Biodiversidade entra no mapa de empresas e bancos em setembro
Em setembro, será lançada mundialmente uma primeira versão de diretrizes relacionadas à biodiversidade, com pilares de governança, estratégia, gestão de riscos
Além das metas de redução da emissão dos gases de efeito estufa, a biodiversidade deve começar a entrar no foco das empresas que já buscam estar alinhadas com compromissos ESG – ambientais, sociais e de governança. Em setembro, será lançada mundialmente uma primeira versão de diretrizes relacionadas à biodiversidade, com pilares de governança, estratégia, gestão de riscos, métricas e objetivos para ajudar a responder à necessidade de considerar a natureza nas decisões financeiras e comerciais.
O tema da biodiversidade tem ganhado tração em diversos fóruns globais, que já consideram a necessidade de discussões que estejam além das relacionadas às emissões de gases do efeito estufa, abrangendo uma atenção conjunta com a natureza, em seu conceito mais amplo, e o impacto na sociedade. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem tratado da biodiversidade em seus discursos e dito que pretende unir a preservação ambiental ao crescimento econômico.
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As recomendações foram elaboradas pela Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD, na sigla em inglês), uma iniciativa global criada em 2021, liderada pelo mercado, com base na ciência, e apoiada por mais de 40 membros, que representam instituições financeiras, corporações e provedores de serviços. As diretrizes são baseadas na abordagem da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês), criada em 2015, dentro do Financial Stability Board (FSB), braço operacional de assuntos financeiros do G20, grupo formado por representantes das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia.
No Brasil, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) é o coordenador do grupo e a WayCarbon é uma das empresas integrantes. “Considerando que o Brasil tem 20% da biodiversidade do mundo e empresas que operam globalmente, é natural e fundamental que aquelas que desejam ser líderes na agenda ambiental e ESG se antecipem à essa tendência de mercado”, disse a gerente de finanças sustentáveis da WayCarbon ao Broadcast, Bruna Araújo. Ela afirma que o engajamento é voluntário, mas avalia que será uma tendência pois o tema da biodiversidade e da natureza – onde entram os aspectos climáticos – têm relevância para a redução de custos e criação de oportunidades de investimento.
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De acordo com o World Economic Forum (2020), mais da metade da produção econômica mundial – cerca de US$ 44 trilhões – é dependente da natureza. Essa alta dependência significa que a perda da biodiversidade apresenta uma séria ameaça para a estabilidade dos negócios e do mercado financeiro. Um esforço positivo de transformação ambiental pode gerar até US$10,1 trilhões anualmente em valor de mercado e criar 395 milhões de empregos até 2030.
“Já temos sinalizações de empresas no Brasil que querem entender o impacto da adoção desse framework em seu mercado e na sua estratégia individual”, diz a Coordenadora de Finanças Sustentáveis da Way Carbon, Patrícia Grossi. Para ela, empresas dos setores do agronegócio, bebidas e alimentos e mineração devem estar entre os primeiros a olhar para essas diretrizes, uma vez que dependem de recursos naturais para sua produção.
“Um dos diferenciais do TNFD é a dupla materialidade, qual é o impacto da empresa ou instituição financeira na natureza e em contrapartida, qual a dependência dessas empresas da biodiversidade, identificar os riscos e as oportunidades”, afirma Grossi. Com as métricas, as companhias conseguem entender de que modo causam impactos ao meio ambiente e à biodiversidade e podem traçar planos de negócios mais favoráveis não só à natureza, mas aos seus próprios negócios, acrescenta.
Ao mesmo tempo, um grande desafio nessa temática está relacionado à ligação sistêmica entre agenda climática e biodiversidade.
“Algumas soluções para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) têm impacto na biodiversidade”, diz Araújo. No caso da construção de fazendas eólicas, por exemplo, adotar essa tecnologia é uma forma de empresas reduzirem emissões, porém, o local escolhido para abrigar essa fonte de energia renovável pode ter seu ecossistema afetado, acrescenta.
Ainda não há um envolvimento oficial dos órgãos reguladores brasileiros para a introdução dessas diretrizes em suas normas, como já ocorre com as metas climáticas, mas a expectativa é que passem a entrar na agenda do Banco Central, da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em prazo mais curto do que aconteceu com o clima.
Para as executivas, a TNFD traz uma aplicação prática para o acordo fechado no fim do ano passado, em Montreal, Canadá, durante a COP-15 da Biodiversidade. O Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês) inclui medidas específicas para deter e reverter a perda da natureza, incluindo a colocação de 30% do planeta e 30% dos ecossistemas degradados sob proteção até 2030.
A meta 15 do acordo da COP-15 é uma meta geral para empresa e instituições financeiras de assumirem o compromisso de monitorar, avaliar e divulgar seus riscos, impactos e dependências sobre a biodiversidade. A meta 19, específica às instituições financeiras, diz respeito ao direcionamento do crédito para ações que sejam positivas para a natureza.
De acordo com Araújo, o acordo da COP-15 está focado somente na biodiversidade, enquanto o TNFB abrange além da biodiversidade, a natureza. Dessa forma, a TBFB tem diretrizes mais amplas, elaboradas pelo mercado anteriormente à COP-15, um acordo entre países.
Com informações do Estadão Conteúdo