Carteira de renda mensal: investimentos para construir renda passiva
Títulos do Tesouro, fundos imobiliários, debêntures e ações. Saiba como montar uma carteira de renda mensal de acordo com gestores
A carteira de renda mensal é um passo importante na jornada do investidor. Da renda fixa à renda variável, existem alguns exemplos dentro do mercado financeiro brasileiro que podem propiciar rendimentos mensais constantes, ou a cada trimestre e semestre.
A Inteligência Financeira entrevistou especialistas em renda fixa, fundos imobiliários e ações para entender como o investidor pode montar uma carteira com o objetivo de ter dinheiro pingando na conta todo mês. Claro, sem perder a diversificação dos investimentos, os analistas elencaram ativos em que vale a pena ficar de olho.
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Qual é o melhor investimento para ter renda mensal?
Fundos de Investimento Imobiliário
Os Fundos de Investimento Imobiliário (FII) são o “feijão com arroz” de uma carteira de investimento de renda mensal. Isso porque os FIIs têm como função mais atrativa distribuir pelo menos 95% do lucro apurado trimestral ou semestralmente. E, portanto, são capazes de pagar dividendos mensais.
No mundo dos FIIs, “tem-se uma certa previsibilidade do que o investidor vai receber no final do mês”, explica Gabriel Marreta, gestor de fundos imobiliários da Kilima. Mas, por estar incluso na categoria de renda variável, os FIIs não são um reloginho suíço.
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O gestor explica que existem segmentos mais voláteis do que outros. Fundos de papel, ou seja, de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) são menos previsíveis. Esses fundos ligados ao CDI, Selic (juros nominais) ou IPCA (inflação) podem mudar o valor dos dividendos mensais, conforme seus índices de referência.
Fundos de logística, por outro lado, são mais previsíveis nos dividendos porque assinam contratos atípicos com inquilinos, afirma Marreta. Ou seja, uma garantia de que as empresas devem usar o espaço por mais de cinco anos. Caso contrário, elas devem pagar uma multa equivalente ao restante do contrato.
Onde investir em fundos imobiliários para ter carteira mensal?
A principal dica do gestor da Kilima para os investidores que procuram FIIs que distribuem bons dividendos é:
Analisar os ativos dentro do fundo imobiliário em questão
Gabriel Marreta, gestor da Kilima
Analisar, por exemplo, o emissor do ativo financeiro é crucial para entender o risco do fundo.
Além disso, o cotista deve olhar:
- Relatórios gerenciais: acompanhar o gestor e a estratégia do fundo;
- Qualidade do relatório gerencial: entender se as informações prestadas são claras ou confusas;
- Histórico de gestão: entender mudanças no portfólio dos ativos, seja de tijolo ou papel;
- Dividendos: se houver aumento ou diminuição, é necessário entender o porquê.
A carteira mensal de fundos imobiliários pode se beneficiar de uma alta generalizada do IFIX, o índice de FIIs da bolsa. Se no início do ano os fundos imobiliários estavam em grande parte descontados, o cenário hoje é o completo oposto. “Como falamos, já vimos esses últimos meses do IFIX ‘performando‘ muito bem. Vimos fundos voltando a patamares próximos do valor da cota patrimonial”, afirma Marreta.
Ele afirma que os FIIs de tijolo, por exemplo os de shopping centers e galpões logísticos, responderam bem à alta do IFIX no ano, de 11%.
Para uma carteira de renda mensal, o gestor sugere “olhar oportunidades descontadas”.
“Visto o cenário de melhora do mercado, acreditamos em descontos em fundos de CRIs e de tijolo, focado em lajes corporativas. Mas alguns fundos (de lajes) sofrem com uma alta vacância.”
Em sua carteira de renda mensal, o Itaú BBA destaca os seguintes fundos de laje corporativa e de papel:
- KNRI11 (Kinea Renda Imobiliária) – Papel
- KNCR11 (Kinea Rendimentos Imobiliários) – Papel
- HGCR11 (CSHG Recebíveis Imobiliários) – Papel
- HGRU11 (CSHG Renda Urbana) – Lajes corporativas
Como montar uma carteira mensal investindo em renda fixa?
A renda fixa é o “porto-seguro” da carteira de rendimento mensal do acionista. Mas, ao invés de pagar dividendos mensais como os FIIs, opções do Tesouro Direto podem pagar cupons semestrais. No ramo de títulos de crédito privado, debêntures incentivadas, CRIs e CRAs.
Tesouro Direto
Entre os títulos de dívida do Brasil emitidos pelo Tesouro, o investidor que quer montar uma carteira de renda constante deve olhar para o Tesouro Direto Prefixado ou IPCA+, ou NTN-F e NTN-B.
Esses dois títulos distribuem cupons de juros semestralmente. A principal diferença é que o Tesouro Direto Prefixado repassa os valores em janeiro e junho, enquanto as NTN-Bs pagam em fevereiro e agosto ou em maio e novembro.
“Ao montar uma carteira de renda passiva composta por ativos de renda fixa, é fundamental prestar atenção à data e à frequência de pagamento de juros dos títulos selecionados”, aponta Victoria Cardozo, especialista de renda fixa da Acqua Vero.
Entre opções atrativas na renda fixa para uma carteira de renda mensal, Luiz Gustavo Pereira, superintendente de investimentos na Guide, indica dois títulos:
- Tesouro Prefixado 2033: taxa de 11,76%
- Tesouro IPCA+ 2032: taxa de IPCA + 5,63%
Debêntures, CRIs e CRAs
O mercado de crédito privado, por sua vez, oferece ativos que pagam juros reais mensais, assim como uma amortização no vencimento do título. Este último valor deve equivaler ao montante inicial investido.
E uma estratégia para entrar no mercado de crédito privado é por meio de fundos de investimento. “Mensalmente o fundo amortiza uma parte da dívida e ainda paga a correção dos juros”, afirma Pereira, da Guide.
Outra tática é investir diretamente em debêntures. As de infraestrutura são isentas de imposto de renda na fonte, lembra o gestor. “Existe um período de carência de 12 meses em que o fundo não paga nada”, complementa.
Onde o investidor tem que ficar muito atento? Ele tem que ver qual o fluxo de amortização do ativo. Isso determina o pagamento de todo mês
Luiz Gustavo Pereira, superintendente de investimentos da Guide
Abaixo, Pereira nomeou algumas opções de crédito privado para uma carteira de renda mensal em renda fixa:
Título de crédito | Juros | Taxa | Vencimento | Prazo de Amortização |
---|---|---|---|---|
Debênture Incentivada Energisa | Semestral | NTN-B30 + 0,45% ou IPCA + 5,50% | 2030 | No 6º e 7º ano |
Debênture Incentivada Energisa | Semestral | NTN-B32 + 0,70% ou IPCA + 5,85% | 2033 | No 8º, 9º e 10º anos |
CRA Raízen | Semestral | NTN-B30 + 0,30% ou IPCA + 5,30% | 2030 | 2030 |
CRA Raízen | Semestral | NTN-B33 + 0,45% ou IPCA + 5,65% | 2033 | 2033 |
CRA Raízen | Semestral | DI jan /2033 + 0,40% ou 11,10% | 2033 | 2033 |
CRI Iguatemi | Semestral | CDI + 0,55% | 2028 | 2028 |
CRI Iguatemi | Semestral | 105% CDI | 2028 | 2028 |
CRI Iguatemi | Semestral | CDI + 0,60% | 2030 | No 6º e 7º anos |
CRI Iguatemi | Semestral | 106% CDI | 2030 | No 6º e 7º anos |
Em quais ações investir para ter uma carteira de renda passiva?
Em renda variável, as melhores ações para compor uma carteira mensal são as que focam em distribuição de dividendos. Os papéis cujo foco estão em remunerar o acionista de forma constante se concentram em setores mais resilientes na economia. Portanto, menos sensíveis aos juros ou dependentes da inflação, afirma Felipe Molinari, head de ações da DOM Investimentos.
“Basicamente se concentram no setor de utilidades, como o de serviços básicos em saneamento e energia, ou no setor financeiro, com bancos”, comenta.
Molinari apontou algumas ações de empresas que pagam bons dividendos e JCP para se ter na carteira de forma constante:
- Banco do Brasil (BBAS3)
- BTG Pactual (BPAC11)
- Copel (CPLE6)
- Itaú (ITUB3;ITUB4)
- Sabesp (SBSP3)
- Sanepar (SAPR4)
- Taesa (TAEE11)
Além dessas ações, o gestor explica que algumas entradas na bolsa vêm rendendo bem para acionistas neste ano. É o caso da Petrobras (PETR3;PETR4): a empresa recentemente renovou sua máxima na bolsa de valores e é, por enquanto, a maior pagadora de dividendos da B3 no ano.
“Um investidor que colocou R$ 1.000 em ações da Petrobras recebeu R$ 670 em dividendos”
Felipe Molinari, head de ações da DOM Investimentos
Outra empresa que pode recuperar o espaço na carteira de renda mensal é a Vale. Neste ano, a Vale deve recuperar o yield em dividendos, fechando 2023 com 6% a 7% de DY segundo os cálculos do gestor.
“A Gerdau (GGBR4) é um terceiro caso. Desde 2021, entrega acima de dois dígitos em dividendos, com algo em torno de quase 14% de yield em 2023”, prossegue Molinari.