Ministério da Fazenda: mercado espera cortes de R$ 40 bi para 2026

Levantamento da XP ouviu 71 players institucionais, como gestoras de ativos, bancos e instituições financeiras

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante reunião. Foto: Andrea Puente/PR/Colômbia
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante reunião. Foto: Andrea Puente/PR/Colômbia

Diante do suspense que se arrasta há semanas e do grande volume de notícias sobre quais medidas serão anunciadas pelo ministério da Fazenda para conter o avanço das despesas, o mercado busca entender o que já está atualmente embutido nos preços dos ativos.

Segundo uma pesquisa realizada pela XP Investimentos, a expectativa é que o governo anuncie cerca de R$ 40 bilhões em cortes de gastos em 2026. Mas que, na prática, as medidas do pacote produzam uma economia de R$ 27,5 bilhões.

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O levantamento foi feito com 71 players institucionais, como gestoras de ativos, bancos, instituições financeiras privadas e consultorias.

Ministério da Fazenda

Aproximadamente 55% dos respondentes esperam um anúncio do ministério da Fazenda que compreenda entre R$ 40 bilhões e R$ 45 bilhões de redução dos gastos para 2026. Isso, frente ao cenário atual. Cerca de 17% dos entrevistados esperam um anúncio maior. E 28% projetam a divulgação de medidas mais modestas.

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Apesar disso, a economia que será produzida pelas medidas é menor, segundo a pesquisa. A mediana das respostas indica que os entrevistados esperam R$ 30 bilhões na redução efetiva de gastos, enquanto a média das respostas é ainda menor, de R$ 27,5 bilhões.

Em um prazo mais longo, a expectativa de redução de gastos com as medidas é mais difusa. A mediana das respostas é que, em 2034, as propostas do ministério da Fazenda economizem 0,5% do PIB. Isso, comparando com o cenário atual, enquanto a média das projeções contempla uma economia de 0,9% do PIB em dez anos.

Mudanças propostas pelo ministério da Fazenda

“Em relação às medidas apresentadas (pelo ministério da Fazenda), todos os investidores esperam mudanças na pensão militar e em outros benefícios. Enquanto isso, 93% acreditam em uma revisão dos beneficiários (pente fino) em programas como BPC e Bolsa Família”, aponta o documento.

“Ainda, 86% esperam mudanças nas regras de acesso ao abono salarial e 79% veem mudanças nas regras de acesso ao seguro-desemprego. Por outro lado, apenas 38% preveem uma proposta para taxar super-ricos. E 24% acreditam que o pacote trará mudança nas regras de gastos mínimos em saúde e educação”, destaca o documento.

Nesse contexto, gestores e participantes do mercado veem espaço para uma melhora nos preços dos ativos, ainda que uma tendência mais duradoura de alívio siga bastante improvável no momento.

Assimetria na comunicação

O gestor de renda fixa da Porto Asset, Gustavo Pi Okuyama, afirma que há uma assimetria em torno da divulgação do pacote de gastos. Assim, dado que ainda existem dúvidas no mercado se ele será apresentado na próxima terça-feira.

“Também existe a percepção pelo mercado de que o pacote não está fechado e que há ainda resistência por parte do presidente em entregar o valor que vem sendo ventilado”, diz.

No entanto, uma melhora duradoura provocada pelo anúncio das medidas por parte do ministério da Fazenda também não parece provável no momento.

“Existe a possibilidade, porém é necessário que o pacote surpreenda, trazendo medidas vistas como críveis e mais estruturais. Se for apresentado apenas algo como pente-fino em benefícios, o mercado tende a piorar. Outro ponto que poderia trazer uma tendência positiva é se houver uma sinalização do (Arthur) Lira e (Rodrigo) Pacheco (presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente) sobre a possibilidade de aprovação ainda este ano, porém isso parece pouco provável”, diz.

Assim, a Porto Asset mantém uma pequena posição aplicada [que ganha com a queda] em juros nominais, mas usando como proteção uma aposta no mercado de opções que lucra com a aceleração do ritmo de alta da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em dezembro.

Demora no ministério da Fazenda

O gestor de renda fixa da Kinea Investimentos, Denis Ferrari, tem visão semelhante. “Acho que tem um pouco de espaço para melhorar, por uma razão simples. Eles estão adiando muito para anunciar, então tem um pedaço do mercado que tem o temor de não vir nada, ou de vir algo mais desidratado. Não acho que é algo que vai fazer um preço gigante e mudar a tendência, mas tem algo para melhorar no curto prazo sim”, afirma.

Apesar dos números que têm sido ventilados na imprensa, de uma economia de R$ 70 bilhões ao longo dos próximos dois anos, o gestor da Kinea acredita que é necessário aguardar a divulgação do ministério da Fazenda para entender qual montante será de cortes efetivos em despesas e qual será apenas uma economia projetada com a revisão de benefícios.

“E, mesmo fazendo esses R$ 27 bilhões em 2025 e R$ 43 bilhões em 2026, isso faz apenas o arcabouço ficar de pé. Se o governo quiser gastar em ano eleitoral, já não vai funcionar, ou o arcabouço vai ter que mudar. É por isso que eu acho que os preços ainda não reagiram. Se tivéssemos um cenário mais direto de R$ 50 bilhões de corte já no ano que vem, acho que o mercado já teria reagido”, diz.

O executivo de um importante banco estrangeiro no Brasil, que não quis se identificar, diz que um pacote de corte de gastos que agrade o mercado poderá gerar um movimento de curto prazo mais positivo para a bolsa, mas as chances de um rali mais duradouro são bem baixas, porque as medidas não devem ser estruturais. “Não há gatilhos para um rali de fim de ano. É diferente da situação que tivemos no ano passado, em que tivemos a indicação de que um ciclo de corte de juros pelo Fed [banco central americano] estava próximo, o que animou investidores”, acrescenta.

Efeitos de curto prazo

O chefe da corretora de ações do Scotiabank Brasil, Michel Frankfurt, também avalia que os efeitos de um pacote que agrade o mercado serão sentidos mais no curto prazo. “Agora, para ter aquela ‘puxada’ em que vem o capital estrangeiro, buscamos crescimento e vamos para 160 mil pontos [no Ibovespa], é preciso ter um trigger (gatilho) para isso e ele ainda não aconteceu”, diz.

No âmbito local, o profissional do Scotiabank Brasil argumenta que o ministério da Fazenda teria que “retomar a confiança” dos agentes e mostrar que está mais “cauteloso” com o fiscal.

Na cena externa, Frankfurt defende que seria preciso monitorar os próximos movimentos do segundo mandato de Donald Trump nos EUA. “Pode ser que não seja tão ruim, porque muita coisa que ele prometeu ele não vai conseguir implementar. Nesse caso, teria uma assimetria mais positiva [para a bolsa]”, diz.

Na visão do sócio e gestor da Oby Capital, Camilo Cavalcanti, para que o mercado fique satisfeito com o pacote fiscal, seriam necessários pelo menos de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em cortes para 2025 e mais medidas estruturais que gerem uma economia em torno de R$ 40 bilhões em 2026. “Se o total para os dois anos for maior que R$ 70 bilhões, seria uma surpresa positiva.”

Na avaliação de Cavalcanti, a tendência é que o pacote de corte de gastos acabe por trazer alguma surpresa ao mercado, uma vez que entende que o governo “já sentiu” que esse é um assunto sensível e precisará de espaço no orçamento antes das eleições presidenciais em 2026.

Se o corte de gastos for bem recebido pelos agentes financeiros, há “bastante espaço” para uma retirada de prêmios da curva de juros, de mais de 50 a 60 pontos-base, diz o gestor da Oby Capital. Um choque positivo via fiscal poderia, inclusive, influenciar as expectativas de inflação e evitar que o Banco Central acelere o ritmo de aperto monetário para 0,75 ponto na reunião do Copom em dezembro, como a curva de juros precifica hoje.

Por outro lado, se o pacote fiscal desagradar, os juros futuros podem tocar novas máximas para este ano e o dólar bater o nível de

R$ 6 com alguma facilidade, dado o ambiente externo desfavorável. “Seria uma alta [do dólar] de 3% a 4%. Não estamos longe”, diz.

Já segundo o gestor de moedas da Vinland Capital, Vinicius Coletto, manter posições que apostam na alta do dólar, neste momento, parece ter uma relação entre risco e retorno desfavorável. “Ficar comprado em dólar se torna cada vez mais caro, especialmente com a moeda americana próxima de suas máximas históricas e à espera de um possível anúncio fiscal que pode acionar uma combinação de ‘stops’ em posições compradas [em dólar] e o medo de perder um rali nos ativos brasileiros”, afirma.

Assim, segundo ele, estamos diante de um evento potencialmente binário. “A possibilidade de uma recuperação significativa nos ativos locais torna atrativa a compra de opções de venda de dólar nesses níveis”, afirma.

Com informações do Valor Econômico

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