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A Vaquinha do Corinthians mostra os dois lados do futebol: a paixão e a fúria
Em pleno Black Friday começou a tão falada “vaquinha” dos torcedores do Corinthians para arrecadar fundos que servirão para pagar os R$ 700 milhões de dívidas da Neoquímica Arena.
E o começou foi arrasador: em 24 horas foram mais de R$ 7 milhões arrecadados na Vaquinha do Corinthians, e, segundo fontes, com cerca de 250 mil pessoas doando.
Vaquinha do Cortinthians: exemplo da Itália, Inglaterra e Alemanha
Já escrevi sobre o tema anteriormente, indicando que este tipo de ação não é novidade no futebol, com casos na Itália, Inglaterra e Alemanha, com uma diferença importante: os recursos aportados tinham sempre alguma contrapartida.
Por exemplo, no caso do Union Berlina, da Alemanha, a contribuição servirá para ampliar o estádio, mas todos que doarem receberão ações e serão donos do estádio. Na Inglaterra o Watford fez algo semelhante, e a contrapartida foi receber ações do clube.
O que a ação tem em comum com o Teleton
Já com a Vaquinha do Corinthians, a contrapartida é apenas emocional. Algo como doar para o Teleton ou Criança Esperança: faz-se pelo apelo do coração.
Como comparação, o Teleton arrecado em 2024 R$ 36 milhões, número bastante bom, pois a meta era de R$ 35 milhões.
Os números da Vaquinha do Corinthians são “ligeiramente” mais arrojados. Pelos números iniciais é possível indicar que o ticket médio da doação foi algo em torno de R$ 35,00. Se seguirmos nessa toada, faltam 19,8 milhões de pessoas doarem a mesma quantia para atingirmos os R$ 700 milhões de demanda.
Vamos então aterrizar, porque é preciso sempre um pouco de parcimônia na avaliação de tudo. A imprensa destacará os R$ 7 milhões arrecadados, porque caça clique e atenção. Eu faço contas e proponho alternativas.
Se no lugar de uma vaquinha fosse feito um processo organizado a partir de um fundo imobiliário, ou uma estrutura que compraria o estádio em troca de participação e alguma remuneração – mesmo que simbólica – seria possível aumentar o ticket médio. Inclusive, atrairia empresas e fundos, que associariam seus nomes ao negócio. Adicionaríamos racionalidade ao apelo ao coração.
Significa que tenho certeza que não dará certo? Não, claro que não.
Apenas precisamos tratar o tema com racionalidade. Os processos de captação de recursos possuem picos de adesão nos primeiros dias, e depois a coisa arrefece. E a arrecadação será grande.
Não duvido nada que chegue a R$ 150 milhões ou R$ 200 milhões. Mas num país cuja renda média é na casa de R$ 2,8 mil no Estado de São Paulo, e se considerarmos que a doação compete com a compra do mês, a prestação do celular, a aposta online, há um limite na capacidade de mobilização.
A força do futebol na Vaquinha do Corinthians
Se chegarmos a esses valores já terá sido uma mobilização espantosa. Tenho certeza que muitos que não contribuiriam estão repensando, e outros contribuirão mais de uma vez.
Estamos vendo a força do futebol, que tem dois lados: o da paixão a favor, e da fúria contra, quando as coisas não vão bem. A mesma bandeira que tremula num gol é a que ameaça atletas na porta do centro de treinamentos.
Por isso o futebol é tão mágico. E por isso que fazer futebol requer mais que paixão, e menos arrogância de quem está de fora e acha que fazê-lo da forma correta é fácil.
Parafraseando Shakespeare: há mais coisas entre o vestiário e a arquibancada do que supõe a arrogância do escritório.
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