Sem empurrão do agro, petróleo pode ser a estrela do PIB em 2024, diz Sérgio Vale, da MB Associados
Para economista, país espantou recessão técnica em 2023, mas dificilmente vai escapar de variação negativa no final do ano
Sem o empurrão do agronegócio, que com os impactos do El Niño deve ter dificuldades para repetir os resultados deste ano, o petróleo pode ser o elemento surpresa da economia em 2024. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o óleo combustível pode turbinar o PIB do Brasil no ano que vem, que, segundo ele, sem a ajuda de um ciclo de commodities estará fadado a uma expansão anual de, no máximo, 2%.
Nesta terça-feira (5), o IBGE informou que o PIB do Brasil cresceu 0,1% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre de 2023. Assim, a economia do país acumula um avanço de 3,1% em 12 meses.
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O dado foi recebido com surpresa pelo mercado, que projetava uma queda de até 0,3% no período, muito em função da correção do setor agro, que carregou a economia nos dois primeiros trimestres do ano.
“Quem pode ter um peso importante (no PIB do ano que vem), que a gente precisa acompanhar, é o petróleo”, afirmou Sérgio Vale, em entrevista exclusiva ao portal Inteligência Financeira.
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“A grande estrela (da economia) vai ser petróleo. Vai ser menos agricultura, vai ser mais petróleo no ano que vem”, diz.
Assista a entrevista completa:
Para além do petróleo: alta do PIB afasta risco de recessão
Com a alta surpresa de 0,1% no PIB do terceiro trimestre, Vale aponta que o Brasil espantou o risco de uma recessão técnica, que é quando se registra dois meses seguidos de queda no indicador da economia. No entanto, dificilmente o país vai escapar de uma variação negativa nos últimos três meses do ano.
“O quarto tri vai ser mais fraco no geral”, afirma o economista, que projeta uma retração de 0,4% no final do ano.
“A gente teve uma Black Friday que não foi a melhor das Black Fridays. Quer dizer, ficou aquém do que se imaginava”, conta ele. “A expectativa em relação a Natal começou também a influir, a ficar um pouco pior”, observa.
Desenrola pode ajudar
O que pode ajudar no PIB do quarto trimestre, lembra Vale, é o Desenrola, programa do governo federal que renegocia as dívidas principalmente da população da baixa renda. Os efeitos do programa podem impactar na alta do consumo das famílias, rubrica que obteve o melhor desempenho dentro da atividade econômica, com alta de 1,1% no período.
“(O Desenrola) eventualmente pode abrir um espaço de retomada de crédito para essa população, agora no Natal. Depende disso para a gente ter um resultado um pouco melhor no quarto tri.”
Inflação de alimentos
Um outro fenômeno que Vale destaca que pode respingar negativamente no desempenho do último período é a inflação concentrada nos alimentos.
“A renda real está começando a ser impactada pela volta da inflação no final do ano. Não a inflação geral, ela está sob controle, mas a inflação de alimentos está voltando com uma certa força nesse final de ano”, diz.
“Novembro, dezembro, vai vir (a inflação) também em janeiro, e tende a tirar um pouco de renda disponível, especialmente na população mais pobre.”
Selic e petróleo… o PIB nos próximos anos
Uma outra boa notícia além da questão do petróleo virá com a redução da Selic. A taxa básica começou o ano a 13,75 ao ano e, neste momento, está em 12,25% ao ano. Nas projeções da MB Associados, ela deve chegar a 9,25% no meio do ano.
“Isso pode ajudar um pouco a economia, especialmente no segundo semestre (de 2024). Então, se os juros começam a cair, você consegue crescer entre 1,50% e 2%. Não dá para crescer muito mais do que isso, porque, definitivamente as commodities vão entregar menos. E aí, vai ser o primeiro ano em que o mercado vai conseguir acertar a projeção de início de ano”, destaca.