Em meio à queda de ações de tecnologia, analistas questionam valor do Nubank

Desde 8 de dezembro, quando precificou seu IPO a US$ 9, as ações caem 9,67%

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Com a expectativa cada vez mais firme de um aperto monetário nos Estados Unidos — e no mundo —, as ações de tecnologia têm sido duramente penalizadas nas últimas semanas. Esse movimento acabou atingindo em cheio o Nubank, que, depois de uma euforia nos dias pós-IPO, engatou uma série de baixas. Agora, os analistas tentam entender qual seria o real valor de uma companhia que, apesar da enorme base de 48 milhões de clientes, ainda dá prejuízo.

O movimento mais recente veio da Empiricus. Em relatório, a casa de análise cujo controle foi adquirido pelo BTG Pactual divulgou relatório recomendando uma posição vendida (short) nos papéis Nubank, alegando que o valuation atual do banco é “inaceitável”, especialmente em meio a um cenário macroeconômico desafiador e um cenário cada vez mais competitivo no setor financeiro. Diferentemente de analistas de “sell side”, que dividem suas recomendações em compra, neutra e venda, a Empiricus vai além, sugerindo que os investidores montem uma posição short com as ações do banco digital, o que possibilitaria que se beneficiassem das eventuais quedas do papel.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

A estratégia consiste em realizar a venda a descoberto de ações do Nubank e ao mesmo tempo, aplicar os recursos provenientes do short em Banco do Brasil. “Essa operação estruturada que envolve short em Nubank e long nos bancos tradicionais é, hoje, uma representação muito clara do que, na nossa opinião, é tendência inevitável para os mercados. O preço de tela das ações de Nubank é um reflexo de empresa cujos fluxos de caixa estão demasiadamente (ou, quase que totalmente) concentrados no futuro. Em um cenário de liquidez irrestrita de capital e taxas de juros em mínimas históricas, próximas de zero (e mesmo negativas) isso é uma coisa… Agora, em um cenário de juros e inflação crescentes e retirada de estímulos, com impactos sobre a disponibilidade de liquidez nos mercados, isso é outra coisa; muito, mas muito diferente”, diz em uma newsletter o fundador da Empiricus, Felipe Miranda.

Segundo a casa de análise, a discrepância entre o preço de tela e o valuation é gritante. O relatório aponta que, aos preços atuais, as ações da fintech ainda negociam por impressionantes 115 vezes seus lucros projetados para 2023. “Nesse mercado um tanto quanto agressivo, esse valuation é inaceitável”, reforça o documento.

De acordo com as recomendações de 14 analistas compiladas pelo site MarketWatch, o Nubank tem nove indicações de “compra”, quatro “neutras” e uma “venda”. Essa única “venda” é do Itaú BBA, que iniciou sua cobertura da companhia no começo deste mês. Segundo os analistas, o Nubank tem muitas conquistas e potencial de crescimento, mas seu valuation não deixa espaço para contratempos.

“Vemos um desafio estrutural para seu potencial de monetização de clientes no Brasil e esperamos que o próximo ciclo de inadimplência no sistema seja difícil para a base de clientes recém-formada da empresa. Acreditamos que isso provavelmente desencadeará uma correção e diminuirá a percepção do mercado sobre o potencial de lucro por cliente do banco. O Banco Inter é o nosso banco digital preferido, com um valuation mais atrativo e num melhor perfil de crédito/cliente”, diz o relatório do Itaú BBA.

Desde seu IPO, o Nubank não divulgou nenhuma informação ou dado que poderia influenciar a ação. A única notícia que poderia mexer com o papel foram rumores de que o banco poderia estar entre os possíveis compradores da operação do Citi no México, o que o Nubank prontamente negou. Ontem, o Pipeline, site de negócios do Valor, noticiou que a Creditas prepara um IPO. Nos termos de um acordo fechado em setembro do ano passado, o Nubank pode assumir uma fatia de até 7,7% na companhia.

Entre os analistas, o mais otimista com Nubank é o Morgan Stanley, que tem recomendação de “compra” e preço-alvo de US$ 16. O banco americano destaca que, com base no uso de tecnologia, foco obsessivo no cliente, baixos custos e marca valiosa, o Nubank tem a oportunidade de construir a maior e mais lucrativa franquia bancária da América Latina. Os analistas destacam quatro fontes de potencial favorável para as estimativas: escopo para adicionar mais produtos bancários, expansão geográfica, crescimento via fusões e aquisições, e espaço para distribuição de serviços e produtos não financeiros.

Por volta das 16h30 (de Brasília), as ações do Nubank negociadas na Bolsa de Nova York subiam 3,83%, a US$ 8,13, em um dia de recuperação nos mercados americanos, após a divulgação de dados sobre atividade e o mercado de trabalho nos Estados Unidos. Desde 8 de dezembro, quando precificou seu IPO a US$ 9, as ações caem 9,67%.

Já de acordo com a Empiricus, a recomendação para o short se baseia em quatro pontos: dificuldade na monetização dos usuários; provável necessidade de capital; possível aumento da inadimplência; e valuation excessivo. Segundo a casa de análise, o valor de mercado do Nubank deveria estar 72% abaixo do atual, com o BDR da companhia valendo, nessa tese, R$ 1,97. “Com uma rentabilização de usuários desafiadora, uma provável diluição dos acionistas para crescer e uma inadimplência perigosa, o valuation que precifica uma execução impecável coroa a obviedade desse short”.

Procurado, o Nubank não quis se manifestar.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


VER MAIS NOTÍCIAS