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Fundo de recebível surfa boa onda da renda fixa
Empresas citadas na reportagem:
Os fundos de crédito estruturado têm experimentado uma boa fase em meio ao ciclo de alta de juros que pode levar a Selic de volta aos dois dígitos em 2022 – a taxa básica da economia brasileira já está em 9,25% ao ano. Com a demanda aquecida, gestoras de recursos especializadas não têm encontrado dificuldades para acessar o bolso do investidor e emplacar novas carteiras. Pelos dados da Anbima, no ano, até o dia 20, a categoria dos fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs) apresentava captação líquida de R$ 81,8 bilhões, com o patrimônio chegando R$ 272,5 bilhões.
A Quasar Asset está captando R$ 50 milhões para um portfólio que investirá em FIDCs, e pretende chegar a R$ 200 milhões até o fim de 2022. A relativamente novata Brave Asset, do ex-Valora Diego Coelho, está com um fundo novo em que o Itaú BBA origina os recebíveis por meio de seus clientes do agronegócio, enquanto a casa fica responsável pela gestão. A Nest tem colhido frutos da parceria com a Integral Investimentos na cogestão de uma carteira que também compra cotas de outros FIDCs. Em nove meses, angariou um patrimônio de R$ 40 milhões.
O veículo da Quasar dará ao investidor a possibilidade de acessar as cotas subordinadas e mezanino – o mais comum no mercado hoje é oferecer apenas as cotas seniores, de menor risco. A meta é ter um retorno de CDI mais 8% ao ano. O produto é fruto de uma parceria da gestora com a Quasar Flash (QFlash), fintech criada em 2017 que atua como plataforma de “embedded finance” (crédito incorporado), focada em oferecer de linhas de crédito para empresas de menor porte.
“A parceria com a QFlash nos dá a capacidade de estruturar inúmeras opções que auxiliam as companhias a resolver seus problemas de capital de giro e investimentos”, diz José Paulo Perri, co-CEO da Quasar. Por meio do fundo QuasarHigh Yield, a gestora vai estar junto com as companhias nas cotas subordinadas.
Os ativos-alvo são cotas mezanino e subordinada de FIDCs estruturados e geridos pela própria Quasar, que é gestora e investidora dos fundos tanto nas cotas sênior como nas cotas mezanino/subordinada.
Carlos Maggioli, CEO da QFlash, diz que o objetivo do fundo é oferecer crédito para entre 15 e 20 companhias. Na primeira fase serão cinco, sendo que duas delas já estão definidas: a varejista de óculos Chilli Beans e a alimentícia Ducoco. “As companhias pequenas e médias no Brasil precisam constantemente melhorar seus balanços e estruturas de capital para sobreviver, ainda mais neste momento de pandemia. O fundo vai ajudar nisso”, afirma.
Perri calcula que, quando o fundo tiver R$ 200 milhões em cotas subordinadas e mezanino, somando as cotas sênior – que não farão parte do Quasar High Yield – terá distribuído quase R$ 1 bilhão em crédito.
Maggioli lembra que o maior retorno esperado significa também mais risco. Ao comprar cotas subordinadas, o investidor está sujeito ao chamado “first loss”(primeiras perdas), mas o executivo diz que a companhia estudou as empresas que receberão o crédito.
Ele diz que, no caso da Ducoco, a indústria alimentícia tem entre seus principais clientes um dos maiores atacadistas do Brasil. “O histórico de inadimplência nos últimos três anos é de 0,4%. Ainda assim, o fundo tem 44% de subordinação, com coobrigação. Eu poderia executar a Ducoco antes de bater nas cotas subordinadas.” Na Chilli Beans, a QFlash tem o gravame de 100% da agenda de cartão de crédito dos franqueados, além de haver coobrigação da empresa.
A QFlash tem dois canais de originação. O primeiro, chamado de “integrados”, tem parceria com 15 grandes “hubs”, possibilitando a antecipação de recebíveis de forma massificada. Já no canal “estruturados”, se une com a Quasar Asset para oferecer soluções de crédito customizadas. A fintech deve terminar o ano com uma carteira de consultoria de R$ 150 milhões e espera chegar ao fim de 2022 com R$ 1 bilhão. Em setembro do ano passado, fechou uma captação de R$ 25 milhões liderada pela gestora americana Valor Capital.
Inicialmente o fundo será distribuído para alguns family offices e deve entrar em breve na plataforma do BTG. A carteira é destinada a investidores qualificados, commais de R$ 1 milhão em patrimônio financeiro, com prazo de resgate de 360 dias.
O casamento de fintechs de crédito com gestoras de recursos tem sido cada vez mais comum. A Solis, uma das mais tradicionais no segmento, tem trabalhado sob o modelo de “warehousing”, em que acumula ativos antes de levar um novo fundo amercado. A casa se aproxima de novatas de tecnologia financeira que tenham potencial de originação e testa cada uma delas dentro de um FIDC.
Criada há cerca de um ano e meio, a Brave Asset vai fechar 2021 com quase R$ 1 bilhão sob gestão, ao replicar o que Coelho fez por uma década na Valora, com agestão de diversos FIDCs com um fundo líquido em cima. Na parceria recentemente fechada com o Itaú BBA, as duas instituições dividem as cotas subordinada e mezanino, um colchão que dá segurança para o investidor em casos de inadimplência.
“É o filho mais novo da asset, mas com potencial gigantesco, nos dá tranquilidade na gestão e também na captação”, diz Luiz Paulo Martins Bastos, sócio-responsável pela área de relações com investidores da Brave. “Num momento de alta de juros, o crédito, a renda fixa como um todo, voltaram a ser queridinhos dos mercados.”
O tamanho do fundo vai ser guiado pela captação, já que a capacidade do Itaú BBA para originar créditos é expressiva, diz o executivo. Ele cita que o fundo não pode, contudo, crescer a ponto de criar uma concentração de ativos.
Além do veículo dedicado ao agronegócio, a Brave tem outros sete fundos entre multicedente, multissacado, carteiras que compram créditos do varejo, corporate e de médias empresas, além de consignado do INSS. Independentemente do fundo, as cotas subordinadas oscilam entre 25% e 30% do patrimônio. O originador entra obrigatoriamente nessas cotas, a fim de ter um alinhamento para que traga os melhores ativos, explica Bastos. São portfólios pulverizados, com tíquete médio deR$ 3 mil a R$ 5 mil e com perda histórica baixa, de 0,1%, diz.
Os três fundos, que compram cotas desses FIDCs, estão em plataformas como BTG,Warren, Guide e recém entraram na distribuição da XP. Bastos já vê a captação acelerando. “Os astros se alinharam. Quando montamos a Brave, logo veio a pandemia, os juros estavam a 2% e não havia reunião presencial, eu recebia 300 ‘nãos’ por dia”, diz. “Agora casou com a alta de juros, um ambiente mais volátil [paraoutros ativos] e a entrada na XP. A captação que era mais ativa, com sofrimento, agora é passiva.”
O fundo de risco moderado compra cotas seniores e mezanino, tem resgate em 90 dias após o pedido do investidor e busca retornos entre CDI mais 3,5% a 4% ao ano.O mais agressivo também investe em cotas subordinadas, e eventualmente certificados de recebíveis de crédito imobiliário e do agronegócio (CRI e CRA). Temcarência de 180 dias e uma expectativa de rentabilidade na casa dos 5% além do CDI. O fundo mais novo, com saque permitido em 30 dias, vai também proporcionar um resultado mais magro, buscando CDI mais 2% ao ano.
Na Nest, a área de renda fixa criada em setembro do ano passado vai fechar 2021 com cerca de R$ 100 milhões. Otávio Vieira, sócio responsável pela estratégia,observa demanda dos investidores por fundos mais baratos e retornos adicionais ao CDI mais estáveis do que as classes de multimercados e ações com desempenhos bastante dispersos nestes dois anos de pandemia.
Com fundos de crédito que conseguem capturar retorno adicional de 4%, 4,5% ao ano além do CDI, “é mais compensatório para um gestor de patrimônio alocar numarenda fixa bem feita e eventualmente fazer uma alocação tática em bons gestores”. Ele cita que estruturas mais complexas conseguem pagar IPCA mais 7%, algumas até 10%, enquanto algumas debêntures de companhias não listadas chegam a entregar CDI mais prêmio de 5% ou 6% ao ano. No FIDC com gestão compartilhada com a Integral, a meta é CDI mais 3% ao ano.
Com o início da distribuição na XP, Vieira espera que a captação ganhe tração. O gestor diz, contudo, que não pretende ter mais do que R$ 500 milhões nessa carteira, “porque se cresce demais o retorno tende a cair, o fundo tem resgate e se cria um ciclo vicioso ruim”.
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