Empresas investem no uso de celular como ‘maquininha’ de cartão

Tecnologia deve contribuir para o aumento de pagamentos por aproximação

– Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF
– Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF

Companhias do setor de pagamentos estão investindo no desenvolvimento e na divulgação de soluções que permitem usar celulares como “maquininhas” de cartão. A Stone dá início nesta segunda-feira a uma campanha nacional de exposição da sua funcionalidade, o TapTon. A SumUp também está lançando a sua ferramenta, assim como já fizeram outras empresas, como Nubank e Gertec, desenvolvedora nacional de produtos para meios de pagamento, conhecida principalmente pelas suas maquininhas.

O Ton, solução da Stone voltada a microempresários e autônomos, começou a oferecer a opção de pagamentos em cartão via celular há quase um ano, em agosto de 2021. Augusto Lins, presidente da companhia, explica que, desde então, a empresa focou em aprimorar a tecnologia do aplicativo e a experiência do usuário. Agora, a ideia é dar escala ao produto.

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Entre as evoluções está o fim do limite do valor por transação, que antes era de R$ 200. Além disso, no início só eram aceitas as bandeiras Visa e Mastercard e, mais recentemente, foram incluídas também Elo e American Express. Lins destaca ainda que a companhia notou a necessidade de apresentar o produto e ensinar os usuários a utilizá-lo. “Há um aprendizado importante. A gente percebeu que pagar no telefone não é intuitivo, demanda uma mudança de hábito dos consumidores e dos lojistas. É por isso que estamos investindo em divulgação.”

A campanha da Stone, que ficará no ar até o fim de agosto, terá como protagonista o cantor Xand Avião e será veiculada na TV, redes sociais, rádio e streaming de músicas. Também haverá divulgação em transporte coletivo e aeroportos e serão feitas ações com cerca de 50 influenciadores digitais.

As soluções que permitem receber pagamentos por cartão em celular usam a tecnologia Near Field Communication (NFC), que viabiliza os pagamentos por aproximação, e representam uma tendência crescente no mercado. São aceitos pagamentos via celular, cartões e relógios inteligentes que possuem NFC.

A SumUp, fintech global de pagamentos focada em microempreendedores e profissionais autônomos, acaba de lançar sua ferramenta de pagamentos via celular, o SumUp Tap, e acredita que a novidade deverá beneficiar empreendedores que ainda não aceitam cartão porque não querem ou não podem arcar com os custos da aquisição de uma maquininha.

Além disso, o cliente não precisará mais esperar o dispositivo físico chegar para começar a aceitar os pagamentos. Segundo a companhia, a nova função deve ajudar clientes a reduzir custos operacionais. “É mais uma solução que vem agregar ao portfólio, seja para o pequeno empreendedor, aquele que não quer ter a maquininha, ou aquele cliente um pouco maior que vai usar a funcionalidade junto com a maquininha”, diz Ana Pavoni, diretora de produto da fintech.

O produto, que já está em funcionamento em outros países em que a SumUp atua, como na Europa, está sendo testado e, nas próximas semanas, será lançado para toda a base de clientes. Em um primeiro momento, o valor máximo de cada transação será de R$ 200.

Para Lins e Pavoni, o fato de só serem aceitos pagamentos por aproximação não deve ser um entrave para o crescimento desse tipo de solução. A diretora da SumUp diz que a pandemia acelerou o processo de utilização dos pagamentos sem contato. “Se fosse há três anos, eu falaria que não ia dar certo, que muita gente não saberia usar. Mas é muito interessante ver o que aconteceu no mercado nesse período. Demos um grande passo em tecnologia e aceitação.”

De acordo com números da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os pagamentos por aproximação somaram R$ 103,2 bilhões no primeiro trimestre de 2022, uma alta de 456% sobre o mesmo período do ano passado. A expectativa da entidade é que esses números continuem crescendo e que, ainda neste ano, em torno da metade das transações presenciais seja sem contato.

Por outro lado, ainda há um volume considerável de cartões no país que não têm tecnologia NFC, além de usuários não adeptos da modalidade. A Pesquisa Nacional de Cartões de Crédito (PNCC), feita pela CardMonitor e pelo Instituto Medida Certa, mostrou que 60% dos clientes de bancos dizem que seus cartões têm tecnologia “contactless”. No caso de cartões de loja, o percentual é bem menor, de 38,1%.

João Manoel de Lima Junior, professor e coordenador do Núcleo de Estudos Avançados de Regulação do Sistema Financeiro Nacional (Neasf) da FGV Direito Rio, acredita que soluções como as que viabilizam o recebimento de pagamentos via celular devem ganhar espaço no mercado, na medida que estão se popularizando cartões e outros instrumentos de pagamento por aproximação.

Ele pondera que, no contexto brasileiro, os principais entraves à disseminação desses produtos são culturais, como, por exemplo, a falta de confiança do consumidor em utilizá-los, além de diferenças regionais e geracionais.

No longo prazo, o pesquisador vê um cenário de substituição significativa de maquininhas por outros métodos de captura, como celulares. “Trata-se apenas de mais um ciclo de inovação tecnológica, da mesma forma que os dispositivos atuais substituíram as maquinetas decalcadoras com papel carbono”, diz, acrescentando que isso representa “uma mera substituição de suporte físico”. “São os mesmos players, nada muda na cadeia de pagamento.”

Lins, da Stone, diz que o brasileiro vem se adaptando bem às mudanças de tecnologia e que, assim como não foi preciso esperar todo mundo ter cartão para disponibilizar a maquininha, não é preciso esperar toda a população ter acesso à tecnologia NFC para lançar novos produtos.

A Stone não abre os números de clientes que já aderiram ao TapTon, mas o presidente diz que já são “dezenas de milhares” e o objetivo é “multiplicar” esse volume em muitas vezes. Lins afirma que, com um investimento de mais de R$ 10 milhões, a companhia foi a primeira no país a lançar o produto e está “dois anos à frente” da concorrência, “seja na parte de refinar a tecnologia ou entender hábitos de consumo e usabilidade”.

Por ora, a opção está sendo disponibilizada a microempreendedores, mas a companhia vê potencial também na oferta para outros grupos, como grandes varejistas. A ferramenta pode ser útil, por exemplo, nos casos em que o vendedor tem o aplicativo de venda nas mãos, mas, na hora de pagar, o cliente precisa ir ao caixa. A ideia é colocar a funcionalidade dentro dos celulares de venda. O presidente da Stone observa, no entanto, que, nesse caso, há um desafio adicional, por serem necessárias integrações específicas com cada sistema. “Estamos fazendo a primeira prova de conceito, para depois fazer a integração. É algo que deve ficar para o ano que vem.”

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