Copom mantém taxa Selic em 13,75% e comunicado não aponta viés de corte
Comitê apontou que incerteza sobre arcabouço fiscal é risco de alta para inflação e o comunicado não citou ou apontou viés de corte da taxa nas próximas reuniões
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, em decisão unânime do colegiado, divulgada às 18h34, justificando a manutenção da taxa em diversos episódios, ressaltando a piora do ambiente econômico externo e incertezas internas.
“Os episódios envolvendo bancos nos Estados Unidos e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista”, diz o comunicado.
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Cenário doméstico
Em relação ao cenário doméstico, o comitê afirmou que o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica “segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom”.
Para o colegiado, a inflação ao consumidor segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.
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“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”.
Riscos inflacionários
O Comitê ressaltou que em seus cenários para a inflação ainda permanecem alguns fatores de risco, destacando a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública.
Também foi citada uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Entre os riscos de baixa, foram ressaltados a queda dos preços das commodities internacionais em moeda local, a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global e a desaceleração na concessão doméstica de crédito.
“Por um lado, a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”, apontou o relatório.
Porfim, o comitê avaliou que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional.
Nesse cenário, o Copom reafirmou que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas. Sem indicação de corte.
O que dizem os analistas?
Para o economista-chefe da Blue3 Investimentos, Roberto Simioni, o fato é que o arcabouço prometido para antes do Copom e que atendesse às exigências da responsabilidade fiscal, o déficit primário e a estabilização da dívida em relação ao PIB, levou parte do mercado a crer que o Banco Central poderia sinalizar o interesse de início de um ciclo de cortes da Selic.
“Entretanto, essa expectativa frustrada, com a alteração de datas previstas na apresentação e a natural incerteza quanto ao teor do arcabouço, levou o mercado a ajustar para cima as projeções sobre juros. De outro lado, o anúncio de manter a Selic no patamar de 13,75% mostra que o Banco Central segue empenhado no controle da inflação. E a queda na inflação observada com a desoneração do preço dos combustíveis, da energia elétrica e das telecomunicações perde seu efeito no momento em que o mercado de trabalho se mantém aquecido, e a reoneração dos impostos federais dos combustíveis sinalizam futuras pressões no IPCA, mantendo-o em níveis elevados em 2023”, completou.