‘O comportamento errado pode sobrepor a habilidade técnica’, afirma guru das finanças Morgan Housel

Nem todo o conhecimento do mundo pode fazer de uma pessoa a melhor investidora do mundo. Controlar suas emoções é mais importante que qualquer conhecimento técnico. Pelo menos é isto o que Morgan Housel defende. Ele é autor do livro “A Psicologia Financeira” e sócio do The Collaborative Fund, que foca em empresas de tecnologia. 

Housel acredita que controlar a ganância e o medo é um dos fatores mais importantes nos investimentos e que qualquer investidor que não fizer isto vai se dar mal. Para ele, nenhum conhecimento técnico é relevante sem que os investidores controlem suas emoções. 

Como pensa Morgan Housel

Em entrevista à Inteligência Financeira, o norte-americano explicou por que você pode estar entre os melhores investidores do mundo aplicando apenas em ETFs.

O ex-colunista do The Wall Street Journal ainda falou sobre o peso que as pessoas que nos cercam têm em nossas decisões de investimentos e como almejar ganhar mais dinheiro sem perder de vista as coisas que realmente importam na vida. Confira: 

É mais difícil ter competências técnicas ou comportamentais relacionadas ao dinheiro? 

É difícil ensinar comportamento até para pessoas muito inteligentes, porque não é algo analítico, você não pode resumir em fórmulas com gráficos e números. É uma soft skill; por isso, tende a ser ignorada em uma indústria cheia de pessoas com pensamento muito analítico, mas sabemos que a parte comportamental é a mais importante para o sucesso financeiro. 

Por que você considera as habilidades comportamentais mais importantes do que as técnicas? 

Você pode ser a pessoa mais inteligente do mercado financeiro, ser PhD em Finanças por Harvard, conhecer todas as fórmulas e ter todos os dados, mas se você não controla a ganância e o medo, nada disso importa. Você pode perder tudo. Não é que conhecimento e habilidades técnicas não sejam importantes. O comportamento errado pode sobrepor qualquer habilidade técnica. 

Como usar a psicologia financeira a nosso favor?

A parte mais importante é entender sua relação com ganância e medo. Há uma forte tendência em finanças de pessoas tentando encontrar uma solução mágica. Porém, cada um tem seus próprios objetivos, tolerância ao risco, aspiração social e situação familiar. Logo, duas pessoas terão conclusões diferentes sobre a melhor coisa a se fazer com o dinheiro que têm, já que somos todos diferentes.

No seu livro, você fala sobre o conceito do suficiente. O que é o suficiente em finanças pessoais?

É a ideia de que se suas expectativas crescem mais rápido do que sua renda, você nunca será feliz com seu dinheiro. Não importa quanto dinheiro você ganhe, isto sempre será verdade, é como uma cláusula pétrea do dinheiro. Ter dinheiro suficiente não significa que você não queira ganhar mais. Significa, apenas, que você precisa se esforçar muito para manter suas expectativas e aspirações em linha com a quantidade de esforço que você coloca na tentativa de fazer sua receita e patrimônio crescerem. 

Qual a importância das pessoas que nos cercam nas nossas decisões de investimentos?

Não há medida absoluta de fortuna. Todos medem quão bem estão indo se comparando com aqueles que estão ao seu redor, então as pessoas que nos cercam e inspiram têm a capacidade de impactar nossa avaliação sobre o quão bem estamos indo neste mundo. Há bilionários que só saem com decabilionários e se sentem pobres. 

Qual sua linha de pensamento nos investimentos? 

Eu mantenho as coisas o mais simples possível, com fundos de índice de baixo custo que eu nunca vendo. Faço isto porque quero focar totalmente em longevidade e resistência. Se posso ter o simples para ter consistência pelos próximos 50 anos, eu acho que posso estar no top 5% de todos os investidores. Retornos em linha com a média por um tempo acima da média pode levar te levar a lugares mágicos nessa indústria. 

Como o fator psicológico pode impactar investidores que operam na Bolsa?

A confiança sempre cresce mais rápido que a habilidade em mercados em alta. Duas coisas para se ter em mente: não ter FOMO (síndrome do medo de ficar de fora, na sigla em inglês) é crítico nos investimentos quando alguém sempre está te provocando a obter retornos maiores; e seus retornos durante toda a vida como investidor serão determinados por quão bem você se comporta nos períodos de pico de medo e ganância.