Listagem nos Estados Unidos pode levar JBS ao S&P 500

Movimento facilitaria acesso de grandes investidores e aceleraria crescimento da gigante de proteínas brasileira

Empresas citadas na reportagem:

As ações da JBS (JBSS3) disparavam na B3 nesta terça-feira (18), após um acordo entre grandes acionistas da empresa que vai pavimentar a listagem nos Estados Unidos.

Na noite segunda-feira, a gigante de proteína animal avisou que sua controladora J&F fez acordo com a BNDESPar, braço de participações do BNDES.

O acerto define que a BNDESPar abrirá mão de votar em assembleia de acionistas sobre proposta de listagem das ações da JBS em bolsa nos EUA.

Em troca, a J&F prometeu uma compensação: se a listagem dupla for aprovada e as ações da JBS não atingirem um determinado preço, a BNDESPar receberá até R$ 500 milhões.

O preço em questão, que não foi divulgado, terá que acontecer até 26 de dezembro.

Acordo entre J&F e BNDESPar abre caminho para JBS na Nyse

Há pelo menos uma década, a J&F, que tem 48% da JBS, quer listar a companhia em bolsa nos Estados Unidos.

No entanto, a BNDESPar vinha se opondo a essa iniciativa, sob argumento de que isso poderia levar a JBS a constituir sede fora do país.

Em tese, se isso acontecesse, a empresa poderia pagar menos impostos no Brasil, desagradando o governo federal, que controla o BNDES.

Por meio da BNDESPar, o BNDES detém 20,8% da JBS, o que o torna o maior investidor da empresa, fora a própria J&F.

Segundo analistas, com a BNDESPar agora aceitando ficar da fora de um votação em assembleia, as chances de aprovação da proposta de dupla listagem aumentam.

“Este é um grande evento de redução de risco para o processo de listagem da JBS nos EUA”, afirmou o BTG Pactual em relatório.

O banco de investimentos avalia que a listagem nos EUA também remove um grande peso nas ações.

Isso porque o mercado especulava que o BNDESPar poderia vender sua participação antes de qualquer votação dos acionistas.

Como o volume de ações em poder do banco é muito grande, isso poderia ‘encharcar’ o mercado com ações, provocando queda dos preços.

“Com esse acordo, o BNDES deve manter sua participação na empresa pelo menos até que as ações tenham uma reavaliação”, afirmou o Safra, em relatório.

A JBS não divulgou nenhum cronograma para a listagem, pois a aprovação da Securities and Exchange Comission (SEC) ainda é necessária.

No entanto, o acordo sugere uma confiança crescente de que a listagem está finalmente se aproximando.

Segundo reportagens da mídia, a JBS espera listar suas ações na Bolsa de Nova York (Nyse) até agosto próximo.

Listagem da JBS nos EUA pode criar círculo virtuoso

Ainda de acordo com analistas, uma listagem da JBS poderia ser amplamente positiva para as ações.

Primeiro porque isso permitiria à J&F ter uma estrutura societária da companhia que lhe desse poderes ampliados de voto.

Desse modo, a J&F poderia levantar capital para crescimento sem diluir o controle, potencialmente acelerando a atividade de fusões e aquisições.

Adicionalmente, isso reduziria uma lacuna de avaliação entre a JBS e rivais nos EUA.

A JBS há muito tem um desconto em relação aos seus pares globais, particularmente a Tyson Foods, apesar de ser uma empresa maior e com mais diversificação.

A própria Tyson foi negociada em múltiplos semelhantes aos da JBS até 2014, quando adquiriu a Hillshire Brands, aumentando significativamente sua exposição a alimentos preparados de margem mais alta.

Essa mudança impulsionou a lucratividade e impulsionou uma expansão dos múltiplos de mercado.

“Uma listagem nos EUA poderia ajudar a diminuir essa lacuna, ampliando sua base de investidores”, afirmou o BTG Pactual.

JBS no S&P 500?

Simultaneamente, a listagem direta da JBS nos EUA facilitaria o acesso de vários grandes investidores institucionais às ações, aumentando a liquidez.

Fundos passivos, por exemplo, poderiam contribuir para um fluxo de compra considerável, já que a JBS entraria no índice Russell 1000 e, após seis meses, poderia buscar inclusão no S&P 500.

“A listagem nos EUA pode ser transformadora para a JBS, provando acesso a novos fundos e a uma estrutura de acionistas flexível”, escreveram os analistas do Santander.

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