A leitura mais forte que o esperado da produção industrial do Brasil em dezembro desencadeou um movimento de correção dos juros futuros, que sobem principalmente nos vértices de longo prazo da curva a termo, à medida que o mercado realiza parte dos lucros obtidos com o amplo alívio das taxas longas nos últimos pregões. O avanço das taxas domésticas só não é mais intenso por conta do ambiente nos mercados dos Estados Unidos, onde os rendimentos dos Treasuries operam em queda firme após o dado fraco do PMI de serviços de janeiro medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM).
Por volta das 13h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilava de 14,92%, do ajuste anterior, para 14,93%; a do DI de janeiro de 2027 subia de 14,88% para 14,935%; a do DI de janeiro de 2029 avançava de 14,455% para 14,575%; e a do DI de janeiro de 2031 tinha alta de 14,39% a 14,52%.
O recuo modesto de 0,3% da produção industrial no Brasil entre novembro e dezembro do ano passado veio bem melhor do que a queda de 1,1% esperada pelo mercado, além de significar um avanço de 1,6% na comparação com dezembro de 2023. O dado reforça a leitura de que a desaceleração da atividade econômica deve ser lenta, de forma a não justificar uma política monetária menos contracionista do Banco Central no curto prazo.
“Os primeiros dados de dezembro após os dados de mercado de trabalho indicam que a atividade doméstica ainda registra algum fôlego e que a desaceleração deve ser bastante gradual; vamos esperar os dados de comércio e serviços para poder ter uma visão mais clara”, avalia Leonardo Costa, economista do ASA, que projeta um crescimento trimestral sazonalmente ajustado de 0,4% do PIB no quarto trimestre de 2024.
Nos Estados Unidos, as taxas dos Treasuries vão na direção contrária e exibem forte queda, acentuada após o ISM afirmar que o PMI do setor de serviços americano caiu para 52,8 pontos em janeiro, abaixo dos 54,3 previstos pelo mercado. No horário citado anteriormente, a taxa da T-note de dois anos caía de 4,216% para 4,179%, enquanto o retorno do título de dez anos do Tesouro americano recuava de 4,510% a 4,43%, registrando os menores níveis desde dezembro passado.
Com os ciclos de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos à espera de novos sinais macroeconômicos, a desaceleração da atividade em ambos os países tende a tirar pressão sobre os juros futuros. Essa dinâmica se acentuou com a comunicação recente do BC, que incluiu em seu balanço de riscos a possibilidade de um enfraquecimento mais agudo da economia, conforme destaca em relatório o time de economistas do Bradesco, liderados pelo economista-chefe do banco, Fernando Honorato.
“Ao reconhecer esse risco de desaceleração mais acentuada do PIB, o Banco Central limitou os cenários mais extremos para a Selic, reduzindo as chances de uma discussão antecipada sobre dominância fiscal. Essa postura vem cumprindo um papel na redução dos prêmios de risco”, avaliam.
O Bradesco elevou a sua projeção para o IPCA em 2025 e 2026 — para 5,7% e 3,4%, respectivamente — e reduziu o crescimento do PIB esperado neste ano, de 2,2% a 1,9%. “Os próximos meses marcarão a pior combinação entre inflação e atividade dos últimos períodos”, apontam os economistas, que ainda preveem uma Selic de 15,25% no fim do ciclo de aperto monetário.
*Com informações do Valor Econômico
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