Deslistagem do Carrefour: Península embolsa R$ 850 mi, e acionistas aguardam assembleia

- A Península Partners vendeu sua participação de 4,9% no Carrefour Brasil por R$ 850 milhões, lucrando com a alta da cotação.
- A deslistagem do Carrefour da B3 deve ser aprovada em assembleia na sexta-feira (25).
- A oferta de R$ 8,50 por ação, acima do preço de compra da Península, atrai investidores.
- A alta concentração de acionistas-operadores aumenta a probabilidade de aprovação da deslistagem.
- O Carrefour busca simplificar sua estrutura e evitar o escrutínio do mercado.
Empresas citadas na reportagem:
O Carrefour Brasil está prestes a avançar com o plano de deslistagem da empresa do mercado de ações, numa votação em assembleia geral extraordinária na sexta-feira (25), em que é grande a possibilidade de ser aprovada a proposta da empresa, segundo apurou o Valor.
Uma série de fatores anteriores à votação reforçam essa possibilidade, mas antes mesmo de recentes mudanças na base acionária da empresa, acionistas minoritários já consideravam difícil barrar o plano da varejista, como o Valor antecipou em fevereiro.
Segundo investidores da rede ouvidos, o aumento da base de ações da empresa no mercado (“free float”) nas últimas semanas levou a uma maior concentração de acionistas com perfil de arbitradores, operadores que exploram a diferença de preços de compra e venda entre os mercados.
Isso tende a aumentar a adesão à oferta de R$ 8,50 por papel, uma das propostas dos controladores da rede, dizem dois fundos com posição no papel.
Pelos cálculos de minoritários, parte representativa do “free float” hoje tem em mãos ONs (ações ordinárias) compradas abaixo da faixa de R$ 8,15 a R$ 8,20.
Neste momento, a ação ronda R$ 8,60, acima dos R$ 8,50 ofertados, com volume mais baixo de negócios do que nas últimas semanas, e papel subindo bem abaixo do Ibovespa, na faixa de 0,8% ao longo do dia.
Península se manifestava favoravelmente à deslistagem
Na prática, inicialmente, a Península se manifestava favoravelmente à operação de deslistagem, como o Carrefour informou em comunicado publicado na França, em 11 de fevereiro.
Como parte do acordo de acionistas e do bloco de controle junto aos franceses, a gestora tinha conhecimento da operação e seu aval foi mencionado no release da proposta como sinal de validação à estratégia pelos franceses.
Nesse release publicado pela varejista na bolsa de Paris em fevereiro, o Carrefour dizia que a deslistagem havia recebido total apoio da Península, porque ela estava “convencida” de que a transação criará valor para todos os “stakeholders” (partes interessadas).
Já naquele momento, os franceses afirmaram que a gestora havia optado pela conversão de todas as suas ações brasileiras em ações do grupo Carrefour.
“A Península indica que esta decisão reforça sua confiança na administração e na perspectiva do grupo, bem como seu compromisso como maior acionista do Grupo Carrefour”.
Situação mudou no meio do caminho
Mas a situação mudou no meio do caminho. Dois meses depois, a Península vendeu os papéis lucrando com o avanço de 27% na cotação — diferença entre o preço do papel um dia antes do anúncio da deslistagem e a média do preço de venda das ações da Península na metade de abril. No ano, a ação valorizou-se 58%.
O comunicado da venda, por meio de fato relevante do Carrefour em 14 de abril, não cita razões para a mudança de postura dos fundos de investimento sob gestão da Península Partners Gestão de Investimentos, que engloba investimentos da família Diniz.
Os fundos se desfizeram de 4,9% das ações a um preço médio de R$ 8,20, apurou o Valor, totalizando R$ 850 milhões.
O desinvestimento era algo que a Península já estudava desde o ano passado, após a morte do empresário Abilio Diniz, como o Valor noticiou em janeiro, mas a cotação em baixa não animava uma venda.
Essa decisão se somou a outra, do GIC, o fundo soberano de Cingapura, que também havia vendido sua posição de 2,4% na rede, cerca de 15 dias antes, no fim de março. Essa participação estava dentro de um dos fundos da Península, mas o GIC decidiu se desvincular e se desfazer dos papéis.
Soma de dois movimentos elevou circulação das ações
Esses dois movimentos, em poucas semanas, elevaram em quase 30% o volume de ações ordinárias em circulação no mercado — a posição passou de cerca de 25% para 32,5% — ou 150 milhões de ONs a mais em circulação, que podem estar na mão de investidores que ganharão com a arbritragem dos papéis comprados, como afirmam alguns gestores ouvidos.
“Você pode pensar que as ações podem ter ido também para acionistas que pensam no investimento no papel a longo prazo, mas pelo que apuramos, o perfil dos compradores não é este”, diz um investidor e ex-executivo da rede.
“Para aprovar ou não [a deslistagem], precisamos agora de 340 milhões de ações, é muito difícil num papel bem pulverizado, com fundos locais e investidores estrangeiros. São mais de 22 mil pessoas físicas com o papel”, disse outra fonte.
Ainda são 457 pessoas jurídicas e 721 investidores institucionais na base de acionistas. Pelas contas, é necessário mais da metade dos 32,5% do “free float”, ou o equivalente a pouco mais de 343 milhões de ONs.
Em março, antes de Península e GIC venderem suas posições, o Valor apurou que existiam cerca de 90 milhões de votos contrários ao plano do Carrefour, segundo cálculos de fundos estrangeiros.
Portanto, aquilo que já não era tarefa fácil aos minoritários — formar uma base de oposição à proposta do Carrefour num papel altamente pulverizado — tornou-se tarefa hercúlea.
Momento atual indica vantagem para Península
No fim das contas, caso não haja qualquer mudança de posicionamento nos próximos dias, a Península conseguiu sair do investimento no Brasil num preço mais alto, como queria há tempos — assim como, provavelmente, o Carrefour deve finalizar a incorporação do negócio no país, a um preço mais alto do que se esperava, mas ainda de forma vantajosa, dizem minoritários ouvidos, ao se considerar o potencial do ativo.
Pelo lado do Carrefour, o Brasil, a incorporação resolve questões relevantes: o Brasil é o segundo negócio mais importante do grupo no mundo, o maior gerador de lucro operacional da companhia, e a empresa ainda deixará de ser obrigada a prestar contas e ter que lidar com o escrutínio do mercado sobre as decisões e os resultados da rede.
Para a deliberação na sexta-feira, o Carrefour oferece os R$ 8,50 por papel, acima dos R$ 7,70 inicialmente propostos em fevereiro. Ainda apresenta a possibilidade de migrar toda a participação para as ações na bolsa de Paris, e também a hipótese de o investidor receber meio a meio (50% em dinheiro, 50% em ações na França), equivalente a R$ 4,25 em dinheiro e 0,05 ação ordinária do Carrefour (França) ou 0,05 BDR.
A assembleia geral de acionistas está marcada para as 11h30, de forma digital.
A AGE será instalada, em primeira convocação, com a presença de acionistas representando, no mínimo, um quarto do capital social votante total, e em segunda convocação, mediante publicação de um novo edital de convocação, será realizada com qualquer número de acionistas presentes.
*Com informações do Valor Econômico
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