidades.

Diante de todo este novo cenário, o que se questiona, agora, não é a necessidade de mudar padrões de comportamento para sobrevivermos, mas sim se a velocidade desta transformação será rápida o suficiente para revertermos o jogo, de modo que consigamos, juntos, garantir um futuro melhor para todas as pessoas. Estamos no momento de repensar e ajustar modelos, seja na atuação das empresas, dos governos ou mesmo no dia a dia das pessoas. Não há mais tempo a perder. E você, já está fazendo a sua reflexão sobre como mudar seus padrões?