Dólar pende para R$ 5,80 e real fica mais atrativo que peso mexicano, diz co-diretora da Armor Capital

A gestora Ana Paula Moreno Fachim, co-CIO da asset Armor Capital, acredita que o real hoje apresenta maior valor em operações de carrego contra o dólar do que o peso mexicano. À luz das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao México e de uma balança comercial favorável no primeiro trimestre, ela prevê uma banda de dólar entre R$ 5,80 a R$ 6.
“Mas pendendo mais para R$ 5,80”, afirma a diretora da Armor. Além da alta nas exportações do agronegócio entre janeiro e março, ela diz que o real deve se beneficiar da estabilidade nas taxas de renda fixa nos EUA e de um “choque” menos agressivo de Trump.
Real ganha do peso contra dólar com Brasil fora das tarifas
A tarifa imposta por Trump sobre o México coloca pressão sobre a moeda mexicana contra o dólar, diz Paula Moreno. Nesta segunda-feira, a presidente Claudia Sheinbaum chegou a um acordo com Trump para prorrogar a aplicação de tarifa de 25% sobre bens mexicanos importados aos EUA.
O peso mexicano acumula alta no ano contra o dólar, mas perde para o real. Segundo a consultoria Elos Aytar, a divisa americana se desvaloriza em 6,41% sobre o real no ano. Já a moeda mexicana acumula ganhos de 0,87%.
“A perspectiva é de que o real performe melhor que o peso em momentos ruins no mercado”, diz Paula.
Para ela, o real é hoje uma das apostas mais claras em operações de cash and carry. Nelas, o investidor compra a moeda à vista e espera que a valorização sobre o dólar gere lucros ao vendê-la no futuro.
“Estamos falando de um ambiente em que Brasil não é atingido pela guerra comercial e de sazonalidade positiva. O real pode ter um melhor desempenho que o peso mexicano em carry“, completa a gestora da Armor Capital.
Apesar de o País não sofrer efeitos diretos de tarifas comerciais, ações de empresas brasileiras com sede no México registraram queda na bolsa de valores nesta segunda.
A gestora vem apostando na alta do real contra o dólar em sua estratégia de trading de moedas para seus dois fundos multimercado, Armor Axe e Sword. Hoje, ambos agregam R$ 950 milhões ao R$1,2 bilhão em ativos sob gestão da Armor Capital.
Volatilidade faz parte do mercado, mas vemos (no real) uma oportunidade de carrego maior”
Ana Paula Moreno Fachim, diretora da Armor Capital
Assim, a ex-head de fundos multimercado da Santander Asset afirma que o real deve ficar na banda de R$ 5,80 a R$ 6,00. Mas que existem mais fatores que justificam uma baixa da moeda no cenário internacional.
Trump ‘light’ trouxe alívio para mercado e ao real
A diretora da Armor indica que o diferencial de juros deve favorecer o real na queda de braço contra o dólar.
Desde o pico do estresse no mercado financeiro em dezembro, quando a moeda americana bateu recorde na cotação, houve aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic. A decisão veio na mesma quarta-feira em que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) decidiu manter as taxas de juros por lá.
Além disso, diz Paula, o mercado sofreu um forte choque neste início de ano. “A expectativa era de um Donald Trump mais agressivo, logo de cara”, afirma.
“Mas, mesmo com as tarifas implementadas, vemos que a curva dos títulos do Tesouro Americano está caindo”. O título dos Treasuries com prazo de vencimento de 10 anos, por exemplo, registraram queda de 0,54% nesta segunda-feira (03). Isso após o acordo entre EUA e México que prorrogou o uso de tarifas de importação.
Tudo porque uma guerra comercial à mercê dos Estados Unidos, segundo a executiva, “provoca menos crescimento econômico” global, ao mesmo tempo em que levaria à alta da inflação nos EUA.
“E por isso a taxa de Treasuries de curto prazo subiu, mas a longa ficou estável.”
“Se o investidor estrangeiro percebe taxas estáveis e um dólar mais estável, ele começa a fazer uma alocação em países emergentes e no real, por exemplo. Há 12 dias atrás tivemos a saída da Cosan da Vale (VALE3), e os grandes compradores foram bancos estrangeiros.”
Ainda de acordo com a especialista, “tem coisas na bolsa que estão baratas. E quem está fazendo a diferença nesse play são esses investidores estrangeiros. Se tivermos um ambiente de dólar mais estável, podemos ver esse movimento durando mais um pouco.”
‘Ou NTN-B volta a fechar ou a bolsa cai’
A preocupação da gestora é a de muitos de dentro do mercado brasileiro: a desvantagem em relação aos títulos híbridos do Tesouro Direto. Hoje, o IPCA+ aberto ao investidor pessoa física oferece retornos de 7,70% em prazo de cinco anos.
“O mercado de NTN-B (Notas do Tesouro Nacional classe B, classificação do Tesouro IPCA+) não erra”, assegura Paula Moreno. Para ela, o Ibovespa “não se sustenta” a 126 mil pontos enquanto os títulos de renda fixa não perderem uma atratividade maior.
“Ou a NTN-B vai voltar a fechar porque o governo está vindo com mais um ajuste fiscal, ou a bolsa cai”.
Ela explica, por fim, que quedas na bolsa dos Estados Unidos, principalmente das ações de tecnologia, podem justificar uma alocação do investidor estrangeiro no Brasil.
“Mas essa taxa de IPCA+ é insustentável. Tanto para a bolsa brasileira subir quanto para a trajetória da dívida pública”, conclui Paula Moreno, da Armor Capital.
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