Corpo técnico do BNDES sinaliza visão mais pragmática de atuação do banco, dizem fontes

Mercadante anunciou 7 nomes para a diretoria do BNDES e ganhou elogios de empresários durante almoço nesta quarta-feira

Aloizio Mercadante: novo presidente do BNDES. Foto: Cristiano Mariz
Aloizio Mercadante: novo presidente do BNDES. Foto: Cristiano Mariz

Alguns dos nomes definidos para compor a equipe do BNDES, na nova gestão a partir de 2023, sinalizam o foco num corpo técnico, voltado a questões ligadas à inovação e desenvolvimento, e que também transitam junto ao mercado financeiro, algo visto como positivo por fontes a par do anúncio.

Aloizio Mercadante, futuro presidente do BNDES, esteve hoje em almoço com empresários da Esfera Brasil e apresentou alguns nomes para a diretoria que está formando para o banco.

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Quem fará parte do BNDES de Aloizio Mercadante?

Além de Alexandre Abreu, ex-presidente do Banco do Brasil, que já aceitou posição no BNDES, Natalia Dias, da filial local do Standard Bank, Luciana Costa, do banco de investimento francês Natixis, e José Gordon, da Embrapii, empresa de fomento à investimentos em pesquisa e inovação, também foram chamados. Luiz Navarro, ex-ministro-chefe da CGU (Controladoria Geral da União), também está entre os indicados.

Durante o almoço, Mercadante também confirmou dois importantes nomes que devem compor a equipe do BNDES em 2023. O ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma, Nelson Barbosa, e a ex-ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, farão parte do quadro executivo do banco estatal.

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Os cargos exatos de todos os sete membros da diretoria do BNDES para 2023 ainda não foram esclarecidos por Mercadante ou pela equipe de transição aos empresários. Três dos sete indicados estão no almoço hoje, apurou o jornal Valor Econômico.

Pesquisa e Desenvolvimento

Na visão de uma fonte que está no almoço o nome de Gordon tem sido visto entre os presentes no encontro como um sinal de que há efetivamente um interesse do governo eleito em ampliar, de “forma prática”, diz um empresário, a força do banco junto à projetos área de inovação tecnológica e de pesquisa e desenvolvimento.

“Ele [Gordon] tem uma visão conceitual das questões de P&D atual, mas também bem pragmática, de gestão e de execução, inclusive desse ambiente de funcionamento das startups, das novas tecnologias, inteligência artificial, etc. Não é apenas uma bagagem teórica, então é algo que tem o seu peso”, diz uma pessoa que está no encontro.

“A volta recente dele na Embrappi já tinha essa linha de canalizar mais as necessidades urgentes da indústrias por iniciativas de inovação, e de apoiar esse projetos, que é algo que eles já fazem por lá. Ele tem esse trânsito fácil até pelos planos que apoiam na empresa”, disse uma segunda pessoa a par do anúncio dos nomes.

Gordon assumiu a Embrappi em setembro, e é economista formado pela FEA/USP. Também atuou como secretário-executivo da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).

No caso de Natalia Dias, CEO do Standard Bank Brasil, o fato de ela ter um bom entendimento do funcionamento de mercado financeiro e de mercados emergentes, considerando que o banco é o maior em operação na África, traz uma “boa expectativa”.

“É um nome que mostra que houve um trabalho técnico, mais pragmático, de análise de perfis e contribuição para esse projeto de reindustrialização que esse novo governo vem pregando. E essa indicação pode ser um sinal de que o banco terá a visão de que o mercado de capitais pode ser um parceiro, e não um inimigo, ajudando a financiar o crescimento do país. Ela [Dias] tem esse perfil e essa compreensão”, diz uma terceira fonte que está no almoço.

Antes do Standard Bank, Dias ocupou cargos em instituições financeiras como JP Morgan Chase, ING Bank e Bank of America Merril Lynch e coordenou a Companhia Brasileira de Securitização.

O que Mercadante disse aos empresários?

O petista não fez uma fala inicial. A dinâmica do encontro foi iniciada com perguntas dos presentes, entre os quais estavam o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho; André Esteves, do BTG Pactual; Isaac Sidney, presidente da Febraban; Eugenio Mattar, da Localiza; e Rubens Ometto, da Cosan.

A fila de perguntas foi puxada por Sidney, da Febraban, que questionou Mercadante sobre temas caros ao mercado, como subsídios, TJLP, financiamentos privados e investimentos no país.

Indicado para a presidência do BNDES por Lula, Aloizio Mercadante afirmou a empresários no almoço do Grupo Esfera que não haverá uma “reconstrução” do modelo do banco de fomento “do passado” no novo governo Lula. Gestores e investidores têm trauma da campanha do BNDES de desenvolver ‘campeões nacionais’ por meio de crédito subsidiado.

Mercadante disse que o BNDES atuará com parcerias e terá um papel de complemento aos mercados de crédito e de capitais, ocupando as lacunas não preenchidas por esses, segundo relato de pessoas que estiveram no evento. Isso significa, acrescentou, entrar em operações de alto risco, que na prática consomem muito capital bancário. O banco terá um papel de mitigador de risco, mas o que está dando certo será mantido, disse aos presentes.

TLP continuará sendo usada pelo BNDES

O petista também procurou tranquilizar os empresários em outro ponto muito sensível para o mercado: taxas de juros subsidiados. Ainda segundo interlocutores, Mercadante disse que haverá “equilíbrio” na relação entre Tesouro e BNDES e que a TJLP (taxa subsidiada e extinta no governo Temer) não voltará. Ou seja, a TLP (mais alinhada às taxas de mercado) continuará sendo usada nos financiamentos do banco.

Porém, se houver espaço, ele afirmou que gostaria de discutir a possibilidade de que a taxa seja menor para projetos de longo prazo e mais flexível para o crédito a pequenas empresas.

Segundo Mercadante, o BNDES terá papel relevante na reindustrialização, observadas as restrições fiscais. O banco também terá em seu foco o financiamento ao balanço verde das empresas, em linha com uma economia mais voltada à sustentabilidade.

Presidente da Febraban elogia Mercadante

Após as respostas, Sidney, presidente da Febraban, elogiou a postura do futuro presidente do BNDES.

“Foi uma postura de abertura ao diálogo e de aproveitar a primeira oportunidade para já apresentar quem vai auxiliá-lo”, afirmou Sidney ao ser questionado sobre o encontro pelo Valor Econômico.

Na avaliação de Sidney, os nomes indicados por Mercadante para a diretoria do BNDES têm no currículo um histórico de atuação no mercado financeiro, enquanto Navarro agrega experiência em compliance.

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