Ações de tecnologia caem e Warren Buffett volta aos holofotes com investimentos em ativos “de valor”
Com foco em ativos “de valor”, Berkshire Hatthaway se aproxima do desempenho de fundo do Ark Invest que foi sensação na pandemia
Na tabela de desempenho dos investimentos pós-pandemia, o principal fundo da Ark Invest, de Cathie Wood, está perto de ser superado pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, refletindo a drástica virada na sorte dos dois grandes investidores.
Em 2020, o Innovation, um ETF (fundo negociado em bolsa como se fosse ação) da Ark Invest, conhecido pelo símbolo ARKK no mercado acionário dos Estados Unidos, trucidou a maioria dos concorrentes, graças às apostas agressivas de Wood em empresas de alto crescimento, que irromperam em seus setores desestabilizando os concorrentes, como a montadora Tesla. O desempenho atraiu bilhões de dólares dos investidores e elevou os ativos totais sob gestão da Ark Invest a um pico de US$ 61 bilhões no início de 2021, contribuindo para que ela se tornasse o “rosto” da recente onda de alta do mercado.
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Muitas das grandes apostas de Wood, contudo, começaram a perder força em 2021 e caíram ainda mais neste ano, em meio a um violento giro do mercado em direção a ações mais baratas, de setores muitas vezes menos glamourosos, fora de moda ou impopulares.
Por sua vez, as ações da Berkshire Hathaway continuaram a se valorizar de forma constante, reduzindo a diferença no desempenho entre o conglomerado de investimentos de Buffett e o Ark Innovation ETF desde o início de 2020 para apenas 8 pontos percentuais.
O desempenho comparativo dos dois gestores de fundos foi particularmente contrastante neste mês, com as ações da Berkshire Hathaway subindo cerca de 2% desde o início de janeiro e o maior ETF da Ark Invest caindo 24%. Desde o início de 2021 até o fechamento de sexta-feira, o ARKK acumula queda de 43%, enquanto a Berkshire Hathaway está em alta de 34%.
Investidores em ações de crescimento procuram empresas que, às vezes, nem dão lucro, mas que estão em rápida expansão; investidores em ações de valor se preocupam mais com a cotação relativa dos papéis e frequentemente procuram pechinchas em setores fora de forma ou assolados por dificuldades.
Valor versus crescimento
O ETF de Wood e a Berkshire Hathaway são frequentemente vistos como grandes exemplos de dois estilos de investimento muito diferentes — o de crescimento e o de valor, respectivamente. A reversão da tendência de suas cotações reflete a nítida movimentação entre as duas tribos vista nos últimos anos.
O início de 2022 tem sido particularmente difícil para as ações que costumam ter a preferência de Wood — as de “crescimento”, do setor de tecnologia, cujas operações muitas vezes ainda são deficitárias — e vantajoso para as empresas mais estáveis, que são a marca do estilo de investimento de Buffett. A força dessa “rotação” de um estilo para outro para outro tem provocado assombro nos mercados e desencadeado especulações de que um novo cenário para o mercado estaria por chegar.
“Será que a violência [da] rotação indica que a mudança de cenário já chegou e que uma reversão prolongada do desempenho [das ações] de crescimento versus [ações] de valor está em andamento?”, perguntou-se a equipe de analistas da Wellington Management, em nota recente aos investidores.
Os investidores em ações de crescimento procuram empresas que, às vezes, nem dão lucro, mas que estão em rápida expansão e frequentemente se encontram em setores aquecidos, como o de tecnologia. Os investidores em ações de valor se preocupam mais com a cotação relativa dos papéis e frequentemente procuram pechinchas em setores fora de forma ou assolados por dificuldades — como, recentemente, o bancário e o de energia.
A melhora nas perspectivas de crescimento da economia e a reorientação dos bancos centrais a uma posição mais rigorosa contra a inflação — encabeçados pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) — foram os principais gatilhos para o giro dos investidores, do “crescimento” para o “valor”. As ações de valor normalmente se encontram em setores que se beneficiam quando a economia do país vive um crescimento mais forte e as taxas de juros estão mais altas, enquanto as ações de crescimento perdem brilho em tais cenários, segundo analistas.
Muitos gestores de fundos consultados pelo Bank of America preveem continuidade nessa rotação, com 50% tendo projetado em janeiro que as ações de valor continuariam superando o desempenho das de crescimento — uma porcentagem quase recorde.
“Com o Fed girando rumo a um aperto [monetário], é possível que as taxas subam com certa persistência”, disse Lisa Shalett, diretora de investimentos da Morgan Stanley Wealth Management. “Isso sinalizaria que a rotação do valor-para-o-crescimento que temos observado tem fôlego para 2022.”