A próxima virada de ano certamente será muito comemorada, já que 2021 trouxe desafios e perdas enormes para todos. Porém, quando o assunto é dinheiro a preocupação toma conta do horizonte com temas sensíveis como inflação, aumento das taxas de juros, depreciação do real e desconfiança na economia brasileira.
“Em 2022, os canais de estímulos via juros e crédito não estarão mais presentes de forma relevante, em um ambiente com forte ajuste de política monetária (alta da taxa básica de juros), inflação e salário real em queda”, resumiu Carlos Augusto Salamonde, CEO da Itaú Asset, no programa Rota 22, publicado nas redes sociais da empresa. Há ainda a preocupação com o consumo, que deve patinar no ano que vem com o salário dos trabalhadores perdendo para a inflação.
E a Bolsa?
Na Bolsa, é preciso ficar atento ao nível de desconfiança que investidores estrangeiros trazem de 2021. “A menor austeridade e discussões sobre alteração de parâmetros de teto de gastos elevaram consideravelmente a percepção de risco para o país”, comenta Salamonde. Isso tem impacto direto na Bolsa de Valores, que não conseguiu decolar neste ano.
Considerando todas essas preocupações para o ano que vem, o investidor precisa montar sua estratégia para atravessar o momento de pressão e forte volatilidade. Especialistas contaram à Inteligência Financeira o que não fazer no ano que vem; confira:
Não faça mudanças bruscas na sua carteira
Investir não é jogar na loteria. É algo que requer estratégia e o estabelecimento de objetivos. Quem não sabe onde e quando quer chegar pode seguir qualquer caminho. Pensando nisso, dois especialistas recomendam não fazer grandes mudanças na carteira considerando que a construção dela foi pautada em objetivos e prazos estabelecidos pelo investidor.
“A alocação em diferentes classes de ativos e mensuração de risco deve ser feita em todos anos, não apenas em 2022”, diz Enrico Cozzolino, analista da Levante Investimentos.
Para Fabrício Gonçavels, CEO da Box Asset Management, quem investe pensando no longo prazo não deve mudar seu foco. Ainda é possível, segundo ele, aproveitar oportunidades que o ano que vem trará: “temos ativos depreciados na Bolsa, você pode pegar ativos que estão abaixo de seu valor e aproveitar uma oportunidade a mais nessa história”.
Não aposte contra o dólar
Com eleições e desconfiança sobre a trajetória fiscal do Brasil, investir apostando numa valorização do real ante o dólar é arriscado. Sim, o dólar está em um patamar muito alto, mas ainda não há sinais no mercado de que a moeda norte-americana vá se desvalorizar.
“Ainda que eu acredite que o dólar está caro, acho muito difícil apostar contra ele. Eu não faria uma operação esperando apreciação do real”, diz Enrico Cozzolino, da Levante.
Na Bolsa, a aposta contra o dólar pode estar em alguns setores. Um deles é de aviação, com empresas como Gol e Azul, que são muito sensíveis à variação do câmbio. Além de viagens mais caras e mais dificuldade em vender passagens para voos internacionais, um dólar alto significa ainda um custo maior por viagem com o preço alto do combustível, algo que pressiona a margem de lucro das companhias aéreas.
Não tome grandes riscos
Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, 2022 não trará um cenário favorável à tomada de risco. Ele diz que é o momento de “fazer uma diversificação com empresas de fundamentos mais robustos, até mesmo focando em empresas de valor, e não de crescimento, visto que as taxas de juros vão continuar elevadas e a inflação deve permanecer em patamares altos, o que deve prejudicar a performance de empresas com foco em consumo”.
Se já houve um momento de arriscar apostando em empresas que apresentavam resultados ruins, mas ainda havia uma esperança de virada, esse momento ficou no passado. Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, explica: “compramos empresas pensando no longo prazo e as cotações seguem os resultados, ficar entrando e saindo não faz sentido algum porque você acaba errando e perdendo dinheiro”.