Sidney Klajner, do Einstein: ‘A tecnologia vai possibilitar vidas mais saudáveis’
Einstein expande seu braço de ensino e pesquisa com investimento de R$ 700 milhões
A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein inaugura oficialmente em junho, na zona de sul de São Paulo (SP), o seu novo Centro de Ensino e Pesquisa (CEP). O moderno prédio (ver abaixo), projetado pelo arquiteto israelense Moshe Safdie, que criou o Museu do Holocausto de Jerusalém, tem 44 mil metros quadrados, oito pavimentos, teto de vidro para permitir iluminação natural, plantas nativas da Mata Atlântica, eficiência energética e custou R$ 700 milhões. Tudo foi idealizado – e desenhado – para ser um espaço de convivência central, com intuito de aproximar estudantes e pesquisadores.
Em entrevista à Inteligência Financeira, o médico Sidney Klajner, presidente do Einstein, fala da expectativa de ver o centro em pleno funcionamento. Ao todo, a estimativa é que até 6.300 pessoas circulem diariamente pelo espaço. Além da assistência aos pacientes, Klajner diz que o novo centro vai fortalecer os outros pilares da instituição: o ensino, a educação, a pesquisa e a inovação.
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Na avaliação do médico, as salas de aula e laboratórios vão contribuir para fomentar o conhecimento e impedir a saída de profissionais qualificados do país, que muitas vezes vão embora para o exterior por falta de investimento. Por outro lado, na projeção de Klajner, os trabalhos que serão desenvolvidos no espaço vão apoiar uma medicina cada vez mais personalizada, com diagnósticos e tratamentos específicos e mais eficientes.
Leia a seguir trechos editados da entrevista com Sidney Klajner.
Capacidade científica desperdiçada
“Nos últimos anos, especialmente nos que antecederam a pandemia, a gente viu cada vez mais uma diminuição do investimento do fomento à pesquisa. Nós temos no Brasil cabeças extremamente boas e criativas. Cientistas muito bem formados, que, por falta de condições de investimento para projetos, acabam saindo do país.
A pandemia mostrou para gente que muitas entrevistas sobre o assunto eram dadas por brasileiros que estavam fora. Eles tinham que estar aqui.
Precisamos de investimento em programas que levem a uma pesquisa de qualidade e leve o Brasil a fazer parte de um seleto grupo de países que são detentores de pesquisa de vanguarda.”
A importância de gerar conhecimento
“Ao longo da pandemia, nossos pesquisadores se reuniram e analisaram mais de 30 mil artigos para fornecer uma informação confiável. Porque a gente precisou comprovar a eficácia de alguns medicamentos.
O instituto de pesquisa do Einstein já ocupava um papel de destaque como a organização privada de maior número de publicações em artigos e citações de artigos. Com o novo prédio, a gente demonstra a importância que o Einstein dá para a pesquisa, o quanto ela desempenhou papel fundamental no enfrentamento à pandemia quando foi chamada.
Ter neste ambiente laboratório de pesquisas de vanguarda vão fazer diferença no tratamento, no diagnóstico de doenças, que hoje são desafiadoras.”
Retorno para a sociedade
“A pesquisa acaba validando as perguntas que a assistência faz, para trazer novas tecnologias, novos medicamentos ou novas práticas assistenciais. E isso vai contribuir, porque tudo que é feito aqui, nós buscamos levar para a sociedade em geral por meio das parcerias públicas.
Através do conhecimento gerado, a tecnologia pode contribuir para vidas mais saudáveis.”
Ciência (vacina) questionada
“Quem faz o tipo de comentário de que ‘as vacinas contra covid ficaram prontas rápido demais e por isso não seriam confiáveis’ é alguém totalmente desinformado do que acontece em pesquisa. A tecnologia já era estudada há muitos anos e de domínio de pesquisa. O que precisava? Adequar para este tipo de vírus.
Então, quando colocamos o tempo urgente, com o mundo inteiro envolvido no processo, temos uma agilidade para que tecnologia que estava sendo pesquisada seja adequada para aquela finalidade.
Agora, com o novo polo de pesquisa e um maior número de centros, a gente pode produzir o imunizante aqui mesmo. Porque vamos ter cientistas e ambiente adequado para isso ser realizado.”
Medicina personalizada
“A medicina de precisão, a grosso modo, sai de um modelo que a medicina tem de tratar a média do que acontece com os pacientes e passa a ter um tratamento individualizado, baseado naquele paciente.
Isso pode ser através do sequenciamento do seu genoma. Por exemplo, eu sei que este tipo de genoma pode aumentar o risco de tais doenças. Ou, este tipo de genoma não responde a um determinado tipo de tratamento. Ou o médico pega um tumor que acabou de operar e sequencia o genoma do tumor para saber as características.
A partir disso – e da capacitação contínua dos profissionais – vamos construindo um banco de dados para aperfeiçoar os diagnósticos e termos tratamentos mais específicos e melhores.”