‘Ser o Warren Buffett não é tão simples de se fazer na prática, como é na teoria’, diz Louise Barsi

Filha do maior investidor pessoa física da bolsa, Luiz Barsi Filho, a especialista fala sobre como se blindar em cenários voláteis, que deve marcar o ano de 2025

Louise Barsi fala com exclusividade para a Inteligência Financeira - Foto: Divulgação
Louise Barsi fala com exclusividade para a Inteligência Financeira - Foto: Divulgação

A economista Louise Barsi, que também é analista CNPI e sócia do AGF, começou essa entrevista à Inteligência Financeira fazendo um mea culpa. “Nós, economistas, falamos no final do ano passado que teríamos um cenário bastante otimista para a bolsa, dólar abaixo de R$ 5, Selic em 9,25%. Nada disso se concretizou, então muitas vezes esse tipo de exercício é muito mais uma futurologia do que algo crível para a gente basear as nossas decisões de investimento.”

Louise Barsi recebeu a equipe na sede do AGF, no Centro de São Paulo. O pai, Luiz Barsi Filho, que acompanha a companhia de longe, não estava lá. Mas foi lembrado algumas vezes, como você vai ver no vídeo acima.

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De toda forma, a sempre serena Louise Barsi fez um balanço de 2024 e qual deve ser o comportamento do investidor ao longo de 2025. “O que a gente tem hoje é um fato claro. O cenário continua desafiador, o fiscal e as taxas de juros continuam no centro das discussões. E o investidor terá que ficar atento a tudo isso.”

Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista:

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O que o investidor deve fazer em 2025?

É sempre muito importante, além de você estar antenado com o que está acontecendo na economia, ter uma estratégia para lidar com essa volatilidade. Lembre que é muito fácil ser investidor de longo prazo quando a bolsa está em alta, mas quando de fato as oportunidades aparecem, está todo mundo pessimista.

Louise Barsi e o foco em dividendos

O que foi legal, funcionou e o que não deu tão certo. Legal, Eu acho que é o seguinte a vantagem da nossa estratégia é que ela é a mesma praticamente há mais de 50 anos. Tudo começou com base lá atrás, na década de 1970, e a gente vem perpetuando ao longo do tempo. Quando você olha para uma janela tão curta quanto 12 meses, é difícil você traçar um cenário do que deu certo, do que deu errado.

A força das empresas “Best”

Mas, a gente sempre toca muito no assunto de você focar em empresas com grande potencial de crescimento. Principalmente as do que chamamos de “Best“, ou seja: bancos, energia, seguro, saneamento e telecom. São setores com características fundamentais, como a correção nas suas receitas conforme a inflação.

Então, são empresas cujos negócios são mais perenes, que tendem a ser mais resilientes em períodos turbulentos. Ou seja, são mais defensivas também na bolsa, geram fluxo de caixa mais previsível e isso dá um espaço, um alívio aos números. Assim, elas conseguem reinvestir nos seus negócios e também remunerar os investidores. E há ainda um longo histórico dessas empresas na bolsa.

Lista de boas pagadoras de dividendos

Antes de você começar a estudar, se for o seu interesse fazer uma carteira de dividendos, eu acho que não basta você fazer uma lista das maiores pagadoras do ano. A gente sempre gosta de comprar aquelas que estão na lista todos os anos.

Dica de Louise Barsi para controlar a emoção ao investir

Tem alguns sinais que vão aparecendo, é claro, é muito difícil a gente mudar. Quem investe em ações há muito tempo sabe que as coisas acontecem e não tem como a gente prever.

Então, diante dessa postura humilde de você entender que você não consegue prever o mercado, qual é o comportamento que você pode aderir? Primeiro colocar os seus recursos nas caixas certas. O dinheiro que é do curto prazo tem que ficar na renda fixa, em produtos mais conservadores, como Tesouro Selic, CDB, para ter previsibilidade e liquidez imediata.

Então, basicamente reserva de emergência e recurso para o médio prazo também, na minha opinião, devem estar na renda fixa.

Onde muitos investidores erram, segundo Louise Barsi

Um dos erros que os investidores mais cometem, e não só os iniciantes, é você colocar o recurso que era do curto prazo em um ambiente extremamente volátil, em que você não tem garantias. Então, em poucos meses você acaba se frustrando.

E é a Lei de Murphy (quando algo tem pouca chance de dar errado dá errado mesmo assim): quando você precisa do dinheiro que está na bolsa, ela vai estar caindo. É sempre assim, isso é vida. Então, por mais que seja um recurso menor, a gente sempre recomenda que você faça aportes constantes e mensais de recursos que de fato são para o longo prazo. Isso, claro, não acaba com os riscos, mas mitiga boa parte dos erros que nós, seres humanos, podemos cometer.

O que fazer quando o mercado está volátil

E é importante manter-se informado. Nós nos locais corretos, claro, não só acessando veículos de mídia de confiança, mas nas fontes primárias, que é, por exemplo, a área de relação com investidores (RI) das empresas de capital aberto. Então, sempre que você vê um dia turbulento na bolsa, o RI das empresas que você tem em carteira escreve pelo menos parágrafo.

Mas você sempre tem que ter claro a resposta para seguinte pergunta: “Por que eu comprei essa empresa?”. E mais: por que você entrou em um projeto? Então, sempre que você tira esse componente emocional e volta para o plano, para a estratégia que você tem, aumenta suas chances de ganhar dinheiro. Acho que é a palavra chave para o investidor de longo prazo de sobrevivência. Não é tentar acertar o timing, não é tentar comprar a galinha dos ovos de ouro. Mas é seguir o plano, aportar mensalmente e reinvestir os dividendos.

Qual vai ser o pulo do gato para o investidor em 2025?

Olha, eu, Luise Barsi, faço aportes mensais, que carinhosamente chamo de ‘feijão com arroz’, que é aquela parcela do meu salário que religiosamente vai para os meus investimentos e os dividendos vão pingando mês a mês. Meu grande foco em 2025 vai ser minha carteira previdenciária.

Mas pretendo fazer como meu pai (o mega investidor Luiz Barsi Filho), trabalhar até quando Deus permitir. Mas acho que essa é uma provocação interessante, que é o seguinte não é só sobre a aposentadoria, é sobre você ter uma qualidade de vida boa e também aproveitar os dividendos.

As lições de Luiz Barsi Filho para a Louise Barsi

Eu ainda hoje tiro dúvidas com meu pai (Luiz Barsi Filho). A gente tem que ser humilde diante dos cabelos brancos. Afinal, são 55 anos de bolsa, temos que respeitar. É claro que não concordo com absolutamente tudo, mas eu absorvo, respeito tudo o que ele fala e acho que é uma relação muito respeitosa e recíproca entre nós.

Em 2024, o mercado financeiro deu mais alegrias para ele do que nervoso. Foi novamente um ano bastante generoso em termos de recebimento de dividendos, mesmo com a bolsa caindo.

São em anos como o de 2024 que a sua fé é testada, mas quem continua fiel à própria estratégia vai agradecer muito ao seu eu investidor de hoje.

São em momentos como esses que você se pergunta: “Caramba, ser o Warren Buffett não é tão simples de se fazer na prática, no dia a dia, como é na teoria”. Então é isso, você tem que sempre reforçar e entender os objetivos que você tem. Reinvestir os dividendos é simples, mas controlar as emoções é um fator primordial para você ser bem sucedido.

Em quais setores investir, segundo Louise Barsi

O melhor é continuar apostando em setores e empresas resilientes. E acho que o grande segredo é você ter empresas impopulares em momentos impopulares da bolsa. Empresas impopulares são aquelas cuja narrativa não é favorável no momento. Então você tem algumas empresas cujo lucro cresce todo trimestre. Várias dessas empresas têm superado as estimativas dos analistas em termos de rentabilidade, lucratividade. Então, por exemplo, o Banco do Brasil continua negociando a quatro vezes o preço lucro abaixo de valor patrimonial, pagando um dividend yield superior um pouquinho superior a 10% ao ano.

Então, ação de bancos acho que seja o nosso grande destaque. O Barsi também já falou algumas vezes sobre bancos, como o Bradesco. Na visão dele, o Bradesco é uma empresa que, querendo ou não, está fazendo um grande movimento. A gente tem que lembrar que é difícil você dar um cavalo de pau com um transatlântico.

E a taxa de juros para cima tende a beneficiar o setor bancário. Outro exemplo: a Caixa Seguridade, que também é uma empresa que ao longo de 2024 deu bastante alegria e se beneficiou com o aumento de taxa de juros.

E mais: BB Seguridade, que é um das grandes grandes empresas da minha carteira. Dificilmente a gente vai falar nomes que sejam desconhecidos do público. São setores que, como eu disse, tem uma resiliência maior frente a momentos desafiadores, principalmente em relação a taxa de juros alta.

Louise barsi analisa o varejo para 2025

Existem alguns setores que são bastante impactados por fatores exógenos, fatores macroeconômicos que o melhor dos gestores muitas vezes não conseguem blindar suas carteiras desses efeitos. E o varejo é um deles, porque está muito exposto à economia, como alta concorrência e baixa barreira de entrada.

O varejo é um setor muito complicado, por todos os ângulos que você olha. Então, a gente não gosta de coisas muito cíclicas. A gente prefere coisas que passa ano, passam governos e essas empresas ficam, e ficam cada vez mais fortes, independente da qualidade da gestão.

Como montar uma boa carteira de investimentos

Olha, eu particularmente não montaria uma carteira pensando única e exclusivamente em 2025. Eu pensaria olhando para o horizonte de investimento que você quer permanecer na bolsa. Quais são as empresas que você teria em carteira se o mercado fechasse amanhã e você só pudesse ver suas cotações daqui a dez anos, que você estaria confortável? Tanto pelos fundamentos, quanto pelo preço que você está pagando. É tão simples quanto isso.

Assim, invista em empresa de setores mais resilientes, com negócios perenes, que tenham correção de inflação e que você consiga dormir tranquilo. Investir não é para trazer mais ansiedade, é para retirar a ansiedade de que lá no futuro você vai ter uma renda passiva.

Agora, a gente não pode afirmar com certeza para onde vai a Bovespa, o câmbio e os juros. Mas se você montar um plano e tiver uma estratégia, eu tenho certeza que colocando isso em prática ao longo do tempo, você vai se sentir cada vez mais confortável.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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