André Esteves: ‘PEC da Transição, como aprovada, piora as condições para o investimento privado vir’

O banqueiro avalia que o valor de gasto autorizado pode ter como consequência aumento da dívida pública e da taxa de juros

O chairman e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves. Foto: Claudio Belli/Valor
O chairman e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves. Foto: Claudio Belli/Valor

O presidente do conselho de administração do BTG Pactual, André Esteves, afirmou na quinta-feira (8) que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, tal como aprovada pelo Senado, “piora as condições para o investimento privado vir [ao Brasil]”. Ele classificou o valor total aprovado para gastos com a norma, próximo de R$ 200 bilhões, como “exagerado”.

“Eu acho que a questão, quando ela sai do lado prático e vai para o lado ideológico, a gente começa a seguir um caminho que não é o melhor caminho”, disse Esteves durante um evento promovido em São Paulo pela entidade RenovaBR.

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Ele sustentou que o tamanho da autorização dada pelo Senado produzirá um déficit maior, que terá como consequência aumento da dívida pública e da taxa de juros. No fim do ciclo, previu, “o capital privado não vai investir.”

O banqueiro lembrou que a atual taxa de investimento no país, ligeiramente acima de 19% do Produto Interno Bruto (PIB), é composta majoritariamente de investimentos privados.

“O investimento federal sobre o PIB é de 0,4%. O [percentual] mais alto nos últimos 40 anos, entre o final do governo Lula e primeiro mandato do governo Dilma [Rousseff], foi em torno de 1%”, disse. “Na melhor das hipóteses, o investimento privado é 20 vezes o investimento público.”

O risco com o eventual refluxo do investimento privado, prosseguiu, seria de o investimento total recuar para algo entre 14% e 15% do PIB, ainda que a fatia do investimento do governo federal aumente.

“Ou seja: para a gente ganhar 0,5% [de aumento do investimento federal], nós vamos abrir mão de 5% [de investimento privado]”, comparou. “Me parece que, factualmente, estamos andando na direção errada.”

Antes de repetir que enxerga o valor autorizado pelo Senado no texto da PEC como “um exagero”, Esteves ressaltou que acha importante que cada governo tenha “certo volume de investimento, deixe sua marca” e faça políticas em áreas em que capital privado não atua.

Sem citar nominalmente o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Esteves afirmou ainda que leu uma entrevista do político dizendo que poderia taxar dividendos ao ser confrontado com a hipótese de descontrole fiscal. “Aí é pior ainda, né? Aí vai ter menos investimento ainda.”

Na saída do evento, ao ser questionado pelo Valor a respeito de qual seria o montante de gasto autorizado adequado para a PEC, Esteves afirmou que seria algo próximo a R$ 120 bilhões.

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