Ibovespa deve ter ganhos em 2022, apesar da volatilidade

Instituições financeiras projetam, em média, que o índice alcance 124,5 mil pontos, alta de quase 19%

A B3, Bolsa de Valores brasileira (Foto: Divulgação)

Ao mesmo tempo em que métricas mostram que os preços das ações brasileiras estão em níveis historicamente baixos, o cenário para 2022 se mostra desafiador: as taxas de juros devem permanecer elevadas; a inflação pode continuar acima da meta do BC; o crescimento deve ser baixo; e ainda haverá as incertezas características de um ano eleitoral. Nesse contexto, bancos e corretoras consultados pelo Valor esperam, na média, que o Ibovespa encerre este novo ano na casa dos 124,5 mil pontos, o que representaria valorização da ordem de 18,7% para as ações locais em relação ao fechamento – 104.822 pontos – do último pregão de 2021.

As projeções de 19 instituições financeiras consultadas variam entre 112 mil pontos, na mais pessimista (alta de 6,84%), a 138 mil pontos, na mais otimista, o que representaria ganho anual de 31,65% para o Ibovespa.

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Após ter anotado máximas históricas em junho de 2021, aos 130 mil pontos, o principal indicador acionário da bolsa local entrou em uma espiral negativa, pressionado pelos ruídos políticos e pelas incertezas relacionadas às questões fiscais do país. Mesmo assim, os resultados corporativos permaneceram saudáveis ao longo de 2021, o que levou diversas métricas de “valuation” do Ibovespa a níveis não observados em muitos anos.

A relação entre o preço e o lucro (P/L) das empresas que compõem o Ibovespa está próxima de 7,6 vezes, quase 30% abaixo dos patamares dos últimos 15 anos, de 11,2 vezes. Mesmo quando são retiradas do cálculo as principais empresas de commodities que compõem o indicador – Petrobras e Vale -, o Ibovespa é negociado a 10,3 vezes o lucro, também abaixo da média histórica de 12,7 vezes.

“Embora 2022 deva ser um ano inegavelmente mais volátil, dados os níveis de ‘valuation’ atuais, vemos espaço para as ações locais terem um bom desempenho”, afirmam Carlos Sequeira e Osni Carfi, do BTG Pactual. Os profissionais fazem a ressalva de que suas projeções parecem otimistas quando comparadas à situação atual do país, mas que parecem viáveis se o Brasil “voltar aos trilhos”.

“Assumimos que o Banco Central trará a inflação de volta à meta no longo prazo, que as taxas de juros reais de longo prazo voltem a 4% e que o crescimento real do PIB de longo prazo seja de 2%. Com isso, o múltiplo justo de P/L do Ibovespa é 12,7 vezes, em linha com sua média histórica (ex-Petrobras e Vale). Assim, usando nossas estimativas de lucro para 2022, o Ibovespa deveria terminar o ano em 132 mil pontos.”

A visão é semelhante à do economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, para quem as ações brasileiras parecem descontadas em relação aos pares globais. “Estamos negociando com P/L em torno de 7 vezes, enquanto o S&P 500 negocia acima de 40 vezes. Como acreditamos que parte do estresse de 2022 pode ter sido antecipado, pensar em voltar a negociar P/L 10 vezes não é descabido”, diz.

A estimativa do Bank of America (BofA) é a de que o Ibovespa encerre 2022 aos 125 mil pontos. Segundo David Beker, chefe de economia no Brasil e estratégia para a América Latina da instituição, a previsão da casa é conservadora, já que não embute uma expansão de múltiplos da bolsa local e é baseada na expectativa de que boa parte da apreciação do índice se dê via melhora de resultados corporativos.

Um risco a ser monitorado, de acordo com Beker, é a continuidade de uma migração dos fluxos da renda variável em direção à renda fixa no país. “Quando olhamos no acumulado do ano, ainda vemos um saldo de entrada em fundos de ação. Considerando os volumes de recursos que entraram em renda variável nos últimos anos, as saídas são muito pequenas e o processo ainda é bem tímido. O risco aqui é seguirmos vendo saídas.”

Mesmo assim, há certo nível de conforto com a recomendação de “exposição em linha com a média de mercado” do BofA devido ao nível de preços. “A discussão está em saber que gatilhos podem disparar uma melhora. A gente está ‘marketweight’ [em linha com a média do mercado] e não aumentamos a recomendação para ‘overweight’ [acima da média do mercado] por conta das incertezas, já que a eleição diminui a visibilidade”, diz.

O gestor de renda variável do Daycoval Asset, Anand Kishore, acredita que a relação entre risco e retorno da bolsa ainda não está muito atrativa, já que as taxas de juros para daqui a um ano estão ao redor de 12% atualmente, nível próximo aos 13,5% que ele espera de valorização do Ibovespa, que, em sua visão, deve terminar 2022 em 122,2 mil pontos.

No entanto, para ele, o cenário ainda deve ser muito dependente da política e da reação dos agentes financeiros às propostas dos candidatos. “Se o cenário eleitoral se mostrar menos radical e mais favorável, os investidores podem começar a antecipar 2023 e, nesse caso, o preço-justo seria muito maior que esses 122 mil pontos que temos hoje”, afirma

Um relatório da XP sobre o tema mostra, inclusive, que é difícil definir um padrão de performance para a bolsa em anos de eleição. “Em 2002, as ações brasileiras caíram quase 30% nos seis meses antes das votações daquele ano, e subiram 27% durante o semestre seguinte. Porém, em 2014, os retornos foram positivos antes e depois das eleições”, dizem Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig.

Em média, o Ibovespa teve, desde 2002, rentabilidade negativa de 6,7% no semestre anterior ao pleito, registrando valorização de 5,9% nos seis meses seguintes. Já em termos de volatilidade, o mercado oscilou mais, em 2002 e 2006, à medida que o período eleitoral se aproximava e, mais tarde, se acalmou. No entanto, em 2014, a volatilidade aumentou mesmo depois que os resultados foram divulgados.

“Estamos entrando em 2022 com as expectativas em níveis muito baixos, diferente do que ocorreu em 2021, quando havia uma série de possíveis catalisadores positivos. Agora, o mercado espera e já precificou problemas políticos, econômicos, monetários… É possível que tenhamos um ano com bastante volatilidade, mas não necessariamente para baixo”, diz Ferreira, estrategista-chefe da XP.

Assim, a XP tem projeção tripla para o principal índice nacional: 93 mil pontos ao final de 2022 em um cenário cauteloso; 123 mil pontos como base, “refletindo quase nada de melhora no ambiente”; e 143 mil pontos na visão mais otimista, projetando uma possível queda de juro já no segundo semestre e melhora na performance das empresas listadas.

Dono da projeção mais otimista entre as colhidas pelo Valor, apontando para 138 mil pontos em dezembro de 2022, o Andbank tem discurso parecido em termos de precificação prévia dos gatilhos negativos, enxergando ainda possíveis estímulos positivos para que o índice seja impulsionado no período.

“Ainda temos problemas locais e globais, mas também vemos algumas questões saindo do caminho. A crise hídrica está dando sinais de recuo, a safrinha será produtiva, a inflação pode ter alcançado seu ponto mais alto. Se o ambiente continuar melhorando, vai dar espaço para avanços”, afirma Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank Brasil.

Já para a equipe de estratégia de ações para América Latina do Goldman Sachs, o prêmio de risco para as ações brasileiras, atualmente, é consistente com um ambiente de crescimento de 0,9% do PIB no ano que vem. Neste contexto, a expectativa é que o Ibovespa possa se valorizar no curto prazo e até ultrapassar o preço-alvo da instituição para o fim de 2022, de 116 mil pontos.

“Como os investidores locais parecem cautelosamente otimistas de que o clima político possa melhorar, a partir de uma expectativa muito baixa, e com o real agora oferecendo mais de 10% de ‘carry’ contra o dólar, suspeitamos que uma alta tática do Ibovespa pode se estender para 120 mil pontos, embora mantenhamos a previsão em 116.000, sublinhando o ceticismo de que qualquer recuperação das ações será sustentada.”

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