Mercados organizados no Brasil: B3 e players emergentes

O mercado de bolsas de valores no Brasil está passando por uma transformação, com o surgimento de novos players que desafiam o domínio da B3.
- A BEE4, uma nova bolsa de valores focada em pequenas e médias empresas, tem se destacado por suas inovações regulatórias e tecnológicas. A empresa vem atraindo startups e empresas em crescimento que buscam acesso a capital.
- A ATG, apoiada pelo fundo árabe Mubadala, também promete conquistar espaço na negociação de ações à vista. A CSD Registradora, investida pelos bancos BTG e Santander, e a CBoe também anunciaram planos de competir com a B3.
Na coluna deste mês, explico um pouco do histórico e cenário competitivo no segmento de mercados organizados no Brasil, contando um pouco da estratégia de posicionamento da BEE4 nesse contexto.
Até recentemente, a B3, a bolsa de valores brasileira, era o único mercado autorizado para listagem e negociação de ações no Brasil.
Criada em 1967 como Bovespa, a instituição consolidou o mercado de São Paulo, que vinha se desenvolvendo desde 1890. Assim, menos de duas décadas mais tarde, em 1983, integrou as bolsas regionais de Porto Alegre (BVPA), Minas Gerais (BVMG), Recife (BVR), e Belém (BVB).
Então, se firmou como a principal do país em 2000, com a incorporação das operações da Bolsa do Rio de Janeiro (BVRJ), que perdeu força depois da icônica quebra no episódio Naji Nahas anos antes.
B3: centralização das operações em São Paulo
A centralização das operações em São Paulo fortaleceu a posição de liderança da Bovespa. Logo, a Bovespa avançou na consolidação do mercado financeiro brasileiro, com a criação da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão). Então, resultado da fusão entre a BM&F Bovespa e a Cetip, aprovada pelo CADE em 2017.
Antes dessa emblemática fusão, que consagrou o “monopólio de fato” da B3, surgiram iniciativas de criação de uma nova bolsa no Brasil, principalmente entre 2011 e 2016.
As que mais se destacaram na imprensa foram a da exchange americana BATS Global Markets em conjunto com a gestora brasileira Claritas Investimentos, além da parceria entre a Direct Edge e a ATG (Americas Trading Group).
Na mesma época, saíram notícias sinalizando o interesse da NYSE (New York Stock Exchange) em também ingressar no mercado brasileiro.
Nos anos que se seguiram, todas as iniciativas naufragaram.
B3: novos concorrentes?
Nos últimos anos, além da BEE4, a ATG ressurgiu com força após investimento do fundo árabe Mubadala, prometendo conquistar espaço na negociação de ações à vista.
A CSD registradora, investida pelos bancos BTG e Santander, em conjunto com a exchange americana CBoE, também anunciou que pretende competir com a B3, criando uma nova bolsa de valores.
Além disso, a A5X, uma nova iniciativa de veteranos do mercado de corretoras anunciou que vai entrar na disputa no segmento de futuros e derivativos.
Como a BEE4 vem se estabelecendo neste cenário competitivo?
Em operação desde setembro de 2022, com autorização para funcionamento no âmbito do sandbox regulatório da CVM, a BEE4 vem inovando em aspectos regulatórios e tecnológicos, e se destaca pelo foco claro em um segmento até então inexplorado no cenário local: o desenvolvimento do mercado de acesso brasileiro.
Ao contrário da B3, que atende principalmente grandes empresas, a BEE4 se concentra em oferecer um novo mercado, criado para viabilizar a listagem e negociação de ativos de pequenas e médias empresas.
As inovações que regem as regras desse mercado, que já conta com 4 empresas listadas, permitem que pequenas empresas, que geralmente encontram dificuldades para acessar os mercados tradicionais, possam se listar, captar recursos e estabelecer uma relação com investidores.
Isso não apenas aumenta a visibilidade dessas empresas, mas também abre portas para novas oportunidades, como follow-ons e outras emissões de capital.
Inovações
Vale destacar que muitas dessas inovações estão incluídas na consulta pública SDM nº 01/24, divulgada pela CVM em setembro e cujo prazo foi até 18 de dezembro de 2024.
A consulta introduz o regime FÁCIL (Facilitação do Acesso ao Capital e Incentivo às Listagens), que expande as prerrogativas hoje exclusivas da BEE4, enquanto participante do sandbox regulatório, para outros mercados organizados.
Isso acontecerá após a participação de interessados e a publicação de uma nova resolução resultante da consulta pública.
Outro aspecto relevante que diferencia a BEE4 é o pioneirismo na utilização de Distributed Ledger Technology (DLT) em infraestrutura de mercado regulado, ficando entre os primeiros casos de uso no mundo. Uma abordagem moderna, explorando implementações primariamente nos processos de pós-negociação, com foco inicial no controle de posições e trocas de titularidade dos ativos.
E certamente, um dos passos mais importantes desse novo mercado até aqui tenha sido dado também em setembro, quando a BEE4 anunciou a conexão com as corretoras Itaú e Genial Investimentos.
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