IPCA tem tendência de alta no médio prazo, aponta algoritmo do Itaú
Modelo de machine learning do banco tem cenário mais pessimista para inflação
Os riscos para as projeções de inflação no Brasil em um horizonte até abril permanecem altos, ainda que o acompanhamento de dados setoriais de alta frequência confirmem descompressões. É o que indica o relatório “Analytics, Big Data & Real Time Economics”, da equipe de pesquisa econômica do Itaú Unibanco.
No documento, o banco apresenta, entre diversos indicadores proprietários e alternativos, métodos de machine learning (ML) para antecipar riscos às projeções de IPCA dos economistas.
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No fim do ano passado, o Itaú esperava um IPCA de 0,63% para janeiro de 2022, de 0,79% para fevereiro e de 0,55% para março. A mediana do boletim Focus indicava 0,55%, 0,69% e 0,45%, respectivamente. Já o modelo de ML apontava 0,71%, 0,73% e 0,58%, pela ordem.
“No machine learning, pegamos todas as informações disponíveis e deixamos o próprio algoritmo escolher quais variáveis fazem mais sentido para aquele período e conjunto de informações, sem a interferência externa do economista”, explica Pedro Schneider, da equipe econômica do Itaú.
Embora a projeção do economista seja mais detalhada – ela dá conta de discricionariedades como um aumento de tarifa de energia que a máquina não poderia prever -, o machine learning é importante para ajudar a dar um viés de médio prazo, diz Schneider. “Tenho um modelo cuja função é minimizar o erro das projeções.”
Considerando um período de três meses de novembro de 2021 a janeiro de 2022, o Top 5 do boletim Focus projetava uma inflação acumulada de 2,27%, o Itaú esperava 2,42%, mas o ML indicava 2,68%. Ampliando o horizonte acumulado para seis meses (até abril), o Top 5 indicava 4,21%, o Itaú estimava 4,3% e o ML sugeria 4,58%. “Se tenho uma informação adicional do machine learning dizendo que pode ser mais, é algo para ligar um sinal de alerta”, observa Schneider.
O Itaú espera que, após encerrar 2021 com alta de 10,1%, o IPCA desacelere para algo em torno de 5% neste ano. Além da alta de juros, parte desse movimento diz respeito a choques que estão passando, aponta Julia Folescu Gottlieb, da equipe de Pesquisa Macroeconômica. O preço dos alimentos no atacado, por exemplo, mostra alívio na ponta, após o impacto das geadas em meados de 2021, segundo o relatório. Uma coleta semanal dos preços on-line de passagens aéreas – que replica a metodologia do IBGE, três meses à frente – também indicava alívio para janeiro, com queda de quase 30%.
O Itaú ampliou suas ferramentas de análise diante da necessidade de mais informações e tempestivas para navegar em um contexto pandêmico, conta Gottlieb. O IDAT-Atividade, por exemplo, que tenta antecipar os indicadores oficiais do nível de atividade econômica, ainda não apresentava, até cerca de uma semana, uma grande queda que pudesse refletir a piora da pandemia, mas “os próximos dias serão cruciais para entender o impacto da ômicron, especialmente no setor de serviços”, afirma a economista.