Após seca de IPOs, 2023 deve ter retomada tímida
Nenhuma empresa abriu capital em 2022; juros altos, incerteza fiscal e desconfiança de investidores foram determinantes
Executivos uniformizados, papel picado e chuva de posts no LinkedIn são cenas comuns da festa por um IPO, algo que não vemos há mais de um ano no Brasil. A última vez que o sino da bolsa brasleira tocou foi no dia 10 de agosto de 2021, quando a Oncoclínicas (ONCO3) ingressou no Novo Mercado da B3.
Desde então, dezenas de IPOs foram cancelados.
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Só em 2022, empresas como Madero, Vix Logística, CSN Cimentos e Cencosud adiaram a abertura de capital.
Um exemplo: na última quarta-feira (7), a gestora Urca desistiu de abrir capital no que seria a única operação do gênero em 2022 e decretou que este será o primeiro ano desde 1998 sem IPOs na bolsa brasileira.
Como foram os IPOs em 2020 e 2021
Mas nem tudo estava tão parado, em termos de IPO.
Isso porque a seca de fato começou logo após uma marca de sucesso: 73 empresas estrearam na bolsa entre 2020 e 2021, mesmo com a crise econômica causada pela pandemia de Covid-19.
Contudo, há expectativa de retomada dos IPOs ao longo de 2023, mas especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira não estão otimistas.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, acredita que a retomada terá ritmo lento. “Os investidores estão mais exigentes por causa dos IPOs mal sucedidos (da última leva)”.
Para esses investidores, as empresas que querem se capitalizar terão um desafio maior em 2023. Tudo porque o cenário é de incerteza fiscal, o que deixa a operação de entrar em uma empresa estreante ainda mais arriscada.
Qual é o poder dos juros?
Os juros têm papel fundamental neste cenário.
Para aproveitar os juros baixos, por exemplo, muitas empresas aceleraram o processo de abertura de capital e precificaram a oferta com múltiplos altos.
Não à toa, poucas companhias da última safra têm bom desempenho na bolsa.
IPO é um bom investimento?
Com muitas incertezas à frente e lições aprendidas recentemente, o investidor deve estudar com muita atenção os números das candidatas a estreantes antes de entrar nas ofertas iniciais.
“O investidor opta por não alocar seus recursos em mais risco, em empresas recém-chegadas, com mais promessas do que histórico de resultados e que talvez não conseguiriam nem pagar a Selic”, afirma Danielle Lopes, sócia e analista de ações da casa de análises Nord Research.
A expectativa dos bancos de investimentos parece mais otimista que a de Lopes.
Segundo dados do mercado, a estimativa conservadora das empresas é que as ofertas movimentem entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões, enquanto o palpite mais otimista vê espaço para R$ 100 bilhões movimentados com IPOs e follow-ons (oferta subsequente, de empresas já listadas na B3).
Por que os IPOs não decolam?
Por enquanto, a Selic se apresenta como uma das vilãs das ofertas em 2023.
Como o mercado espera juros altos no governo Lula, a precificação das estreantes na bolsa pode sofrer com as taxas altas.
Outro ponto delicado é a incerteza fiscal que fez o Ibovespa derreter desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Um governo mais ‘gastão’ pode aumentar a dívida pública do país, causar aumento da inflação e, consequentemente, aumentar o risco-país, fazendo empresas desistirem ou adiarem os planos de IPO”, diz Gonçalvez.
Para Danielle Lopes, IPOs podem voltar a partir de julho do ano que vem, isso se os juros começarem a cair.
Nesse cenário, “o investidor vê que não vai ter grande rentabilidade da Selic no futuro e começa a buscar oportunidades”, explica.