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Taxa de custódia do Tesouro Direto muda e pode fortalecer títulos públicos na disputa pelos recursos da poupança
A B3 anunciou uma mudança nas regras para o pagamento da taxa de custódia do Tesouro Direto. De acordo com especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, o novo método de cobrança é mais simples e pode atrair mais recursos para os títulos públicos. Por exemplo, do dinheiro investido pelos brasileiros na caderneta de poupança, que vem enfrentando sucessivas quedas.
O saldo da poupança caiu de forma sucessiva nos últimos quatro meses. Ao todo, os brasileiros já sacaram R$ 17,49 bilhões a mais do que investiram na poupança em 2024. A informação é do Banco Central e diz respeito até outubro desse ano.
Para especialistas, as novas regras do Tesouro Direto, que eliminam a burocracia de ter de manter dinheiro em conta para pagar a taxa duas vezes ao ano, podem fortalecer os títulos na comparação com a poupança.
“A mudança nas regras da cobrança da taxa de custódia do Tesouro Direto traz uma melhoria significativa na experiência do investidor. Antes, a taxa de custódia era cobrada semestralmente, o que exigia que o investidor mantivesse um saldo disponível em sua conta de custódia para cobrir essas cobranças”, avalia a assessora de investimentos Melany Guedes.
“Esse modelo gerava burocracia, pois o investidor precisava acompanhar o pagamento dessas taxas e, muitas vezes, garantir que o saldo estivesse disponível para isso”, completa. Vamos explicar as novas regras e o que elas impactam no dia a dia do investidor do Tesouro Direto.
O que mudou na taxa de custódia do Tesouro Direto
A taxa de custódia do Tesouro Direto, cobrada pela B3, é de 0,2% ao ano sobre o total do saldo. Isso permanece igual, sendo que o que muda é a forma de cobrança desse valor.
- Como era antes: Você pagava a taxa duas vezes por ano, nos primeiros dias úteis de janeiro e de julho. Para isso, muitas corretoras recomendavam que o investidor mantivesse saldo em sua conta nesse período.
- Como ficou agora: A taxa será descontada no momento em que o investidor receber o valor de volta. Seja no vencimento, em uma retirada antecipada ou caso o título tenha o pagamento de juros semestrais.
A regra vale já para a parcela de janeiro, que não será cobrada. Investimentos de até R$ 10 mil no Tesouro Selic seguem isentos da taxa de custódia do Tesouro Direto. A cobrança diferenciada para o Tesouro Renda+ e o Tesouro Educa+, em resgates ou nos pagamentos mensais, também está mantida.
Novo modelo fortalece migração de recursos da poupança para o Tesouro Direto?
Para parte dos especialistas ouvidos pela reportagem, sim, pois quanto menor a complexidade mais fácil de atrair o investidor que permanece na poupança. Hoje a caderneta tem uma rentabilidade garantida de cerca de 6,17%, enquanto a taxa Selic está em 11,25% ao ano.
“Tudo isso dá uma transparência maior e um planejamento financeiro mais adequado para quem quer sair da poupança e migrar para o Tesouro Direto”, avalia Rodrigo Marín, professor e coordenador do curso de Ciências Contábeis da Universidade Cruzeiro do Sul.
“Com a mudança, o Tesouro Direto se aproxima da simplicidade da poupança, com a vantagem de oferecer rendimentos superiores, sem as complicações do passado”, concorda Melany Guedes.
Contudo, para parte dos especialistas, a simplificação da taxa de custódia não muda de forma concreta as razões que levam muitos brasileiros para a poupança.
“Simplificar é sempre um ótimo caminho. No entanto, o que realmente carecemos no país é de conhecimento sobre as possibilidades de onde investir nosso dinheiro”, afirma Davi Gomes, assessor de investimentos. “Estou confiante que boa parte das pessoas não deixam a poupança por simplesmente ser um ativo mais tangível do que outros que são mais rentáveis”, argumenta.
Quando migrar da poupança para o Tesouro Direto pode não ser uma boa ideia
Os especialistas lembram que nem todos os títulos do Tesouro Direto funcionam da mesma maneira. Produtos como o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Prefixado possuem marcação a mercado, o que pode levar a perdas em caso de resgate antecipado.
“No Tesouro Direto, o tempo pode jogar a favor em comparação com a poupança [pela maior rentabilidade], mas também pode jogar contra”, diz ele, citando a possibilidade de resgate em um momento desfavorável.
Para os especialistas, o título que de fato mais se aproxima da poupança é o Tesouro Selic, que tem rentabilidade diária. “O Tesouro Selic é uma excelente opção para quem mantém recursos na poupança hoje. Além de ser mais seguro do que a própria poupança, por se tratar de um título da dívida pública federal, enquanto a remuneração dos depósitos de poupança é historicamente inferior”, afirma Davi Gomes.
Enquanto a poupança é isenta de IR e taxas, o Tesouro Selic possui cobrança de Imposto de Renda, que começa em 22,5% para aplicações de até 6 meses e chega a 15% após 2 anos. Contudo, mesmo descontado o imposto de renda, o Tesouro segue tendo uma rentabilidade mais elevada, de acordo com os especialistas.
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