Ata do Copom indica taxa Selic a caminho do pico desde Lula 1

O cenário de inflação acima da meta está se prolongando, e isso pode exigir Selic alta por mais tempo. Este foi um dos alertas da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que veio a público nesta terça-feira (4).
O documento explica porque o colegiado do Banco Central elevou a taxa de juros de 12,25% para 13,25% ao ano na última quarta-feira (29).
Mais do que isso, o órgão reforçou que, mantido o atual cenário, subirá a Selic na mesma magnitude em março.
Não houve sinalização explícita sobre o que virá depois disso.
Mas, a julgar pelo tom duro do documento, novas altas virão, o que deve levar a taxa para cima de 15% ao ano, como prevê a maioria dos economistas.
Isso seria o maior nível desde 2006, ainda durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ata do Copom mostra BC alarmado com inflação
Em vários trechos da ata, o Copom mostra grande desconforto com a inflação.
A seguir, confira alguns trechos do documento:
“O cenário prospectivo de inflação segue desafiador em diversas dimensões”.
“Nos últimos trimestres, a atividade econômica, a despeito da política monetária contracionista, surpreendeu positivamente e manteve dinamismo”.
“Os preços de alimentos se elevaram de forma significativa”.
“O movimento recente do câmbio pressiona preços e margens da indústria”.
“A inflação de serviços segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta”.
“A inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses”.
“O balanço de riscos permanece assimétrico indicando maior probabilidade de uma inflação mais elevada do que aquela contemplada no cenário-base”.
Ata desmonta tese de cavalo de pau do BC sob Galípolo
O tom do documento ajudou a desfazer visões discordantes no mercado sobre a abordagem da autoridade monetária sobre condução da política monetária.
A reunião da semana anterior foi a primeira sob comando de Gabriel Galípolo, que também marcou a estreia de outros quatro diretores.
Os cinco, de um total de nove, são todos de indicação do governo Lula.
Como Lula foi um crítico do antecessor de Galípolo, Roberto Campos Neto, em relação à política de juros altos, havia entre economistas o temor de que essa transição marcasse uma virada na visão do BC, eventualmente tornando-se mais tolerante com a inflação.
Mas não foi o que aconteceu. Por um lado, o órgão mencionou que a inflação deve ficar acima do teto da meta por pelo menos mais seis meses.
De outro, alertou para a ‘desancoragem das expectativas de inflação para prazos longos’, que “é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”.
Com isso, economistas observaram em relatórios que a ata ajudou a esclarecer percepções discordantes no mercado sobre a visão do BC sobre a inflação.
“A ata do Copom apresentou um tom mais duro do que o comunicado”, afirmou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.
Assim, as projeções para elevação da Selic após a reunião de março se mantiveram.
Instituição | Em que nível a Selic vai parar de subir em 2025 |
Itaú | 15,75% |
Bradesco | 15,25% |
XP | 15,50% |
Copom atento à possível desaceleração da economia
Assim como sinalizou na semana anterior, o Copom frisou que está atento a possíveis sinais de desaceleração da economia.
Em princípio, isso poderia vir tanto de um esfriamento econômico global quanto de menor consumo das famílias no País.
Porém, notou o BC, “no passado também houve dados que sugeriam desaceleração, percepção que foi revertida em meses subsequentes”.
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