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IPCA de fevereiro acima do esperado muda as perspectivas para a taxa Selic?
O IPCA acelerou de 0,42% em janeiro para 0,83% em fevereiro, mostrou nesta terça-feira (12) o IBGE.
Além disso, a taxa em 12 meses desacelerou levemente entre um mês e outro, de 4,51% para 4,50%. Ou seja, ficou assim no limite do teto da meta estipulada para 2024, que é de 4,50%.
Mas o que os agentes financeiros acharam do dado de fevereiro? Qual é a tendência agora para a trajetória da inflação nos próximos meses? E como o IPCA pior que o projetado pode influenciar o ciclo de cortes da taxa Selic?
Em primeiro lugar, é preciso destacar que os reajustes escolares tradicionalmente ocorrem em fevereiro, por isso essa pressão já estava na conta dos economistas. Bem como o impacto da gasolina, em razão do aumento no começo do mês do ICMS que incide sobre os combustíveis.
Pressões pontuais
“Apesar da surpresa para cima, a composição foi benéfica, concentrada em itens que não fazem parte do núcleo de inflação, como alimentação e energia elétrica”, avalia Luciana Rabelo, economista do Itaú. O banco esperava uma variação de 0,80% em fevereiro.
“Por outro lado, tanto os serviços subjacentes quanto os industriais subjacentes vieram ligeiramente abaixo do esperado, puxados por cinema e parte de vestuário”, acrescenta a economista.
Para frente, conforme Luciana Rabelo, a tendência é o IPCA aliviar. Assim, o Itaú manteve expectativa de inflação em 3,6% no fim de 2024, com o índice ficando então mais perto do centro da meta, que é de 3%.
“O nosso balanço de riscos é simétrico. Com os aumentos dos salários, os dados seguem mostrando uma pressão de itens de serviços ligados ao mercado de trabalho. Mas observamos uma potencial deflação maior de passagens aéreas, assim como um possível reajuste menor de energia neste ano”, comenta a economista.
Portanto, a profissional diz que os novos dados de inflação corroboram o ajuste de cenário feito pelo Itaú para a Selic. A instituição elevou de 9% para 9,25% a projeção para a taxa básica de juros no final do ciclo.
“As expectativas de inflação ainda acima da meta junto com o adiamento do início do ciclo de cortes de juros americano limita o espaço para um queda maior da Selic”, completa.
Plano de voo mantido
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, menciona o alerta com a trajetória da inflação nos próximos meses, mas escreve que, por ora, o ritmo de redução dos juros não deve sofrer alterações.
“Para 2024, a nossa projeção para o IPCA segue em 3,90%. A menor pressão dos alimentos pode trazer algum alívio nos próximos meses. Nosso olhar estará sobre a evolução de alguns segmentos como núcleos de inflação, preços de serviços e serviços subjacentes. Algumas métricas ainda continuam em patamares elevados e por isso merecem cautela”, aponta.
“Para a política monetária, esse dado não deve alterar o plano de voo já anunciado pelo Banco Central, de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, pelo menos para março e a maio”, acrescenta o economista da Suno.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, e João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, vão na mesma linha em reação aos próximos passos do Banco Central.
“Apesar de o headline (do IPCA) ter surpreendido o mercado para cima, avaliamos a abertura como positiva para o Brasil, ainda que não seja nenhum game change para a condução da política monetária”, comenta Sanchez.
“Para o ano, seguimos com IPCA de 3,7% e que, diante desse cenário inflacionário, o BC pode seguir com cortes de 50 pontos por reunião, mantendo o guidance atual e desacelerando o ritmo de cortes somente na segunda metade do ano”, sustenta Savignon.
Sem sinalizações
Destoando dos pares, Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, avalia que a autoridade monetária pode trazer uma novidade na reunião da próxima semana.
“Acreditamos que (os preços de) serviços ainda pressionados devem mudar o teor do comunicado do Copom, no encontro da semana que vem. O foward guindance deve ser retirado, com o BC retirando os próximos passos da autoridade. Isso parece ser um ponto de consenso dos diretores, com Galípolo e Roberto Campos alinhados”, projeta o economista.
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