Dólar bate R$ 6,20 e emperra perspectivas de valorização do real para o curto prazo

Ata do Copom confirmou o tom mais duro depois da última reunião do ano. Questão política interfere na alta do dólar

O dólar tocou os R$ 6,20 perto das 12h15 do pregão desta terça-feira (17), registrando novo recorde negativo para o câmbio. A ata do Copom confirmou o tom mais duro depois da última reunião. Além disso, há questões políticas e econômicas interferindo no desempenho da moeda.

Assim, o movimento de queda do dólar, esperado pelos analistas, ainda parece longe de se concretizar. Na semana passada, analistas indicaram a possibilidade de o câmbio se apreciar após a alta dos juros e uma tranquilização das taxas de juros

“Esperamos que a reação inicial do mercado seja de flattening (achatamento) da curva de juros, valorização do real e queda das inflações implícitas das NTN-Bs”, disse Sério Goldenstein, estrategista-chefe da Warren.

Por enquanto, o movimento tem sido o contrário. As taxas de juros para janeiro 2027 chegaram na máxima de 15,90%.

Os impactos dos juros sobre o câmbio poderão ser vistos ainda no primeiro trimestre de 2025. Ao menos, é o que espera Volnei Eyng, CEO da Multiplike.

“Acredito que até março teremos um alívio sobre a inflação, e o dólar tende a baixar no período, também devido aos novos aumentos de juros.”

Falas de Lula e medo de interferência no BC

Segundo Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, a entrevista de Lula ao programa Fantástico da TV Globo ajudou a levar mais instabilidade à moeda brasileira.

Ele menciona o fato de o presidente dizer que cuidaria da alta de juros, que segundo o mandatário tem sido o principal problema do País.

Assim, o mercado entende que pode haver uma tentativa de interferência do governo federal na gestão de Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência do Banco Central em janeiro de 2025.  

“Isso coloca em xeque a capacidade de o Banco Central se manter independente sob a gestão de Galípolo”, diz Moreira.

Apesar da análise do especialista e da fala do presidente Lula, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou em 100 pontos-base a taxa básica de juros do Brasil. A Selic saltou de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano. O mesmo colegiado indicou que haveria aumentos da mesma ordem nas próximas duas reuniões. Assim, de certa forma a decisão impede qualquer interferência no banco.

Gabriel Galípolo, escolhido por Lula para ser o novo presidente do Banco Central. Fotos: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Ata do Copom destaca inflação

Além disso, Moreira, da WMS, menciona a parte da ata que reforça que as expectativas para inflação estão “completamente desancoradas”, especialmente a de serviços, que tem maior inércia.

“O resultado disso a gente acredita que tende a ser a curva de juros voltando a abrir (aumento dos juros futuros)”.

BC é ‘única demonstração de responsabilidade’, diz analista

Victor Furtado, head de Alocação da W1 Capital, diz que o Banco Central aparece como “única fonte de demonstração de responsabilidade no atual momento”.

Nesse sentido, o especialista aponta que o governo está com credibilidade baixa, “com sucessivas tentativas falhas de reaver a confiança dos investidores”.

Dólar sobe cerca de 25% em 2024

O dólar valoriza pouco mais de 25% no acumulado de 2024 contra o real. Além disso, nos últimos 30 dias, a moeda norte-americana saiu de R$ 5,7469 para os R$ 6,20 nesta terça-feira (17).

O principal motivo para tamanha apreciação do dólar é a crescente percepção dos agentes financeiros de que a dívida pública caminha para uma trajetória não sustentável.

Diante disso, o investidor passa a cobrar mais para ter o real em mãos, elevando, assim, o chamado prêmio de risco.

BC vende dólar

O Banco Central anunciou na manhã desta terça-feira a realização de venda à vista de dólar no mercado de câmbio.

O período de acolhimento das propostas foi de 9h36 a 9h41, e o lote mínimo era de US$ 1 milhão. A data de liquidação será em 19 de dezembro de 2024.

Com informações do Valor Econômico  

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