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O risco aumentou: como identificar as oportunidades de investimentos agora?
Como diz o velho ditado: em lago que tem piranha, até jacaré nada de costas. A piora do ambiente econômico, interno e externo, trouxe preocupação a todos agentes do mercado. O nível de risco geral está mais alto e isso pressupõe juros mais altos. Em situações como esta não há saída, temos que olhar para nosso rico dinheiro com mais cuidado.
Internamente, a inflação está mais comportada. Mas, a questão fiscal e o cenário externo têm derrubado a bolsa e o dólar tem subido acima do esperado. A economia norte-americana, por seu lado, não estão ajudando em nada. A sequência de dados dos preços ao consumidor joga fumaça sobre a trajetória da inflação e sobre a queda de juros por lá.
A piora dos mercados faz com que os agentes financeiros admitam que a Selic sofra cortes menores nos próximos meses. Para maio, ainda há a estimativa de redução de 0,50 ponto percentual, mas não se admite que os juros continuem a cair no ritmo atual. As apostas estão de que a Selic feche do ano ainda na casa dos dois dígitos.
Consequências para o investidor
Em momentos como este devemos dar uma atenção especial aos nossos investimentos, procurando estar em porto seguro, mas buscando manter o retorno esperado para obtenção de nossos objetivos.
A preocupação aumenta porque, além do mar estar bravio, o ambiente começa a ser inundado por todo o tipo de “especialistas”, principalmente influenciadores, que tratam de espalhar as mais variadas teorias e medos.
Obviamente, prometendo oportunidades de altos ganhos. Muitas vezes indicando que devemos abandonar nossas estratégias financeiras e termos uma visão mais de curto prazo, realizando trocas de posições para mitigar os riscos e, ainda, obter ganhos em posições que não estevam visíveis a todos.
Cuidado! As coisas não funcionam bem assim. Lidar com o dinheiro exige planejamento, dedicação e conhecimento.
Carteira equilibrada
Movimentos bruscos e sem uma correta avaliação podem levar a perdas financeiras graves, principalmente se as mudanças forem feitas com base em especulação.
Decisões impulsivas e emocionais de maneira geral só trazem dor de cabeça. O risco da carteira aumenta e o retorno é incerto. Esse tipo de comportamento leva a ansiedade e muitas vezes desperta fobias financeiras.
Ausência de uma estratégia de investimento sólida e de longo prazo pode levar a resultados inconsistentes e dificultar a construção de riqueza ao longo do tempo.
No cenário atual eu não devo fazer nada?
Períodos de instabilidade econômica sem dúvida podem gerar novas oportunidades de investimentos, mas de maneira geral associadas a maior grau de risco.
Você pode fazer mudanças em seus investimentos. Mas, isso não é mandatório se você tiver uma carteira muito bem equilibrada em termos de risco e retorno e atrelada aos seus objetivos.
Janela para investimentos
O primeiro passo é identificar novas oportunidades. Você deve buscar no mercado classe de ativos que estejam oferecendo maior retorno relativo que o seu risco. Não é tarefa fácil e todos querem encontrar essas cerejas do bolo.
Na renda variável é utilizar-se de algum método de análise que permita você identificar aquela ação que esteja com valor abaixo do preço de mercado. Pode ser lançada mão de análise fundamentalista ou análise técnica (com base em gráficos).
Mas, isso exige muito conhecimento técnico e tempo. São dezenas de analistas financeiros realizando análises ao mesmo tempo sobre cada uma das ações de mercado e qualquer empresa que se destaque o preço é ajustado de imediato.
Uma das estratégias muito usadas é a chamada “timing do mercado” que envolve tentar prever os movimentos de curto prazo no mercado financeiro, antecipar-se as subidas ou descidas nos preços das ações e fazer negociações com base nessas previsões.
Essa abordagem busca comprar ativos quando os preços estão prestes a subir e vendê-los quando se acredita que os preços vão cair. Isso é extremamente difícil de ser feito de maneira consistente. Usualmente, o investidor cai em armadilhas emocionais e decide sem fundamentação.
Em vez de tentar cronometrar o mercado, o mais recomendado é uma abordagem de longo prazo, investindo sistematicamente e de forma diversificada, assim ficando menos suscetível às flutuações de curto prazo. Isso deve proporcionar retornos mais consistentes a longo prazo.
O tempo ainda é o fator decisivo nos investimentos.
Em busca de retorno acima de 1%
Em renda fixa a busca é por títulos que estejam oferecendo ganhos reais – retornos acima da inflação. O Brasil é o segundo país do mundo em termos de juros reais, mais de 6% acima do IPCA.
Atualmente o mercado de renda fixa no Brasil está com ganhos reais efetivos. O IMA geral* está com valorização de 11,23% no acumulado dos últimos 12 meses.
Os títulos do Tesouro direto como Tesouro IPCA+ 2029 (vencimento mais curto) está sendo oferecido com a taxa de 6,12% ao ano acima do IPCA.
Os títulos mais longos (2055) com rentabilidades de IPCA + 6,06% ao ano. São taxas muito altas e que usualmente ocorrem somente em momentos de estresse econômico.
Os títulos prefixados estão sendo negociados a 11,63% ao ano, embutindo taxas reais mais altas do que os pós fixados.
Sem dúvida uma janela de oportunidade para quem quer investir.
Risco de mercado
Assim, o investidor pode fixar um retorno para seus investimentos que não deve ser mantido pelo mercado por muito tempo. A tendência é que essas taxas fiquem mais comportadas com a solução dos imbróglios econômicos e políticos.
Por outro lado, o investidor que esteja querendo fazer trocas de títulos de sua carteira deve tomar alguns cuidados. Primeiro, ao comparar títulos deve fazer os cálculos em termos líquidos de retorno, considerando na conta o efeito de custos, impostos e outras taxas. Não fazer comparações em termos nominais.
Caso o investidor não pretenda levar o papel até o vencimento deve atentar ao risco de mercado. Dependendo do mercado, no momento da venda as taxas podem estar mais altas e consequentemente o valor do título estará mais baixo, assim a venda vender será com deságio.
Por outro lado, no momento da negociação as taxas poderão estar mais baixas e o valor do papel mais alto, venda com ágio. Mas, nesse caso há o risco de reaplicação que é ter de investir recursos num mercado de taxas baixas e, assim, não ser mantido o retorno esperado da carteira.
O investidor sempre estará frente a esses dois tipos de risco, mas essa situação pode ser evitada se o título for mantido até o seu vencimento. O ganho será aquele prometido no momento da compra.
Caso eu compre hoje um Tesouro IPCA+ 2029 a 6,12% ao ano, o retorno desse papel em 15 de maio de 2029 será exatamente esse do momento da compra. Claro, descontadas taxas e imposto de renda de 15%.
Aquele investidor que tiver em sua carteira um título que possa ser vendido com valor mais alto do que comprou, assim realizando ganho de capital efetivo, pode fazer a troca de papéis neste momento com potenciais ganhos de retorno. Mas, sempre tendo em mente os riscos de alienação antes do vencimento para os novos títulos.
Outros investimentos
Num mercado como o atual é muito comum acontecerem sugestões de aplicação de recursos em investimentos alternativos, como ouro e criptoativos.
Muitos advogam que o ouro é o porto seguro em momentos de crise. A despeito de hoje a compra de ouro ser algo mais fácil de ser realizado, o investidor precisa lembrar que o preço do metal andou de lado desde 2020 até fevereiro deste ano, quando começou uma rápida escalada, com subida de perto de 25% no preço.
Porém, desde o meio de abril está em queda. Quem entrar agora vai pagar caro e com preços em depreciação.
No caso de investimento em criptos, pode-se pegar a bitcoin como exemplo. Em um ano os preços do ativo subiram mais de 107%, num rali que chegou em março de 24 ao valor histórico acima de US$ 73 mil (mais de R$ 363 mil uma bitcoin).
Desde esse momento já caiu mais de 17%. Novamente, quem entrar nesse mercado vai pagar caro e preços em queda.
Performance dos investimentos
O investidor deve manter constante observação de seus investimentos, estando antenado as variáveis de mercado. Mudanças na composição da carteira de investimentos podem e devem ser feitas sempre que certos ativos apresentem uma performance pior do que o esperado. Mas, isso não significa que as reações devam ser apressadas.
Alterações nos investimentos devem ser antecedidas de um planejamento. As eventuais oportunidades devem ser analisadas, assim como o melhor momento para isso e custos das mudanças de posições. Em resumo, uma análise consistente de custo e benefício de maneira a buscar-se uma melhor relação risco-retorno. Isso demanda dedicação de tempo, recursos e conhecimento.
É essencial analisar os efeitos das mudanças de posições sobre o risco da carteira como um todo. Da mesma forma analisar quais as estratégias de investimentos estão sendo abandonadas e, consequentemente, como isso atrapalha, ou não, a obtenção dos objetivos traçados pelo investidor.
Por outro lado, pode ser argumentado que se alguém gastar muito tempo dando todos esses passos vai perder todas as oportunidades de mercado. Isso só é verdade para o investidor menos preparado. Mas, nesse caso é mais recomendado ainda não dar um passo maior que a perna.
Os movimentos de carteira repentinos e sem análises são apostas e não investimentos.
Os investidores mais bem preparados, por outro lado, conseguem fazer alterações de carteira de maneira veloz e competente, sem comprometer os seus objetivos financeiros.
Lembrando sempre que investir de maneira consistente e ao longo do tempo é ainda a melhor estratégia de investimentos.
As flutuações de curto prazo são apenas ruídos no caminho para o sucesso a longo prazo.
“A paciência é a principal qualidade de um investidor de sucesso. Investir a longo prazo requer a capacidade de suportar altos e baixos sem perder de vista os objetivos finais.” Charles Munger.
*IMA é calculado pela ANBIMA, ele consiste em um conjunto de índices calculados diariamente com base na carteira de títulos públicos federais em mercado. No Brasil, os títulos do Tesouro Nacional representam a maior parcela do segmento de renda fixa. Essa família conhecida como IMA serve como referência (benchmark) para aplicações de renda fixa.
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