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A volta dos IPOs de tech nos EUA: como isso afeta o Brasil?
Em 14 de setembro, quando a fabricante de chips inglesa Arm fez seu IPO na Nasdaq, com ações valendo US$ 51 e um valuation que bateu US$ 54 bilhões, já fazia 20 meses que um grande IPO de tech não acontecia nos EUA. O último havia sido o da Rivian, uma startup que fabrica caminhões elétricos e levantou US$ 14 bilhões em novembro de 2021. Ou seja: dizer que esse era um evento antecipado é pouco.
De lá para cá, além da Arm, fizeram também as suas ofertas públicas a Instacart, uma startup de entregas de compras de supermercado, e a Klaviyo, uma plataforma de automação de marketing digital. Vamos analisar cada uma delas e depois tentar entender o que esse cenário pode desvendar sobre o mercado Latino Americano.
O IPO da Arm
A Arm foi o maior IPO de 2023 e um dos maiores desde 2021. Mesmo que o preço fixado de suas ações tenha sido um pouco mais baixo do que o esperado, elas abriram as negociações a US$ 56,10, um aumento de 10% em relação ao preço do IPO.
Logo em seguida, dispararam ainda mais, subindo mais 25% e fechando o primeiro dia a US$ 63,59. Depois disso caíram consideravelmente, e agora parecem estar se estabilizando num valor próximo ao do IPO.
Ainda falando de IPOs de tech, olhando para o IPO da Instacart, vemos um comportamento parecido com o da Arm. Um grande salto inicial no valor das ações, seguido de queda, e uma tendência à estabilidade. A empresa levantou US$ 660 milhões após um valuation US$ 9,9 bilhões. As ações abriram a US$ 42, depois de um preço fixado de US$ 30. Parece ótimo, mas se levarmos em conta que há dois anos ela valia US$ 39 bilhões, percebemos o tamanho da anomalia que foi 2021.
Pouco mais de um mês após o IPO, em 24 de outubro, as ações da Instacart eram negociadas a U$ 26,40, 12% abaixo do valor inicial. Isso pode indicar que o mercado segue preocupado com inflação, juros e, mais do que nunca, com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
Analisando o caso da Klaviyo, vemos a história se repetir, apesar de seu valuation não ter variado tanto de 2021 para 2023.
Assim, em 2021, a empresa valia US$ 9,5 bilhões. Quando ela fez IPO em 20 de setembro valia US$ 9,2 bilhões, com ações fixadas em US$ 30, levantando assim U$ 345 milhões.
As ações abriram a U$ 36. Porém, fecharam o dia a R$ 32. E agora estão são negociadas por US$ 29,12 – das três empresas abordadas aqui, a que menos oscilou desde seu IPO.
O que podemos concluir para LatAm?
Bom, primeiramente, apesar da performance posterior não ter sido animadora, os IPOs de tech recentes trouxeram esperança para o ecossistema na América Latina. E também para o mercado de capitais como um todo.
Se olharmos apenas para Brasil, foram 18 follow-ons na B3 no ano de 2023 – porém nenhum do setor de tecnologia. Já o número de IPOs no ano foi zero, comparado às 52 transações em 2021.
Essa esperança já tem um efeito importante. Achamos que, tudo mais constante, no ano que vem vamos começar a ver uma retomada nos IPOs.
Porém, o ponta pé inicial virá de setores tradicionais. Do lado dos IPOs de tech, as empresas em estágio avançado já começaram a se preparar – e estão de olho nessas ofertas recentes dos EUA. Parece ser consenso para os investidores que, diferente de 2021, empresas de tech precisam de lucratividade (ou pelo menos um caminho claro para tal).
Otimismo cauteloso
A figura que emerge de todo esse cenário é de um otimismo cauteloso.
Mesmo que as ações dos IPOs de tech recentes nos EUA não estejam performando acima da média, também não estão em queda livre.
Além disso, o simples fato desses IPOs destravarem um mercado antes congelado já sinaliza que a retomada deve se consolidar em 2024. Aguardaremos as cenas dos próximos capítulos.
*Texto de Julia de Luca, colunista do íon, onde o artigo foi publicado originalmente. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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