Por que o mercado ‘panicou’ após propostas da ANS e descontou em Hapvida (HAPV3)

Agência reguladora propôs recentemente novas normas para o repasse de preços de seguradoras aos consumidores, atitude considerada ‘jogo pesado’ pelos investidores

Os planos da Agência Nacional de Saúde (ANS) para o ramo de saúde privada e complementar geraram uma espécie de pânico no mercado de ações recentemente. As propostas da agência para planos de saúde de companhias como Hapvida (HAPV3), SulAmérica, que pertence à Rede D’Or (RDOR3), e Qualicorp (QUAL3) levaram à desvalorização geral de ações de seguradoras de saúde. O mercado financeiro considera as regras da agência como “jogo pesado”.

As ações da Hapvida (HAPV3) despencaram mais de 11% com a novidade. Segundo analistas, as ações da seguradora são mais sensíveis às alterações propostas, como a mudança de reajuste e novo limite de coparticipação.

O efeito das propostas da ANS em Hapvida (HAPV3) e no setor

As possíveis mudanças vieram como surpresa negativa para o mercado financeiro. E, assim, o tombo das ações de seguradoras foi mais forte.

Após concluir a consulta pública sobre os temas de reajuste em planos de saúde que iniciou em setembro, a ANS propôs na última terça-feira novas normas para o repasse de preços de seguradoras aos consumidores. Assim como limites de coparticipação sobre a taxa mensal dos planos.

Dessa forma, ações da Hapvida (HAPV3) recuaram 11,28% na terça-feira, enquanto a queda foi de 9% para os papéis da Qualicorp (QUAL3) e de 1,56% para Rede D’Or (RDOR3).

Em primeiro lugar, o modelo de coparticipação deve ter uma contribuição menor na receita mensal dos planos de saúde. Isso porque, conforme propõe a reguladora, o modelo de contribuição conjunta para a realização de procedimentos deve chegar ao limite de 30% da mensalidade dos planos.

No texto, a ANS indica que a coparticipação se limite ao valor de 3,6 vezes a mensalidade.

Além disso, a agência propôs que o modelo de franquia e coparticipação não valha para procedimentos oncológicos e de hemodiálise, entre outros.

Outra proposta cria um teto para reajuste de planos de saúde somente se atingirem 75% de sinistralidade. Na prática, isso significa que o reajuste deve ocorrer somente quando as despesas assistenciais chegarem a 75% de receita líquida dos beneficiários.

O mercado sentiu o impacto das mudanças. Em relatório, o BTG Pactual apontou que as medidas – sujeitas a mudanças porque a ANS deve implementá-las somente em fevereiro – são negativas para o setor privado de saúde e suas ações. Os analistas destacam o porquê:

“Mais da metade dos operadores de saúde usam metas de sinistralidade abaixo de 75% para promoverem reajuste.”

Entenda as propostas da ANS:

PropostaDetalhes
Limite de CoparticipaçãoAté 30% da mensalidade
Exclusão de ProcedimentosOncológicos e hemodiálise não terão coparticipação
Teto para ReajusteSomente se sinistralidade atingir 75%
Impacto EsperadoNegativo para operadoras com sinistralidade abaixo de 75%

Hapvida (HAPV3) cai mais por recuperação e menores custos

Na visão do mercado, a empresa mais afetada pelas propostas, caso sejam aprovadas conforme sugere a ANS, seria a Hapvida (HAPV3).

A empresa é a maior do setor e atua com custos menores e por regiões do Nordeste. Isso significa que a operadora de saúde pode sofrer mais com quedas de margem por limite de coparticipação e dificuldade de reajuste.

“Como o provedor de menor custo, a Hapvida seria uma das mais afetadas, já que o novo marco pode penalizar operadores mais eficientes”, dizem analistas do BTG.

De acordo com seu último resultado financeiro, a Hapvida (HAPV3) tem 70% de sua receita operacional líquida. O que compromete reajustes abaixo do nível proposto pela ANS. Por isso, também na visão do Goldman Sachs, a postura do regulador compromete mais a Hapvida.

Em relatório, os analistas do Goldman Gustavo Miele e Emerson Vieira sugerem “que a flexibilidade de reajustes para companhias que operam com nível de maior eficiência, como a Hapvida, é colocada em xeque”.

As medidas também emperram a recuperação da Hapvida, cujos últimos resultados financeiros vinham sendo abalados pela alta sinistralidade, destaca Heitor Martins, analista e fundador da plataforma Valor Academy.

Assim, a Hapvida (HAPV3) “busca se recuperar de anos difíceis”, diz Martins. “Ela vem de altas taxas de sinistralidade, e na verdade se recupera de prejuízos líquidos muito altos.”

Como ficam Rede D’Or (RDOR3) e Qualicorp (QUAL3)?

Os efeitos das propostas da ANS sobre Qualicorp (QUAL3) e Rede D’Or seriam menores, conforme aponta Martins.

A SulAmérica, braço de seguros de saúde da administradora de hospitais, já opera sob uma taxa de sinistralidade caixa hoje acima do patamar de 75%, explica o Goldman. O efeito seria “nulo” para a Rede D’Or, avalia o banco americano.

Já o BTG Pactual mensura que as ações devem sentir algum impacto. A preferência do banco no setor de saúde, contudo, é pela Rede D’Or (RDOR3) porque a empresa ainda “gera valor e consolida o mercado de hospitais privados”.

Já a Qualicorp (QUAL3) é mais uma a sofrer alguns impactos, mas menores do que a Hapvida. Martins explica que, além de ter a Rede D’Or como uma das principais acionistas, a seguradora age como administradora e comercializadora de planos ao mesmo tempo.

“Qualicorp (QUAL3) não teve recuperação como Hapvida teve nos últimos trimestres. E, portanto, ela tem menos espaço para cair”, diz.

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