Nova queda da indústria ameaça PIB de 2021 e 2022
A indústria brasileira decepcionou mais uma vez ao cair 0,2% em novembro, ante outubro, colocando viés de baixa para as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 e 2022
A indústria brasileira decepcionou mais uma vez ao cair 0,2% em novembro, ante outubro, colocando viés de baixa para as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 e 2022, indicam economistas.
O número de novembro, divulgado ontem pelo IBGE, representa a sexta taxa negativa consecutiva do setor, algo que não acontecia desde o período de fevereiro a julho de 2015, o primeiro ano da crise econômica da época. Naquele momento, porém, a perda acumulada foi mais intensa do que agora: 6,7%, ante 4%.
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A expectativa mediana das instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data era de uma leve alta da produção industrial em novembro, de 0,2%. Em relação a igual mês de 2020, a indústria caiu 4,4%, mais em linha com a mediana das estimativas, de -4,1%.
João Leal, economista da Rio Bravo, já esperava queda de 0,3% em novembro. “Temos sido mais pessimistas que a média há algum tempo.” Entre os fatores por trás disso, estão os gargalos na cadeia de suprimentos, que foram mais intensos até outubro, mas que ainda permanecem, a queda na demanda por bens duráveis, e a normalização da produção de bens de capital, que cresceu de forma expressiva e agora começa a sentir com mais ênfase os efeito dos juros mais altos.
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Com o aperto monetário em curso e confiança em baixa, a indústria tem pouco espaço para um crescimento mais forte, seja em dezembro do ano passado, seja em 2022, diz Leal.
O Santander calcula que o resultado de novembro deixa “herança estatística” negativa de 1,4% para a indústria no quarto trimestre, ou seja, se a produção de dezembro ficar estável, esse seria o resultado do período. “Após três quedas trimestrais, acreditamos que isso sugere outra contribuição negativa da produção industrial para a atividade geral no trimestre remanescente de 2021”, diz o banco.
A queda da produção industrial em novembro, somada a dados negativos do setor em dezembro, como os indicadores de confiança da FGV e o Índice dos Gerentes de Compras (PMI) da IHS Markit, sinaliza contração em torno de 1,5% da manufatura brasileira no quarto trimestre, ante o terceiro, estima William Jackson, chefe para mercados emergentes da Capital Economics. Segundo ele, isso tiraria de 0,1 a 0,2 ponto percentual do crescimento do PIB no último trimestre. “Com outros setores da economia também com dificuldades, outra contração trimestral do PIB é uma possibilidade real”, escreve.
Agora, a indústria brasileira encontra-se 4,3% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020). Segundo o Credit Suisse, o novo número impõe um viés negativo às projeções do banco para o PIB em 2021 e 2022, que são de alta de 4,8% e queda de 0,5%, respectivamente.
Como contraponto, o Santander observa que o crescimento foi mais disseminado entre as atividades industriais – o índice de difusão, que captura o percentual das atividades em expansão no mês, atingiu 50%, ante 27% em outubro. Jackson, da Capital Economics, observa que a queda da indústria no mês foi mais suave que as cinco retrações consecutivas anteriores e que houve alguns pontos positivos, como o fato de a fraqueza ter ficado concentrada em bens de capital, cujo recuo foi de 3%. “Mesmo assim, parece que a indústria teve outro trimestre fraco”, pondera.
A queda acentuada na fabricação de bens de capital, porém, é um sinal ruim para a dinâmica dos investimentos no curto prazo, diz Rodolfo Margato, economista da XP. A casa espera, a princípio, um crescimento de 0,9% da indústria em dezembro, o que ainda faria o setor recuar 1% no quarto trimestre, ante o terceiro.
Em 12 meses até novembro, a produção industrial acumula crescimento de 5%, mas a XP projeta uma alta de 3,8% para o ano de 2021 fechado, taxa insuficiente para repor a queda de 4,5% em 2020. Para 2022, a corretora, que tem perspectiva de um PIB estagnado, espera crescimento de apenas 0,5% da produção industrial.
César Garritano, da gestora Renascença, diz que o setor deve ter um ano difícil em 2022 e vê possibilidade de contração em relação a 2021. As cadeias globais podem ainda ter problemas por causa da disseminação da variante ômicron do coronavírus, aponta. No Brasil, diz, o enfraquecimento da atividade e da demanda, o aumento dos juros e as incertezas relacionadas ao período eleitoral devem jogar contra.
“A gente deve ter os grandes setores com uma performance ruim. Não há espaço para nenhum deles apresentar bom crescimento”, afirma Leal, da Rio Bravo.